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O Adeus a Saramago

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O corpo do escritor em câmara ardente na Câmara de Lisboa
Reuters
Desde o início da tarde que os restos mortais de José Saramago se encontram no salão nobre da Cãmara Municipal de Lisboa. O corpo do escritor ficará em câmara ardente às 11h00 de amanhã, hora em que se celebrará uma cerimónia civil. Têm sido muitas as pessoas que fazem fila à porta dós Paços do Concelho para prestarem a última homenagem ao Nobel da Literatura.

Portugueses despedem-se de  José Saramago
João Lima

O caixão, coberto com a bandeira portuguesa, chegou por volta das 15h30 e foi recebido com aplausos. Na fachada do edifício, duas grande fotos do escritor e a frase "Obrigado, Saramago". Entre as muitas coroas de flores recebidas, destaque para duas, enviadas por Raul e Fidel Castro.

A coroa de flores enviada por  Fidel Castro
A coroa de flores enviada por Fidel Castro
Reuters

Portugueses despedem-se de  José Saramago
Paulo Petronilho

Pilar del Río com a ministra  da cultura espanhola, Gonzalez Sinde
Pilar del Río com a ministra da cultura espanhola, Gonzalez Sinde
Reuters

O corpo de José Saramago será cremado, amanhã, no cemitério do Alto de São João e as cinzas ficarão em Portugal, por vontade expressa do escritor. 

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O caixão na chegada ao cemitério do Alto de São João
Campiso Rocha
Desde que o corpo de José Saramago chegou ontem aos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Lisboa que diversas pessoas, figuras incontornáveis de Portugal, mas também pessoas anónimas, fizeram questão de dirigir-se ao local para prestar uma última homenagem ao escritor.

Violante Saramago Matos,  Pilar del Rio e Irene Lima na varanda dos Paços do Concelho
Violante Saramago Matos, Pilar del Rio e Irene Lima na varanda dos Paços do Concelho
Campiso Rocha
Esta manhã, familiares, amigos e algumas das principais personalidades da cultura e da política nacionais assistiram a uma cerimónia que contou com os discursos do presidente da autarquia, António Costa, do representante da Fundação José Saramago, Carlos Reis, do líder do PCP, Jerónimo de Sousa, da vice-presidente do Governo espanhol, María Teresa Fernández de la Vega, e da ministra da Cultura, Gabriela Canavilhas, seguidos da interpretação de duas peças clássicas pela violoncelista Irene Lima.

O caixão à saída dos Paços do Concelho de Lisboa
O caixão à saída dos Paços do Concelho de Lisboa
Paulo Petronilho
Pouco antes da urna coberta com a bandeira nacional abandonar o local rumo ao cemitério do Alto de São João, a mulher de José Saramago, Pilar del Rio, e a filha, Violante Saramago Matos, subiram à varanda dos Paços do Concelho para agradecer às pessoas presentes na Praça do Município.

Violante Saramago Matos e  Pilar del Rio
Violante Saramago Matos e Pilar del Rio
Paulo Petronilho
Já no Alto de São João, mais algumas centenas de pessoas aguardavam a chegada do carro fúnebre, que transportou o corpo de José Saramago até ao crematório da capital. As cinzas do escritor ficarão agora na Casa dos Bicos, em Lisboa, como era seu desejo.
 
O caixão à saída dos Paços do  Concelho de Lisboa
O caixão à saída dos Paços do Concelho de Lisboa
Campiso Rocha

FOTOGALERIA: Restos mortais de José Saramago já estão em Lisboa

O corpo de escritor chegou num avião da Força Aérea ao Aeroporto de Figo Maduro.




fotos: Campiso Rocha

O corpo de José Saramago chegou sábado, pelas 12h30, ao aeroporto de Figo Maduro e vai ficar em câmara ardente no Salão Nobre da Câmara Municipal de Lisboa até por volta das 12h30 de domingo.
De acordo com o administrador da Fundação José Saramago, ao site do Público, o corpo do escritor será cremado no cemitério do Alto de São João, em Lisboa, e as suas cinzas ficarão em Portugal. "Será cremado cá e as cinzas ficam com Pilar del Rio. E o que ela me disse é que ficarão em Portugal", afirma José Sucena. Atualmente o corpo de José Saramago, que morreu hoje vítima de leucemia crónica, encontra-se na Biblioteca José Saramago, em Lanzarote.

FOTOGALERIA: José Saramago - O mais universal dos escritores portugueses

Recorde algumas imagens marcantes da vida do escritor.




fotos: Reuters

Morreu José Saramago

O Prémio Nobel da Literatura morreu hoje, aos 87 anos, na sua casa de Lanzarote, vítima de leucemia crónica. O corpo do escritor vai estar em câmara ardente na Biblioteca José Saramago, na localidade de Tías, na ilha de Lanzarote, a partir das 17 horas, hora de Lisboa. 
 foto: Reuters

O escritor José Saramago, Prémio Nobel da Literatura, morreu hoje, na sua casa de Lanzarote, vítima de leucemia crónica, segundo informou fonte da família à agência espanhola Efe. Saramago morreu às 12h30, quando se encontrava na companhia da mulher, Pilar del Río.
O escritor tinha passado uma noite tranquila. Depois de ter tomado o seu pequeno-almoço com normalidade e ter conversado com a sua mulher, começou a sentir-se mal e passado pouco tempo morreu, segundo explicaram à Efe as mesmas fontes.

José Saramago era a voz da gente anónima, simples, real, que se levanta na maioria das suas obras. Afinal, como escreveu no discurso de agradecimento do Nobel, "o homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever". Era o seu avô materno, Jerónimo Melrinho.
Nasceu no seio do povo, há 87 anos, e, apesar de conhecer as glórias do mundo, nunca renegou as origens. Era a voz da gente anónima, simples, real mesmo nas muitas incursões que faz pelo onírico que se levanta na maioria das suas obras. José Saramago nunca escondeu que detestava o lado vil da humanidade, mas amava profundamente o ser humano que não se perdeu dos valores fundamentais, e isso sente-se em cada livro seu, na forma como os seus protagonistas encerram quase sempre a sabedoria e a capacidade de transcenderem os mistérios da vida, adquirindo estatura de heróis no silêncio. Sobretudo as mulheres. Capazes de dar vida, de amar incondicionalmente, são sempre elas quem conhece o caminho da redenção e por ele conduzem os seus homens. É o caso de Maria Madalena, a mais pura de todas as pecadoras, em O Evangelho segundo Jesus Cristo (1991), o seu livro mais polémico, ou da clarividente mulher do médico de Ensaio sobre a Cegueira (1995).
Mas é em Memorial do Convento, o livro que em 1982 o consagrou definitivamente como um nome grande das nossas letras, que Saramago concebe uma das mais belas figuras femininas da literatura universal: Blimunda.
Nome estranho, poético, inesquecível, o dessa mulher doce, serena, profundamente humana mas quase sobrenatural, que vê através dos outros mas que se preserva no pudor, não devassando a interioridade do seu amado Baltasar. Blimunda é de tal forma marcante que a adaptação de Memorial do Convento a ópera recebeu o seu nome.
Da importância das mulheres na vida do próprio Saramago, no entanto, pouco se sabe, pois o escritor evita referências tanto a Ilda Reis, com quem se casou aos 22 anos e mãe da sua única filha, Violante, nascida em 1947, como à escritora Isabel da Nóbrega, com quem manteve uma relação durante 20 anos.
Em contrapartida, e sobretudo nos últimos anos, o escritor parecia ter necessidade de espalhar aos quatro ventos a felicidade que vivia com a jornalista espanhola Pilar del Rio, que conheceu em 1986 e com quem se casou em 1988. Ao contrário de Blimunda, Pilar é um nome muito comum no país vizinho, mas com muito de simbólico: a jornalista foi, de facto, o pilar na vida do escritor, que aos 64 anos fazia todos os fins de semana, de autocarro, o caminho de Lisboa a Sevilha para se encontrar com ela. "Se tivesse morrido aos 63 anos, antes de a conhecer, morreria muito mais velho do que o serei quando chegar a minha hora", escreveu Saramago. Violante, a filha, confirma que Pilar "o tornou mais acessível, mais aberto, capaz de derramar os sentimentos e de abandonar a sua habitual atitude de defesa". 
Inteligente, culta, serena e dona de um sorriso cativante, nos primeiros anos Pilar optou por um lugar à sombra.
Mas de repente, a 8 de Outubro de 1998, dia em que foi anunciado que Saramago era o Nobel da Literatura, viu-se atirada para a ribalta.Todos queriam saber mais sobre aquele homem e, como tal, sobre a sua mulher. Feliz por partilhar com ele esses momentos de festa, não se esquivou a fotos, entrevistas, câmaras de televisão, trocando gestos de ternura com o marido para o mundo que o aclamava ver. Mas também, como muitas das heroínas dos seus livros, ajudando-o a suportar o peso da responsabilidade.
José de Sousa Saramago nasceu a 16 de novembro de 1922, filho de José de Sousa, jornaleiro, e de Maria da Piedade, doméstica. Gente pobre, que foge à dureza da labuta no campo trocando a Azinhaga do Ribatejo natal por Lisboa, onde a vida em quartos alugados e águas-furtadas também não lhes sorri. José, que ficou filho único aos dois anos, quando Francisco, o irmão dois anos mais velho, morre de broncopneumonia, revelou desde cedo jeito para as letras, aprendendo a ler e a escrever com facilidade. Maria da Piedade, analfabeta, foi sensível a esse gosto do filho e aos 13 anos comprou-lhe o primeiro livro, O Mistério do Moinho, de J. Jefferson Farjeon.
Um ano antes, Saramago entrara para o Liceu Gil Vicente, mas, em 1934, devido às dificuldades económicas dos pais, muda-se para a Escola Industrial Afonso Domingues, onde, em 1939, acaba o curso de Serralharia Mecânica, que lhe vale o primeiro emprego nas oficinas do Hospital Civil de Lisboa. O trabalho braçal com que começa a garantir o seu sustento não lhe embota o desejo de aprender, e começa a frequentar, à noite, uma biblioteca, onde lê tudo o que pode.
E em 1942 José já ocupa um cargo nos serviços administrativos do Hospital, passando, no ano seguinte, para a Caixa de Abono de Família do Pessoal da Indústria da Cerâmica, que trocará pela Companhia de Seguros Previdente em 1950, três anos depois da publicação da sua primeira novela, Terra do Pecado. Em 1959 deixa os trabalhos administrativos, ocupando o lugar de editor literário na Editorial Estúdios Cor, onde já colaborava como produtor.
A partir daí, a sua atividade literária intensifica-se: colabora na revista Seara Nova, escreve crónicas para A Capital e o Jornal do Fundão e em 1972 entra como comentador político para o Diário de Lisboa, onde durante alguns meses coordena o suplemento cultural. Em abril de 1975 é nomeado diretor-adjunto do Diário de Notícias. Membro do Partido Comunista Português desde 1969, após o 25 de novembro é saneado, juntamente com grande parte da redação do DN. Na ocasião, sofre outro rude golpe, pois não recebe qualquer apoio do PCP, que o considera demasiado radical.
É quando fica desempregado que toma a decisão de se dedicar exclusivamente à escrita, garantindo, com traduções, um rendimento fixo.
Em 1976, e muito ao espírito pós revolução, Saramago muda-se para o Lavre, Montemor-o-Novo, onde convive intensamente com os trabalhadores da União Cooperativa de Produção Boa Esperança. Dessa experiência inesquecível nascerá o seu primeiro romance, Levantado do Chão, publicado em 1980, e onde se impõe com o seu estilo inovador, inconfundível e nem sempre bem digerido, mas que lhe vale o Prémio Cidade de Lisboa. Memorial do Convento vem confirmar um Saramago profundamente erudito, mas sempre próximo das origens, crítico de costumes, irónico e mordaz, mas capaz de lirismos comoventes, hiper-realista, mas sempre com um pé no realismo fantástico.
E disso é feita toda a sua ficção, que, além dos aclamados romances (da lista constam ainda O Ano da Morte de Ricardo Reis, A Jangada de Pedra, História do Cerco de Lisboa, Terra do Pecado e O Homem Duplicado), traduzidos um pouco por todo o mundo, inclui contos, novelas e várias peças de teatro, entre elas In Nomine Dei, para a qual Azio Corghi compôs um libreto para ópera, que, com o título Divara, se estreou em Münster, na Alemanha, em 1993.
Distinguida com alguns dos mais importantes prémios literários nacionais e internacionais, da obra de Saramago constam ainda três livros de poesia, um de viagens, Viagem a Portugal, e um diário, que vai já no quarto volume, Cadernos de Lanzarote.
Isto porque, na sequência do veto do Governo à candidatura de Evangelho segundo Jesus Cristo ao Prémio Literário Europeu, não conseguiu permanecer em Portugal, escolhendo Lanzarote, nas Canárias, para se refugiar, na companhia de Pilar, numa casa a que chamou simplesmente "A Casa".
Amado ou odiado, o mais premiado de todos os escritores portugueses criou um estilo único, que lhe valeu o reconhecimento um pouco por todo o mundo. E depois do Nobel tornou-se um herói nacional, mesmo para quem nunca leu uma linha sua.

As reações à morte de José Saramago

foto:Reuters
Lídia Jorge, escritora
"Apesar de tudo acho que morreu feliz porque escreveu até ao fim da vida, entregando-se sempre com a mesma coragem ao ofício que escolheu, e acreditando piamente nas suas convicções".

José Sócrates, primeiro-ministro
"Recebi a notícia da morte de José Saramago com muito pesar. Entendo que é uma perda para a cultura portuguesa. Os portugueses apreciaram muito a obra e a carreira de José Saramago, que deixou uma obra que orgulha o país. Foi um dos grandes vultos da nossa cultura e o seu desaparecimento torna a nossa cultura mais pobre."

Isabel Pires de Lima, ex-ministra da Cultura
"Um escritor marcante da segunda metade do século 20"

Carlos do Carmo, fadista
"É uma pessoa de quem gosto genuinamente, e sinto-me profundamente consternado (...) Estou bem mais pobre com a perda deste querido amigo".

José Eduardo Agualusa, escritor
"O que mais admirava em Saramago era a sua vitalidade e a sua combatividade de homem que acreditava em causas (...) Mudou a forma como a nossa língua passou a ser percebida em todo o mundo".
 
Mega Ferreira, presidente da Fundação do Centro Cultural de Belém
"É uma perda muito grande para a literatura portuguesa, não só porque era o primeiro prémio Nobel da Literatura português, mas também porque era um grande escritor e uma figura de grande coerência e frontalidade".
 
José Luís Peixoto, escritor
"Grande perda para a literatura e cultura portuguesa". "Tem lugar assegurado nos grandes nomes da literatura de sempre". "Deixa uma obra fundamental, com um retrato essencial do Portugal do século XX e da natureza humana. Por isso era tão lido".
 
Mário Cláudio, escritor
"É uma figura indiscutivelmente maior das nossas letras. Saramago vai durar o que durar a literatura portuguesa"
 
João Céu e Silva, jornalista
"Não era um homem de sorrisos. O ato de maior conciliação com Portugal, foi terem-lhe cedido a casa dos bicos para a Fundação. Quando foi visitar a obra, esteve aí uma hora com um sorriso nos lábios"
 
Carlos Reis, reitor da Universidade Aberta
"Saramago obriga-nos ao lugar comum e o lugar comum é este: é um escritor que mudou a literatura portuguesa e é um escritor que pôs a literatura portuguesa na cena internacional"
 
Mário de Carvalho, escritor
"Era muito atento aos escritores mais jovens e eram um homem sem prosápia ou vaidade de grande senhor. Foi um homem a quem o sucesso nunca subiu à cabeça, portou-se com a mesma modéstia e elevação de sempre (...) Por ventura o nosso maior escritor do século XX, que tem a particularidade de ser um século mais rico no tocante ao romance português"
 
Cavaco Silva, Presidente da República:
"Escritor de projeção mundial, justamente galardoado com o Prémio Nobel da Literatura, José Saramago será sempre uma figura de referência da nossa cultura (...) Em nome dos Portugueses e em meu nome pessoal, presto homenagem à memória de José Saramago, cuja vasta obra literária deve ser lida e conhecida pelas gerações futuras."

Teresa Caeiro, deputada CDS-PP:
"Saramago contribuiu para dignificar a Língua Portuguesa."

Diogo Infante, ator
"Estou naturalmente triste com esta notícia. A morte de Saramago é uma perda nacional. Quer se gostasse ou não da sua obra ele era um símbolo de unidade nacional. Tive a felicidade de o conhecer aquando da rodagem da Jangada de Pedra, um dos poucos romances dele adaptado ao cinema. Nessa altura ele foi almoçar connosco e tive oportunidade de trocar impressões com ele e conhecê-lo. Foi um prazer conhecê-lo. O país ficou definitivamente mais pobre com esta morte."

Francisco José Viegas, escritor
"Saramago foi um autor único e que marcou toda a literatura do século XX"

Mário Soares, ex-Presidente da República
"Na minha memória, ficou um grande escritor. Não tenho dúvida de que Saramago morreu pacificado com Portugal. Tínhamos uma relação muito cordial e simpática"

Carreira das Neves
"Era um bom homem, com as suas convicções, mas que tinha dentro dele as suas amarguras. A escrita era um dom, que foi aperfeiçoando."

Gabriela Canavilhas, ministra da Cultura:
"Uma profunda consternação e tristeza por ver desaparecer este tribuno da Língua Portuguesa. Teve uma grande capacidade de internacionalização da literatura portuguesa."

Bárbara Guimarães, apresentadora
"Conheci-o através da literatura, Memorial do Convento foi o primeiro de todos. Tive depois o privilégio de o conhecer, de conviver com ele e de o entrevistar, incluindo diversas vezes no Páginas Soltas. Era fascinante. Como se pode descrever alguém tão grande como José Saramago? Foi uma perda imensa para o país e para a literatura, porque ele nunca deixou de escrever..."
Cf também:

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