Aqui na Universidade, plantaram um ecrã gigante no pavilhão desportivo para que a comunidade académica se pudesse juntar em êxtase colectivo à volta da selecção. Êxtase, só com o remate de Cristiano e com a reacção de Drogba. Depois desse momento…, com duas equipas a jogar para o empate, dificilmente se animam os ânimos.
Mas não é sobre o jogo que quero escrever. A meio da primeira parte, o meu telefone começa a tocar. Quem é que seria suficientemente desligado para me ligar nesse momento? Atendo, é uma jornalista de um conhecido jornal económico, que, ocasionalmente, me telefona a pedir comentários sobre assuntos da actualidade macroeconómica. Respondi-lhe, xxx, por favor, falamos depois. Professor desculpe, não queria incomodar, mas tenho mesmo de falar consigo, já telefonei a imensos economistas e nenhum atende o telefone. xxx, quer falar da situação espanhola? Depois do jogo, por favor, durante estes 90 minutos não me consigo imaginar falar de Espanha.
Mais tarde, depois do soporífico jogo, falei com xxx. Disse-me ela que não tinha conseguido falar com nenhum economista para comentar o assunto. Repito, com nenhum economista. Apenas conseguiu falar com uma economista. Coincidência ou não, apenas uma mulher se tinha mostrado disponível para falar sobre o assunto durante o jogo.
Ontem, o Jornal de Negócios fazia capa com um estudo que concluía que a economia portuguesa é a que mais perde durante os jogos da selecção. Quase que aposto que esse estudo não teve em conta as altas taxas de participação laboral feminina em Portugal. Se tivesse tido isso em conta, com certeza que teria concluído o oposto.

PS - Não sei se terá sido coincidência ou não. Mas vale a pena sublinhar. Quem me telefonou porque tinha um artigo de jornal para escrever foi uma jornalista e não um jornalista.