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"People of Europe Rise Up"



Às vezes pergunto-me se faz parte dos planos e das tarefas incumbidas aos batalhões de assessores de imagem e agências de comunicação de que se rodeia este Governo sair à rua, parar e escutar as conversas quotidianas das pessoas, ouvir o que têm a dizer, aperceberem-se do que falam, dizem, sentem. É que bastaria que o fizessem e disso dessem eco nos corredores do poder para ser impossível assistir todos os dias a uma tão grande dissemelhança entre o que pulsa nas ruas e aquilo que o Governo acha que por lá palpita. São dois corações desencontrados a bater em abissal descompasso. A Manifestação de 29 de Maio é só mais um extraordinário exemplo dessa perplexidade que me acomete diariamente.
Ao contrário do que o Governo e o Partido Socialista têm querido fazer crer, não está a ser mobilizada por agitadores: está é a mobilizar descontentes. E muitos. Demasiados. Cada vez mais. À esquerda, ao centro e à direita. Muitos deles nem nunca sairam à rua e diziam-se alérgicos à simples ideia de desfilar em protesto fosse pelo que fosse. Defendiam, como ouvi tantos advogarem ao longo dos anos, nem sequer conseguirem imaginar-se no meio de uma manifestação, por mais nobre o propósito, por mais solidários com a causa. Pertencem a todas as faixas etárias, incluem-se nos mais diversos escalões de rendimento e possuem os mais díspares graus de formação académica. Por e-mail ou através de redes sociais como o Twitter e o Facebook tenho recebido centenas de convites para me juntar ao protesto, vindos muitas vezes de pessoas que, apara ser inteiramente franca, estava longe de supor ver aderir com tamanho fervor. Basta percorrer os blogs e observar as opiniões manifestas, os logos colocados por lá para assinalar a adesão e divulgar a Manifestação.
Eu confesso-me espantada com a enorme e diversificada onda de gente que tenciona juntar-se às fileiras de dia 29. Tão espantada que me custa a crer que o Governo não só não se aperceba do fenómeno social, como o subestime desvalorize com tão teimosa superficialidade. Não é possível que haja tanta incapacidade para interpretar o óbvio. O Rise Up aos povos da Europa, pedindo uma, duas, três, vinte e sete Acrópoles, partiu assumidamente do Partido Comunista Grego. Sabemos quanto vale em votos o PC que temos por cá. Só uma soma algébrica simples bastaria para perceber que não foi apenas junto dos comunistas – muito, mas muito longe disso! – que a resposta ao 'chamado' colheu. Acontece que a capacidade de antevisão há-de ser sempre um calcanhar de Aquiles deste Governo que, como S. Tomé, precisará eternamente de ver para crer. Aguardemos então por sábado. Aguardemos e nessa altura, então, conversaremos.

# Manifestação de 29 de Maio

Posted by por AMC on 21:01. Filed under , , , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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