Momento Ciro Gomes
Vá lá! Pelo menos Cid Gomes, governador do Ceará, faz questão de manter publicamente o sublinhado, lembrando que o irmão Ciro não desistiu de ser candidato a presidente: «O partido foi quem decidiu ser mais oportuno não lançar candidato. O PSB levou em conta as alianças regionais»..
Mais difícil de engolir é a forma categórica como nega que a saída de Ciro lhe tenha causado algum embaraço. Há falta de melhor, lança mão à retórica e vem dizer que «sinceramente não vejo saia justa no Ceará. Não enxergo dessa forma. Pelo contrário, a candidatura de Ciro poderia causar constrangimento em alguns Estados em que o PSB está aliado com o PSDB como a Paraíba, Paraná e Amazonas».
Para irmão, não está nada mal, não senhor.
Mais idiota é, todavia, o ataque de Eduardo Gomes, governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, que vem acusar Marina de querer caçar o eleitorado que a retirada da candidatura de Ciro deixou orfã. Idiota porque óbvia. Aliás, nesse ponto, esteve muito bem a assessoria da campanha da senadora quando, pela mão de Sirkis, remata de petardo e vai mais longe, admitindo que Marina não só tenciona captar esse eleitorado como pretende que o próprio Ciro se lhe junte. «O apoio de Ciro nos interessa. Em tempo hábil, a Marina vai procurá-lo», assumiu Sirkis.
Assim que o PSB confirmou que não iria apoiar a candidatura de Ciro, Marina reagiu, considerando a a decisão um "retrocesso" e um sinal de "intolerância democrática". Sabe-se que o PT esteve por detrás da manobra para captar mais um aliado no apoio a Dilma e que Lula ainda não desistiu da ideia de recrutar Ciro para as suas fileiras. Segundo relatos de fontes próximas, a indicação dada por Lula terá sido: «deixe passar a dor de cotovelo, deixa ele viajar, depois conversamos». Aquilo com que o presidente não contava era que a «mágoa» de Ciro pudesse ser mais funda, ou que logo nas primeiras reacções, apesar de acatar a decisão do seu partido, tecesse críticas duras a Dilma, como o fez nas célebres entrevistas ao IG e à SBT.
É cada vez mais forte a possibilidade de Ciro não estar na disposição de assinar em baixo da vontade do mesmo partido que convenceu o seu a tirar-lhe o tapete. Nesse caso dificilmente apoiará Dilma e, a ser assim, está aberto o cenário favorável ao diálogo com a candidatura de Marina, que desde o início lhe manifestou solidariedade e já prometeu «tratá-lo com respeito e seriedade». Como lembra o ex-deputado Luciano Zica, da Executiva Nacional do PV: «Ciro ficou numa situação muito delicada. Apoiar a Marina seria uma boa saída. Ele pode ser um parceiro, quem sabe até um colaborador da campanha.A Marina gosta muito do Ciro. E o eleitorado é dele, não do PSB».
Como escreve Bernardo Mello Franco na Folha de S.Paulo:
Publicamente, Marina passará a se apresentar como única alternativa à polarização entre Dilma e José Serra (PSDB). Ciro pretendia desempenhar o mesmo papel, em oposição ao caráter plebiscitário que o governo quer dar à eleição.
Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 19, Marina e Ciro aparecem tecnicamente empatados --ela teve 10% das intenções, e ele, 9%. Sem o deputado, Marina alcança os 12%.


