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Um fim-de-semana negro de mortes por afogamento no 'País dos Marinheiros'

Estive na praia este fim-de-semana. Em boa verdade, foram os primeiros dias de calor e Sol aqui, depois de um Inverno que se arrasta pesado e longo como há pouca memória, com semanas intermináveis de frio glaciar e chuvas torrenciais pouco vulgares no Portugal temperado a que estamos acostumados. Havia muita, mesmo muita gente. Nas estradas, nos parques de estacionamento e, sobretudo, no areal, deixando bom de ver que ao primeiro raio de Sol com mais fulgor a todos ocorreu uma só e mesma ideia: matar saudades da praia, convencer a alma de que há um Verão que finalmente se aproxima.
Ao fim da tarde, quando me meti de volta no carro para fazer o caminho de regresso a casa, a rádio já dava notícia de um rapaz de 17 anos que continua desaparecido na Costa da Caparica. Pela hora do jantar, as televisões somavam à tragédia a morte de um homem de 34 anos e de uma criança de 11. Ontem, afogaram-se um jovem de 20 anos e outro de 15, ambos na Póvoa do Varzim e uma adolescente de 16 anos encontra-se internada em estado grave num hospital do Porto.
Na Linha de Cascais a época balnear abriu no dia 16, mas na generalidade das praias, como na Costa da Caparica, por exemplo, só inaugura no dia 1 de Junho. Até lá não há vigilância. Entretanto, ao todo, este fim-de-semana fez quatro vítimas graves de afogamento e parece que este mês já quatro pessoas morreram só na zona de Lisboa.
Nas últimas horas e em sequência destas mortes, tanto a Federação Portuguesa de Concessionários de Praia como a Liga dos Bombeiros Portugueses e a Associação Nacional de Bombeiros Profissionais vieram defender (aqui e aqui) a necessidade de as praias serem vigiadas pelas estruturas de socorro mesmo fora da época balnear oficial. Objectivo: minimizar o impacto de comportamentos negligentes.
Como lembrava o comandante Nuno Leitão do Instituto de Socorros a Náufragos: «Estamos com um mar de Inverno, muito alteroso, com muitos agueiros, com temperaturas da água muito baixas e correntes fortes. Se os banhistas cumprirem com as recomendações, é certo que o número de mortes e acções de salvamento diminuem». De facto, os repórteres dos telejornais desdobraram-se a recolher testemunhos de outros banhistas e todos eram unânimes em referir não lhes parecer terem faltado meios de salvamento na resposta aos pedidos de socorro e em sublinhar que «os afogamentos acontecem porque há muita falta de cuidado das pessoas». Haja Deus que a emoção não retira às pessoas a capacidade de perceber o óbvio, pensei enquanto ia escutando os populares.
É que por mais sedentas que as pessoas andem de mar e areia, há uma insensatez que não colhe e dificilmente se consegue justificar. Era um mar picado, o deste fim-de-semana, como quem foi até à costa podia imediatamente perceber. Temperaturas de 30º graus em terra, mas vagas fortes e correntes invernosas a varrer as praias, com bandeiras de perigo hasteadas de norte a sul. É verdade que só havia bandeiras onde a época balnear já começou, mas pelo que se percebe nem isso demove os mais negligentes. A mim, por exemplo, custa-me crer que, do outro lado do cordame de rochedos que separa a pequena enseada onde estive da praia principal de Carcavelos tenham sido efectuadas 50 operações de salvamento, num único sábado. E as bandeiras, posso eu garantir, estavam bem visíveis: eram amarelas.

Posted by por AMC on 11:53. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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