PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) no discurso da corda às Presidenciais brasileiras
Hoje, à margem da I Conferência Nacional de Educação, Lula rejeitou mais uma vez a ideia de se tornar 'ex-presidente'. Mas, da mesma forma que começou a ler um discurso que trazia escrito – como ele mesmo explicou, para ver se evitava mais uma multa, das muitas que (todo o mundo sabe!) vem somando por usar acções de Governo para fazer campanha antes do prazo – e depressa se esqueceu e passou ao improviso, também foi reconhecendo que, quando terminar o mandato, «vai quebrar a cara quem pensar que eu vou ser um ex-presidente. Porque vocês vão me ver andando por esse País». Segundo ele, 'as coisas iniciadas' não podem ser abandonadas no meio do caminho. «Quando a gente entra na água, começa a nadar e, ao invés de ir até o final, ao ficar cansado, a gente pensa em voltar. Sem se dar conta de que a volta é muito pior. Estamos no meio do rio e não temos o direito de morrer afogados».Interessante notar essa referência constante ao que está por terminar e urge não deixar cair.
Essa aparente nuance surge, para quem presta atenção, como um dos principais pilares em que está assente a estratégia de fazer eleger Dilma.
O argumento é retórico e aposta a sua eficácia no sobejamente comprovado índice de popularidade de Lula, tão elevado no Brasil como no exterior. Além de subsidiário da tese segundo a qual Dilma é a única herdeira e a natural sucessora do legado Lula, traz embutido um pressuposto traiçoeiro, quase uma chantagem, transferindo o desejo de ver a obra prosseguir para a obrigatoriedade do voto em Dilma.
É essa estratégia que explica que a segunda versão do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) ande a ser apresentada ao Brasil como se resultasse do programa presidencial da candidata do PT ao invés daquilo que realmente é: um plano do Governo actual e em vigor até 31 de Dezembro de 2010.
Mas como bem pergunta e melhor responde o blog do Alon:
Vai funcionar? Difícil. É só o adversário garantir que vai terminar as obras infelizmente não concluídas por Luiz Inácio Lula da Silva. E mudar de assunto.
Marina Silva poderá ir além. Basta a senadora do PV dizer que prosseguirá tudo que está andando, reservado o direito de repassar algumas coisas, ambientalmente mais polêmicas, pela catraca da correção verde.
E assim a tática se voltará como um bumerangue contra Dilma. Que em vez de discutir realizações será arrastada para um debate sobre obras inacabadas e sobre o custo ambiental do PAC. Lula não vivia dizendo que as obras inacabadas são uma praga? E não estamos num país onde a sustentabilidade vem antes do crescimento na preocupação dos jovens?
É deveras pertinente que o Alon aposte na Marina e não noutro candidato qualquer, como por exemplo Serra a quem as sondagens até dão vantagem na intenção de voto.
De facto, olhando cruamente para o tabuleiro, ninguém está melhor colocado que Marina acabar com Dilma se o PT não perceber a tempo que o "coelho da cartola" é isso sim "um tiro no pé" quase certo.
E Marina não só não vai errar a mira como tem as melhores armas.
Em primeiro lugar: até à desvinculação em Agosto do ano passado para se candidatar ao Planalto, Marina foi PT. Dilma ainda precisaria multiplicar por muitos os 7 anos e 3 meses ao lado do seu mentor para aspirar a conhecer-lhe tão bem as causas e as ideias como Marina. É relativamente simples a Marina desmontar a ideia de caber a Dilma o papel de legítima herdeira de Lula.Segundo ponto: Marina foi escolha primeira de Lula, nos dois mandatos, para integrar o Planalto. Saindo a pouco mais de ano e meio do fim, pode com toda a propriedade chamar a si a obra feita, com a vantagem de, tendo saído antes e pelo próprio pé, ganhar margem de distanciamento para critícar e se demarcar do que correu menos bem.Em terceiro lugar: Marina deixou obra feita à frente do Ministério que lhe foi confiado. Os resultados sem precedentes que conseguiu são facilmente percepcionados e reconhecidos no Brasil, já para não falar internacionalmente. Recebeu inúmeras distinções de prestígio pelo desempenho, ao ponto da revista Time a ter eleito uma das 50 pessoas mais influentes no mundo.
Aqui chegados, tem-se que é fácil para Marina reclamar ideologicamente o PAC, com a mais valia acrescida, sublinhada pelo Alon, de ser de longe a pessoa mais capacitada para o fazer, introduzindo-lhe as correcções ambientais desejáveis, especialmente num país sensível às questões da sustentabilidade como o Brasil. Mais com as provas dadas que somou nos anos à frente do Ministério do Ambiente, cortando a direito, em diálogo permanente com o sector empresarial, mas sem nunca ceder aos interesses e pressões dos grandes grupos económicos, se há coisa de que o eleitorado não duvidará é da sua capacidade para levar o PAC por diante.
Dilma tem fama de "durona", mas a candidatura de Marina não teria grande dificuldade em demonstrar que entre "parecer durona" e "ser firme" vai uma imensa distância. Bastaria para tanto colocar em evidência uma diferença crucial de postura entre as duas candidatas: A lealdade ao Governo de Lula nunca obrigou Marina a vergar a cabeça e fazer concessões adiante daquilo em que acreditava. A lealdade para Dilma, não raras vezes já se traduzir no engolir de alguns sapos, sendo públicas e cada vez mais constantes as suas demonstrações de subserviência a Lula, especialmente desde que a hipótese de vir a ser candidata às eleições de 2010 afloraram na mente do Presidente.
Hoje, Marina afirmou estar convicta de que a vitória do PV não é impossível
Entretanto, segundo conta o Altino, Jorge Viana (PT), ex-governador do Acre, não deixou escapar a oportunidade e durante o funeral de Armando Nogueira tratou de lembrar a Alfredo Sirkis, um dos coordenadores da campanha da senadora Marina Silva (PV-AC) à Presidência, que com o PT ela nunca perdeu uma eleição no Estado, deixando subentendida uma responsabilização clara do PV caso a votação inabalável de Marina no Acre sofra algum revés.
Posted by por AMC
on 00:20. Filed under
coisas do brasil,
ESPUMAS
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