'Índice de Valores Humanos': Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento lança hoje no Brasil indicador inédito no mundo
Na sequência do que em Fevereiro se referia aqui, no Conexão, leio hoje na Agência Brasil:
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) lança hoje (10) o Índice de Valores Humanos (IVH), juntamente com o rascunho do Caderno 3 do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasileiro 2010. Será às 13h, na sede do programa, no Setor Sudoeste em Brasília.
Inédito no mundo, o IVH trabalha as mesmas dimensões do Índice de Desenvolvimento Humano, mas é mais qualitativo, com foco nos processos de desenvolvimento e em indicadores que são vividos pelas pessoas no seu dia a dia.
[ACTUALIZAÇÃO]
Economista Flávio Comim, coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud
por Gilberto Costa
O IVH – que mede a percepção das pessoas sobre saúde, educação e trabalho – constatou que as pessoas mais pobres são menos bem atendidas nos hospitais e postos de saúde, têm as expectativas mais baixas quanto à educação e as piores vivências no trabalho
Ao lançar ontem (10) mais um indicador social, o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) confirmou características já constatadas da sociedade brasileira em outras avaliações: as pessoas mais pobres e menos escolarizadas são menos bem atendidas nos hospitais e postos de saúde, têm as expectativas mais baixas quanto à educação e experimentam as piores vivências no trabalho.
O indicador é o Índice de Valores Humanos (IVH), que mede a percepção das pessoas sobre saúde, educação e trabalho e tenta dar uma dimensão mais “subjetiva” às avaliações que o Pnud já faz com o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O IDH é calculado com base em dados objetivos como a mortalidade infantil, alfabetização e renda, conforme explicou o economista Flávio Comim, coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud.
Segundo o programa da ONU, o IVH do Brasil é de 0,59. A escala varia de 0 a 1 e quanto mais próximo de 1 melhor a avaliação. O índice foi calculado a partir de uma pesquisa de opinião feita pelo Instituto Paulo Montenegro (ligado ao Ibope) com 2 mil pessoas, em 148 cidades de 23 estados e no Distrito Federal. Na Região Norte, o IVH é de 0,5; no Nordeste, 0,56; no Centro-Oeste, 0,58; no Sudeste e no Sul, 0,62.
O IVH também varia segundo a faixa de rendimentos individuais: é de 0,55 para quem recebe até um salário mínimo (R$ 510) e 0,71 para quem recebe de R$ 5.100 e R$ 10.200 (10 a 20 salários mínimos).
O índice também foi calculado, separadamente, em cada dimensão analisada. No IVH Saúde – feito com base nas opiniões sobre tempo de espera para o atendimento médico-hospitalar, linguagem utilizada e interesse da equipe médica – o índice nacional cai para 0,45. Na Região Norte, o IVH Saúde chega a 0,31. Quanto à faixa de renda, quem recebe até um salário mínimo tem as piores vivências: o índice é de 0,39. Quem recebe entre dez e 20 salários mínimos tem experiências melhores e o índice chega a 0,68.
Para 51% das pessoas entrevistadas, o atendimento é demorado; 37% avaliam que a linguagem médica é complicada e 33% opinam que há pouco interesse no atendimento. “O médico não precisa falar difícil”, observou Comim. O coordenador esclareceu que a pesquisa não analisa especificamente o atendimento prestado pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
Com relação ao trabalho, o IVH contabiliza 17 vivências positivas no ambiente de trabalho (como realização profissional) e 15 vivências negativas (como esgotamento emocional). O resultado nacional foi de 0,79; atingindo 0,84 no Sul; e caindo a 0,68 no Centro-Oeste. Entre as faixas de rendimento, o índice é de 0,72 para quem recebe até um salário mínimo e de 0,95 entre os que percebem mais de 20 salários mínimos.
Já a dimensão de educação teve menor variação: 0,54 no Brasil; 0,55 no Sudeste e Sul; caindo a 0,47 no Norte. Comim assinala que “a educação tem objetivos diferentes conforme o estrato social”. Segundo ele, para as famílias mais pobres, ao contrário das mais ricas e mais escolarizadas, conseguir um emprego após o ensino é mais importante que tornar-se um bom cidadão
Para o coordenador, o IVH, ao se basear em opiniões e experiências de entrevistados, serve para analisar processos e não apenas resultados das políticas públicas. Ele enfatiza que, além do governo, o índice mostra que famílias, professores e médicos, por exemplo, podem influenciar no desenvolvimento humano.
Ministério da Saúde critica o Índice de Valores Humanos do Pnud
O Ministério da Saúde divulgou nota criticando o Índice de Valores Humanos (IVH) apresentado ontem (10) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud). O órgão da ONU verificou em pesquisa de opinião que para 51% das pessoas entrevistadas no país o atendimento é demorado; 37% avaliam que a linguagem médica é complicada e 33% opinam que há pouco interesse das equipes médicas no atendimento.
Conforme esclareceu na apresentação do trabalho o coordenador do Relatório de Desenvolvimento Humano do Pnud, Flávio Comim, o estudo não avalia especificamente o atendimento prestado em hospitais e postos de saúde públicos (Sistema Único de Saúde – SUS). “Não estamos falando só de governo”, enfatizou o coordenador durante a exposição.
Ao avaliar a saúde (pública e privada) com base naquelas opiniões, Flávio observou que o IVH em todo o país é de 0,45; na Região Norte chega a 0,31 e entre os mais pobres (até um salário mínimo de rendimento individual) o índice é de 0,39. Conforme a metodologia, quanto mais perto de zero, pior.
O relatório analisa as políticas públicas e aponta alternativas para o Estado, a sociedade e as famílias, mas enfatiza que “de modo nenhum se sugere com isso que essas políticas sejam as únicas ou mais importantes”.
Apesar das ressalvas, o ministério criticou o indicador. “A avaliação do Ministério da Saúde é de que as perguntas escolhidas para o IVH Saúde são reducionistas, dada a complexidade do setor. As questões focam apenas em uma parte da atenção à saúde e não permitem um conhecimento sobre outros aspectos, como a relação entre o profissional de saúde e o indivíduo; a experiência dos profissionais; a solução dada ao indivíduo; o nível de satisfação com a atenção, entre outros valores”, diz a nota do Ministério da Saúde.
A análise do Pnud também inclui “vivências” e percepções sobre o trabalho e a educação de duas mil pessoas entrevistadas em 23 estados e no Distrito Federal. Os ministérios da Educação e do Trabalho e Emprego não se manifestaram sobre o IVH.
* jornalista da Agência Brasil
por Renata Camargo *
O Programa nas Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) lançou nesta terça-feira (10) um novo índice para medir o desenvolvimento no Brasil. O Índice de Valores Humanos (IVH), indicador inédito no mundo, vai mostrar a satisfação dos brasileiros em relação à saúde, educação e trabalho. A iniciativa segue na mesma linha da proposta de emenda à Constituição que pretende incluir na Carta Maior o direito à felicidade. Numa escala de 0 a 1, o Brasil obteve um IVH de 0,59. “Formalmente o índice de valores e o índice de felicidade não têm nada a ver. Mas a gente faz parte do mesmo movimento de pensar no desenvolvimento humano com qualidade. Há vários pontos em comum: a ideia de pensar os processos, de envolver as pessoas, de pensar multidimensionalmente. Essa busca por qualidade é sinal do tempo que a gente está vivendo”, disse o coordenador do Relatório do Desenvolvimento Humano (RDH) brasileiro, Flávio Comim, responsável pelo IVH.
Para Comim, a mensagem principal do relatório do IVH é que políticas de valor – ou seja, aquelas que envolvem estratégias de formação ou de mudança de valores – são importantes para a melhoria da qualidade da educação, da saúde, das relações no trabalho e fundamentais para reduzir a violência no país. Segundo o coordenador, o índice não terá apenas o objetivo de traçar recomendação para elaborar políticas públicas governamentais, como também servirá de base para o dia-a-dia do cidadão.
“Com o IVH, nós damos aos cidadãos as informações para que eles possam saber o que demandar e como atuar. Na prática, o que fazemos é uma sistematização de algo que a gente já sabe, só que nunca foi dito que valores são importantes”, disse Flávio. “É importante salientar que, quando falamos de políticas de valor, não estamos falando de grandes políticas governamentais, mas da política do dia-a-dia que o cidadão faz para melhorar a educação, a saúde e o ambiente de trabalho”.
Tempo na fila
O tempo de espera de atendimento em postos de saúde é elevado? Qual o grau de prazer e de sofrimento no trabalho? Há respeito, tolerância e responsabilidade na escola? A educação serve apenas para abrir portas no mercado de trabalho ou serve para formar bons cidadãos? A resposta para essas e outras perguntas podem ser encontradas a partir da pesquisa do Índice de Valores Humanos.
Para elaborar o IVH, o PNUD realizou uma pesquisa com 2002 pessoas, em 148 cidades do país, em 24 estados. Foram aplicados questionários que pediam o relato das vivências pessoas de cada um na saúde, na educação e no trabalho. O principal resultado da pesquisa mostra que o IVH do Sul e do Sudeste do país é superior ao IVH do Norte e do Norte do país, onde os brasileiros esbarram em mais dificuldades.
“O baixo valor da região Norte pode ser atribuído principalmente à dimensão de saúde: o IVH-S da região Norte é de apenas 0,31, valor 0,14 pontos inferior à média nacional, indicando piores vivências dessa população com o seu sistema de saúde. Essas piores vivências são um indicativo de baixos níveis de respeito nos processos de busca por saúde”, revela o relatório do PNUD.
De acordo com a pesquisa, 66,9% dos entrevistados consideraram o atendimento de saúde demorado na região Norte. Na região Sudeste, esse percentual é de 43,1%. Proporções semelhantes aparecem no indicador de valores humanos na dimensão da educação. Segundo o PNUD, 40,4% dos entrevistados no Norte do país consideram que educação serve para ingressar no mercado de trabalho, enquanto a maioria dos entrevistados nas demais regiões do país consideram a educação importante para formar bons cidadãos.
“Pensar valores e pensar desenvolvimento de maneira nenhuma tira a importância dos recursos que se deve aplicar na saúde, na educação e na própria promoção do crescimento econômico do país. Quando um professor decide chamar o aluno por um número e não pelo nome, isso não depende de recursos. Da mesma forma, quando um chefe insulta ou ofender seu empregado. Pensar valor é pensar a qualidade na qual esses valores influenciam na vida das pessoas”, concluiu Flávio Comim.
* jornalista do Congresso em Foco
PRINCIPAIS NÚMEROS
Resultado da avaliação do IVH no Brasil
O IVH geral do país
IVH geral = 0,59
IVH da Saúde =0,45
IVH da Educação = 0,54
IVH do Trabalho = 0,79
O IVH geral das regiões
Sudeste = 0,62
Sul = 0,62
Centro-oeste = 0,58
Nordeste = 0,56
Norte =0,50
Média do Brasil = 0,59
Leia aqui os resultados preliminares do relatório do Índice de Valores Humanos do PNUD
Região Norte vai mal no Índice de Valores Humanos (IVH)
Dados sobre o novo índice do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil foram divulgados ontem (10) Mais de dois terços (66,9%) dos moradores da Região Norte consideram o tempo de espera por atendimento de saúde elevado e quase metade (44,6%) acha que a linguagem dos profissionais da área é difícil de entender.
A constatação faz parte do Índice de Valores Humanos (IVH), indicador inédito no mundo, elaborado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento no Brasil (PNUD Brasil) e divulgados nesta terça-feira (10). Ele retrata as vivências dos brasileiros nas áreas de saúde, educação e trabalho e faz parte da versão inicial do terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano (RDH) Brasil 2009/2010 begin_of_the_skype_highlighting 2009/2010 end_of_the_skype_highlighting.
"O novo índice busca dar materialidade à discussão sobre a importância dos valores para o desenvolvimento humano", afirma o coordenador do RDH, Flávio Comim. "O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) concentra-se nos resultados. O IVH desloca a atenção para os processos que levam a um pior ou melhor desenvolvimento humano. Os dois índices são complementares", acrescenta, citando índice criado em 1990 e calculado em mais de 180 país que também leva em conta categorias como saúde, educação e trabalho.
Os dados foram coletados em pesquisa feita no início deste ano pelo Instituto Paulo Montenegro, ligado ao Ibope, com 2.002 entrevistados em 148 municípios de 24 unidades da Federação. Os valores abordados estão entre os destacados na pesquisa Perfil dos Valores dos Brasileiros, que fez parte do segundo caderno do relatório: respeito, liberdade, reciprocidade e convivência.
A elaboração do IVH partiu do conceito de que os valores são formados a partir das experiências das pessoas - por isso, o índice capta a percepção dos indivíduos sobre situações vivenciadas no dia a dia.
Índice sobre Educação no Norte aponta que o importante é 'emprego'
O novo Índice de Valores Humanos (IVH), divulgado nesta terça-feira (10) pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) foi calculado não apenas para o Brasil como um todo, mas para cada região do País. As regiões Sudeste e Sul, justamente as regiões com maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), lideram o ranking do Índice de Valores Humanos, com 0,62 (o índice vai de 0 a 1). Em seguida, vêm Centro-Oeste (0,58), Nordeste (0,56) e Norte (0,50).
No IVH-Saúde, a média brasileira de 0,45 é superada por Sudeste (0,51), Centro-Oeste (0,48) e Sul (0,47). O Norte é, novamente, a região com menor valor (0,31), seguido do Nordeste (0,36). Mais de dois terços (66,9%) dos moradores do Norte avaliam, por exemplo, que o tempo de espera por atendimento de saúde é elevado, e quase metade (44,6%) consideram que a linguagem dos profissionais da área é muito difícil.
Na dimensão educação, as diferenças são um pouco menores, com exceção da região Norte. A média brasileira do IVH-Educação (0,54) é superada por pouco no Sudeste (0,55), no Sul (0,55), coincide com a do Centro-Oeste e fica pouco acima da do Nordeste (0,53). No Norte, o valor é 0,47. Nessa região, “a maior parte da população (4,4%) considera que o mais importante a ser ensinado às crianças são conhecimentos para obter um bom emprego”, destaca o relatório.
No IVH-Trabalho, o Sul é que se saiu melhor (0,84), seguido do Sudeste (0,80). Nordeste (0,78) e Norte (0,74) não ficam muito longe da média brasileira (0,79). O pior nessa dimensão é o Centro-Oeste (0,68), região em que há mais relatos de vivências no trabalho relacionadas a sofrimento.
Calculado para diferentes grupos de renda e de nível de escolaridade, o IVH contraria a desconfiança de que os mais pobres ou menos escolarizados tendem a ser mais condescendentes. Pelo que sinaliza o índice, há uma tendência, ainda que nem sempre linear, de que as vivências positivas sejam mais frequentes nos grupos com mais renda e educação. “As pessoas mais pobres e com menos educação não indicaram que tudo está bem. Pelo contrário, elas confirmaram a hipótese de que a pobreza e a exclusão impõem penalidades dobradas a elas”, afirma o relatório
publicado no jornal A Crítica
Cf. também:
- 03/08/2010 - PNUD divulgará índice de valores humanos
Indicador inédito será apresentado em Brasília na próxima terça, com terceiro caderno do Relatório de Desenvolvimento Humano Brasil - 10/08/2010 - Novo indicador do RDH retrata vivências
no trabalho, na educação e na saúde
IVH (Índice de Valores Humanos), calculado para o Brasil e as cinco regiões do país, é inédito no mundo e tem escala igual à do IDH - 10/08/2010 - Políticas de valor têm de incluir cidadão
Para promover valores, é preciso que as pessoas participem da elaboração e da implementação das estratégias, defende relatório - 10/08/2010 - Perguntas e respostas sobre o IVH
Tire dúvidas sobre o Índice de Valores Humanos, que avalia
valores fundamentais para o desenvolvimento humano
# Site Oficial: PNUD Brasil - Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
O novo Índice de Valores Humanos (IVH), formado pela média nas áreas de Educação, Trabalho e Saúde apresenta os piores números neste último. Numa escala de 0 a 1, o IVH Saúde ficou com 0,45, contra 0,54 do IVH Educação e 0,79 do IVH Trabalho.
O resultado provocou reacção imediata das entidades competentes.
O Ministério da Saúde do Brasil divulgou uma nota oficial ressaltando que o IVH "não é um índice de avaliação de políticas públicas" e que "as perguntas escolhidas para o IVH Saúde são reducionistas".
Para o Ministério, a pesquisa usada para elaborar o IVH “deve ser relativizada na capacidade de contribuir na avaliação do setor”. Os números do índice foram rebatidos citando dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, de 2008, que revelou que 86,4% dos entrevistados que haviam utilizado o serviço de saúde nas duas semanas anteriores ao levantamento consideraram o atendimento “bom ou muito bom”.
Abaixo, na íntegra, a nota do Ministério da Saúde
12/08/2010 , às 15h12Sobre o novo índice (IVH) do PNUD
O Ministério da Saúde considera o índice metodologicamente frágil, com perguntas reducionistas. Veja o porquê.
Em relação ao Índice IVH Saúde, divulgado nesta terça-feira pelo PNUD, o Ministério da Saúde entende que:
1) O novo índice criado pelo PNUD, o chamado IVH (Índice de Valores Humanos), não é um índice de avaliação de políticas públicas, uma vez que não distingue a assistência realizada pelo sistema privado da realizada pelo sistema público. O relatório se refere a percepções sobre uma ampla gama de ações e serviços realizados por indivíduos e organizações.
2) A análise da metodologia apresentada para o cálculo do índice traz alguns questionamentos. O principal deles é relacionado às perguntas feitas aos cidadãos nas três esferas estudadas (saúde, educação e trabalho).
As questões de saúde avaliadas foram: 1) tempo de espera para ser atendido; 2) avaliação da linguagem dos profissionais de saúde; e 3) interesse da equipe médica para com os indivíduos.
Estas perguntas estão direcionadas a avaliar os serviços que estão sendo ofertados, sejam públicos ou privados.
Na área da educação e do trabalho, ao contrário, são questões subjetivas, relacionadas a sentimentos (ex: influência da família na educação dos filhos, qualidades que devem ser ensinadas aos filhos, realização profissional, bem estar, liberdade de expressão).
3) Portanto, as dimensões dos indicadores não são comparáveis. Ou seja, não é possível comparar o IVH da saúde com os outros e concluir, por exemplo, que os valores no trabalho são melhores que na saúde.
4) Além disso, a avaliação do Ministério da Saúde é de que as perguntas escolhidas para o IVH Saúde são reducionistas, dada a complexidade do setor. As questões focam apenas em uma parte da atenção à saúde e não permitem um conhecimento sobre outros aspectos, como a relação entre o profissional de saúde e o indivíduo; a experiência dos profissionais; a solução dada ao indivíduo; o nível de satisfação com a atenção, entre outros valores.
Por exemplo: o tempo de espera nos serviços de saúde é completamente diferente em função da sua complexidade, fluxo e missão do serviço. O estudo não atribui uma questão objetiva e comparável, que é “quanto tempo se esperou?”. Também não incluir a questão se o usuário foi atendido no primeiro serviço, ou não; se foi encaminhado de forma responsável para outro serviço; e, o principal, se teve o seu problema resolvido e sua avaliação do atendimento.
Sem estas dimensões, a pesquisa se torna vazia de sentido e deve ser relativizada sua capacidade de contribuir na avaliação do setor.
5) Em suma: construir um índice com base em aspectos subjetivos em algumas dimensões e objetivos em outras, a partir de categorias como valores humanos, e padronizá-los de 0 a 1 sem ponderação pode enviesar e distorcer os resultados e dificultar sua interpretação.
6) Pesquisas mais amplas e voltadas especificamente para avaliação de satisfação de usuários dos serviços de saúde mostram índices muito diferentes do apontado pelo IVH.
O suplemento de saúde da PNAD 2008 (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do IBGE, trouxe resultados muito positivos em relação ao acesso, cobertura e satisfação da população com os serviços de saúde no Brasil, também sem distinção entre o público e o privado. O estudo, que utilizou uma amostra de cerca de 340 mil pessoas, revelou que 86,4% dos entrevistados que haviam utilizado o serviço de saúde nas duas semanas anteriores ao levantamento consideraram o atendimento “bom ou muito bom”. Além disso, 95% das pessoas foram atendidas na primeira tentativa.
A pesquisa também mostrou que 73,6% da população normalmente utilizavam o mesmo serviço de saúde quando precisavam de algum novo atendimento, sendo o posto ou centro de saúde o local mais procurado.
7) Por fim, é importante ressaltar que o tempo de espera de atendimento — questão utilizada pelo estudo—, é foco prioritário da atual gestão do Ministério da Saúde. A organização e integração dos vários níveis de atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) é a principal estratégia para reduzir o tempo de espera por atendimento na rede pública. Primeiro, reforçamos a Estratégia Saúde da Família, fortalecendo-a como porta de entrada do cidadão na rede pública. As equipes de Saúde da Família orientam os cidadãos na prevenção de doenças e promoção de saúde.
Em 2003, a pasta criou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), para atender casos de emergência, levando os pacientes para o atendimento mais adequado. Em junho de 2010, 1.521 ambulâncias do SAMU estavam em circulação no País. Além disso, o Ministério da Saúde liberou, até abril deste ano, R$ 729,4 milhões para construir 378 UPAs (Unidades de Pronto Atendimento) em 322 municípios brasileiros e comprar os equipamentos. Onde existem UPAS, há menos filas nos hospitais. No Rio de Janeiro, por exemplo, 99,3% dos casos são solucionados na própria unidade – sem a necessidade de transportar o paciente ao hospital.
Esses esforços já mostram resultados: segundo a PNAD 2008, a maioria dos cidadãos (56,8%) que vão regularmente ao médico procura diretamente o posto de saúde, invertendo a tendência do passado, quando a principal porta de entrada para o sistema eram os hospitais.
Na íntegra também a nota emitida pelo Conselho Federal de Medicina:
Qua, 11 de Agosto de 2010 14:43A divulgação do Índice de Valores Humanos (IVH) de Saúde, pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), recebeu críticas do Conselho Federal de Medicina (CFM). Em nota distribuída nesta quarta-feira (11), a entidade questiona a formulação do instrumento de avaliação, que está suscetível a distorções em sua leitura e aplicabilidade. O CFM aproveita para ressaltar a defesa na implementação de políticas públicas que garantam a melhora do exercício da Medicina e a qualidade da assistência.Nota de Esclarecimento sobre o IVH-SaúdeCom relação ao Índice de Valores Humanos (IVH) de Saúde divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), o Conselho Federal de Medicina (CFM) vem a público informar que:
- A produção de indicadores é ferramenta importante na avaliação do desempenho de ações, programas e políticas públicas, bem como da qualidade dos serviços prestados. No entanto, a formulação desses instrumentos deve estar atenta aos possíveis vieses que comprometem seus resultados e sua aplicabilidade;
- No caso o IVH-Saúde, peca ao desconsiderar aspectos da gestão dos serviços de assistência, sendo que seu questionário acaba por limitar a um momento específico do processo de atendimento a responsabilidade pela baixa satisfação dos usuários;
- No Brasil, o desempenho dos médicos sofre a conseqüência de investimentos reduzidos e de problemas de gerenciamento em todas as esferas, especialmente a pública. Sendo assim, a ausência dessas dimensões na formulação do IVH-Saúde contribui para uma percepção distorcida da qualidade da assistência e do papel do profissional neste contexto;
- Os médicos – por meio do CFM – têm chamado a atenção dos gestores públicos de forma constante para a importância de se solucionar aspectos chaves na oferta de serviços, seja no Sistema Único de Saúde (SUS), seja no campo da Saúde Suplementar (planos e operadoras);
- Em Manifesto à Nação, divulgado recentemente, os médicos apresentam seu diagnóstico para as dificuldades históricas percebidas e elencam suas propostas de soluções, sem as quais o caos na assistência deve se ampliar, comprometendo a saúde da população e o exercício da Medicina;
- Os médicos cobram mais recursos para a Saúde; o fim das distorções no campo da Saúde Suplementar (defasagem nos honorários, as restrições de atendimento, os descredenciamentos unilaterais, etc.) que trazem insegurança e desqualificam o atendimento; o estabelecimento de uma política adequada de recursos humanos para acabar com contratos precários, inexistência de vínculos, sobrecarga de trabalho e ausência de estrutura mínima que impedem que o acesso do cidadão ao atendimento que merece e tem direito, entre outros pontos;
- O Brasil precisa acabar com as filas de espera por consultas, exames e cirurgias, com o sucateamento dos hospitais e o estrangulamento das urgências e emergências, sem esquecer de repensar o papel do médico dentro do SUS e no setor suplementar, garantindo-lhe condições de trabalho, educação continuada e remuneração adequada;
- Enfim, num país de extensões continentais, torna-se imperativo trabalhar pela elaboração de políticas e programas de saúde que contemplem as diversidades regionais, sociais, étnicas e de gênero, entre outras, garantindo a todos os brasileiros acesso universal, integral e equânime à assistência, embasados na eficiência e na eficácia dos serviços oferecidos, convergindo em definições claras de políticas de Estado para a saúde.
Posted by por AMC
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essa coisa de viver em sociedade,
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