'O país que dispensa os melhores '
por Fernando Paulouro Neves
Subalternizar a inteligência, remetê-la para o silêncio da opacidade, menorizá-la, sempre foi coisa comum em Portugal. Sempre os melhores foram parar a masmorras, votados a exílios interiores e exteriores e as suas ideias colocadas no index. O ódio ao mérito, a desconfiança face aos saberes, tornou-se hoje, quando o conhecimento é poder, fenómeno mais sofistificado e porventura mais eficaz.
A política está farta de dispensar génios. Opta sempre pela mediocridade. Os partidos têm um longo passivo nessa prática e não é por acaso que o triunfo da mediocridade se tornou numa espécie de doença infantil da democracia. Há muitos ejemplos dessa situação e os exemplos dos prémios à estupidez chovem abundantemente na sociedade portuguesa. Por que afastam os melhores? Por que os carimbam de incómodos?
Sempre me fez funda impressão essa ofensiva, essa espécie de grito (retocado pelo tempo) de “abaixo a inteligência”, agora em novas nuances e diferentes conjunturas. Um exemplo, um nome: a engenheira Maria de Lurdes Pintasilgo. Inquestionavelmente brilhante e sabedora, de grande prestígio internacional, quem se importou com a margem que lhe foi imposta, depois de ter cessado funções oficiais, que despertaram, aliás, sempre, grandes invejas? O dr. Mário Ruivo, figura de relevo da FAO, sabedor como poucos dos Oceanos, também foi atirado para os dispensáveis. E a Prof. Manuela Silva, economista reputada (azardela: não foi ministra das Finanças, como os outros!) remetida solitariamente ao seu múnus universitário e de investigação?
Lembrei-me dela porque li o notável artigo que publicou no Monde Diplomatique: “Há mais vida para além do PIB...” Ela avalisa um conceito de desenvolvimento, mais coerente com os indicadores de desenvolvimento humano do PNUD. Deviam lê-la os grandes crânios que nos ofereciam o melhor dos mundos... até à bancarrota estoirar e agora dão receitas para um futuro em que apenas muda alguma coisa para tudo ficar na mesma.
Uma breve nota: o artigo de Manuela Silva a que Fernando Palouro faz referência pode ler-se aqui, no Conexão.