Sugestão de palco: Arrifana Sunsetfest 2010, no domingo 1 de Agosto

Repassando a nota que a organização acaba de fazer chegar aqui, ao Conexão:

No dia 1 de Agosto as portas abrem‐se para um cenário de uma beleza natural incrível, que não deixa ninguém indiferente. Uma fusão harmoniosa entre música e meio ambiente tem como palco o Portinho da Arrifana, em Aljezur, um dos mais belos e emblemáticos locais da Costa Vicentina. O Arrifana Sunsetfest surge como um seguimento da Festa dos Pescadores, celebrada a 31 de Julho, durante a qual é feita a Benção dos Barcos seguida de uma sardinhada e bailarico. É neste ambiente que mistura tradição e modernidade, hábitos e estilos de vida, que decorrem dois dias de grande festa, que tem cativado e fidelizado quem por cá passa. Trata‐se de uma Festa/Festival que, ano após ano, tem ganho uma crescente visibilidade e protagonismo como um dos acontecimentos do verão da Costa Vicentina.
O Arrifana SunsetFest mantem‐se fiel à matriz que o caracteriza desde o 1º evento: é uma festa com música ao vivo, com início ao por‐do‐sol.

Os organizadores sublinham o «crescimento sustentado» do evento e garantem ter consciência de que este se insere «numa zona de enorme sensibilidade ambiental». Dizem ainda que, por essa razão, têm desenvolvido várias iniciativas para «minorar o impacto ambiental» causado. Referem-se à colocação de eco-pontos no recinto, aludem ao discurso de sensibilização dos próprios artistas e falam de acções de limpeza de praia combinadas com associações de cidadãos.
Perdi a conta dos festivais a que assisti dentro e fora de Portugal. Entre eles somam-se vários sob o mote 'eco'. Sinto reportar, mas em todos eles a devassa deixada para traz após a passagem dos festivaleiros é de fazer dó. Em alguns casos a raiar o inimaginável e a deixar atónito qualquer um que tenha comprado a ideia como elegia às causas da sustentabilidade. Quero crer que a organização procederá de forma exemplar depois que as luzes se apagarem e o palco se calar. Quero crer que não levantará a tenda armada a toda a velocidade, na pressa de levantar âncora atrás dos camiões e demais staff.
Há anos que apoio a realização de festivais e, dentro daquilo que profissionalmente me é possível, faz muito tempo que procuro dar suporte à sua divulgação. Prezo e desde a primeira hora que não me canso de defender a importância do espaço de multiplicidades e diversidades que os festivais promovem. Fiel a essa convicção, confesso todavia que em certos casos o meu coração se divide. Aconteceu-me recentemente, por exemplo, quando o Super Bock Super Rock escolheu o Meco para a realização deste ano. Volta a suceder-me agora.
A Arrifana é uma das mais belas e quase impolutas localidades da Costa Vicentina. Conheço-a de perto há décadas e sei do que falo. Conheço-a dos tempos em que o acesso às praias era ainda única e somente aquele que a Natureza se encarregara de esculpir nas falésias e arribas. E sei também o que fui observando com o transcorrer dos anos, à medida que os olheiros do turismo se foram encarregando de abrir trilhos de acesso, em nome do desenvolvimento da região. À presença remota dos primeiros hippies e surfistas, que só muito de onde em onde iam pontuando na paisagem, sucederam-se cada vez mais auto-caravanas e tendas de campismo selvagem, sempre (claro!) sob a bandeira ecológica dos que se dizem adeptos da preservação e dos cenários a salvo do veraneio das massas. Os resultados das enchentes começaram a ficar à vista de todos, especialmente quando Setembro chegava ao fim e todos esses 'amigos da natureza' regressavam ao seu quotidiano trancafiado no betão, sonhando com o Verão seguinte. De braço dado com todas estas pessoas, veio uma outra tribo: a das grandes unidades hoteleiras de luxo, interessadas em tirar partido das "excelentes características da região" e ajudar a "implementar estruturas potenciadoras ao seu desenvolvimento". Chamaram a isso "turismo de luxo" e só por esse motivo é que se colocavam nos antípodas da horda das tendas, sacos-cama e auto-caravanas.Mas no mais afirmavam-se exactamente iguais e afinado pela mesma cartilha ideológica: proporcionar qualidade mas com "responsabilidade". Acontece que após o assalto da década de 90 cedo se percebeu que quando estes empreendimentos turísticos de luxo falavam em "espalhar o verde", estavam a pensar numa profusão de greens de golfe, com todos os custos ambientais revelados por diversas entidades e estudos ambientais.
Eu bem sei que a organização do Arrifana Sunsetfest não mente quando lembra o «envolvimento essencial e inestimável» com que a comunidade local acolhe a iniciativa desde o primeiro instante. Apenas queria crer que isso fosse garantia suficiente de respeito por aquele lugar. Infelizmente é pouco e não chega para tranquilizar ninguém. O passado recente está, para tal, demasiado recheado de exemplos em que os próprios algarvios foram os primeiros a sacrificar a sua região em nome do progresso, vendendo ao desbarato e para as finalidades mais atrozes as terras que eram as suas, de início em troca de quantias miseráveis, mais tarde por somas chorudas.
Sei bem que a iniciativa tem, no seu núcleo duro, gente com passado no surf e provas dadas de amor às praias, às ondas e ao mar. Que esse toque de compromisso seja visível na 2ª feira de manhã e que a Arrifana amanheça sem outras marcas da passagem do evento e dos festivaleiros que não as que a música tem por hábito deixar nas almas, nas cabeças e nos corações múltiplos que a ela atendem.
Se assim for, terão provado que a verdadeira reverência e solenidade diante da Natureza consegue fazer mais por um festival do que a maior experiência do mundo na promoção de artistas, o curriculum mais extenso e as credenciais mais lustrosas que ao cardápio de organização de festivais dizem respeito.
Posto isto: cumpre anunciar que as portas do recinto abrem às 19h e que ficou assim alinhada esta 6ª edição:

Welcome party SSystem

• 20:30 h Palco 1 – 3 pistas OIOAI ( PT) / Marcos Bifão (BR)
• 22:00h SSystem
• 22:30H Palco 2 – Rão Kyao
• 00:00h SSystem
• 00:30h Palco 1 – Frankie Chavez
• 02:00h SSystem
• 02:15 Palco 2 – Quaiss Kitir
• 03:30 Dj`s Set