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Nao sabia que os 'takes' da Agência Lusa agora assumem o formato de teses, comentários e colunas de opinião...

O site de O Expresso, colocou há minutos online um texto a que deu o seguinte título singelo:


Quem o lê sai dele com uma sólida e inabalável certeza que se pode resumir assim: por cá, o estado das coisas nunca chegará ao ponto da situação que vive a Grécia.
Não sei se o objectivo era tranquilizar a nação porque o propósito do texto não é claro e não se percebe. Surge na secção de 'Economia' e leva a pressupor que se trata de uma notícia. Contudo, assume e avança dados (cuja proveniência nunca chega a ser referida) e, com base neles, articula uma série de interpretações (cujos pressupostos de que se serviu para a análise nunca esclarece) de onde extrai postulados que estão mais para a defesa de uma tese do que outra coisa, ainda que a assinatura do texto não seja atribuída a ninguém em particular, nem nenhuma referência o remeta para o domínio do comentário ou da coluna de opinião.
Como leitora do jornal e no que a mim me diz respeito, para que o texto me faça sentido e o seu conteúdo me mereça alguma credibilidade, digo que precisava de mais do que simplesmente ver mencionado que o texto foi produzido pela "Lusa". Já não falo no propósito, mas precisava (pelo menos!) de saber quem da agência o escreveu e, acima de tudo, com base em que fontes se extrai o rol das afirmações concluídas.

Reproduzo na íntegra o texto a que me refiro:

As diferenças entre Portugal e Grécia

A Grécia está na bancarrota. Portugal não. Para que isso acontecesse teria de 'desbaratar' já 63,5 mil milhões de euros.

Lusa
13:20 Domingo, 2 de Maio de 2010
A Grécia está na bancarrota. Portugal não. E para o Estado português ficar como o grego teria de 'desbaratar' já 63,5 mil milhões de euros, o correspondente a seis projetos de TGV ou a quatro novos aeroportos.
A explicação é simples: enquanto na Grécia, a riqueza produzida num ano (PIB) é 31,6 mil milhões de euros inferior ao que precisa para suportar a dívida, o Estado português tem ainda uma margem de 38 mil milhões de euros para chegar a um endividamento igual à sua riqueza e 24,5 mil milhões para chegar à situação da Grécia.
Ou seja, Portugal tem um Produto Interno Bruto (PIB) de 163,9 mil milhões de euros, mas a sua dívida pública é atualmente de 125,9 mil milhões de euros, correspondendo a 76,8 por cento do PIB. Quanto aos gregos, com um PIB de 237,5 mil milhões de euros, têm uma dívida de 269,3 milhões de euros (mais 31,6 mil milhões de euros) o que corresponde a 115,1 por cento do PIB.
Para Portugal ou outro país qualquer uma situação ideal seria ter um forte equilíbrio entre o que o Estado deve e aquilo que o país produz. Porém, uma dívida pública de 76,8 por cento do PIB, não sendo ideal, também não é dramática: no caso português só será muito problemática se subir exponencialmente nos próximos anos. E é aqui que está o 'calcanhar de aquiles' da economia portuguesa e a razão dos ataques dos mercados internacionais.
É que, perante as perspectivas de crescimento da economia portuguesa no futuro próximo, os mercados apostam que a dívida pública irá mesmo crescer exponencialmente. A única forma do país alterar a situação é dar sinais exteriores de que o seu Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) é mesmo para cumprir, nomeadamente ao nível do crescimento das exportações e, consequentemente, do PIB.

Os pergaminhos de Portugal

Nesta matéria, ao contrário dos gregos, Portugal tem alguns pergaminhos. É que enquanto as previsões e as estatísticas dos gregos estão cheias de asteriscos porque deixaram de ser credíveis, Portugal tem, apesar das dificuldades que a economia portuguesa enfrenta, a credibilidade do seu lado.
Em primeiro lugar, desde a sua entrada na então Comunidade Económica Europeia, os portugueses têm cumprido com as suas obrigações e metas fixadas. Em segundo, porque os sucessivos governos têm demonstrado que, quando toca a reunir, são capazes de mobilizar o país para conseguir continuar num dos blocos económicos mais ricos do mundo.
No seu PEC, o governo grego aponta para um défice orçamental de 8,7 por cento (21,2 mil milhões) e para que a dívida pública cresça para os 120,4 por cento (280 mil milhões de euros), de acordo com as contas do Eurostat.
No caso português, tanto o valor nominal do défice orçamental como da dívida pública são bastante inferiores aos da Grécia. O défice previsto para 2010 é de menos 7,3 mil milhões de euros que o grego (13,8 mil milhões) e no caso da dívida pública é de menos 137 mil milhões (142,9 mil milhões).
É por essa razão que hoje está em cima da mesa uma ajuda aos gregos até 135 mil milhões de euros para os próximos três anos, não precisando Portugal de um socorro internacional especial. Pelo contrário, dará uma provável contribuição de 740 milhões de euros para o total a emprestar à Grécia.

Os números da Grécia e de Portugal

Veja as diferenças entre os dois países.
Produto Interno Bruto (valores em mil milhões de euros):
....................2009..............2010
Portugal............163,8.............165,6
Grécia..............237,4.............240,03

Défice orçamental (valores em mil milhões de euros):
....................2009..............2010
Portugal............15,4(9,4%)........13,8(8,3%)
Grécia..............32,2(13,6%).......21,1(8,7%)


Dívida pública (valores em mil milhões de euros):
....................2009..............2010
Portugal............125,9(76,8%)......142,9(85,4%)
Grécia..............269,3(115,1%).....280(120,4%)

'Spread' das Obrigações do Tesouro a 5 anos face à referencial alemã (valores de sexta feira, em pontos base):
Portugal............276,2 p.b.
Grécia..............855,3 p.b.

Custos dos CDS a cinco anos (valores de sexta feira, em pontos base):
Portugal............289,6 p.b.
Grécia..............718,7 p.b.
 
* artigo tal e qual surgiu publicado aqui

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