É espantoso como a 'máquina' funciona!... O I Forum Internacional da Sustentabilidade realizou-se em Manaus, nos dias 26 e 27 de Março. Al Gore e Thomas Lovejoy, entre outros, estiveram por lá. Como esteve James Cameron, sim. Também! Todos eles entenderam que o motivo era mais do que suficiente para se deslocarem à boca da Floresta e estarem presentes. Todavia o encontro, os seus fundamentos e propósitos não teve qualquer eco em Portugal. Ninguém sequer se referiu a ele. Pior: apesar dos muitos esforços, os media não acharam relevante a publicação de qualquer matéria, já para não falar de um acompanhamento in loco, excentricidade impensável, com custos de deslocação desproporcionais e de pertinência absurda, face à importância do facto.
Durante a ocasião, Cameron esteve com alguns representantes indígenas que quiseram mobilizá-lo para a luta contra a hidroeléctrica de Belo Monte, um dos projectos centrais nas grandes obras governamentais incluídas no PAC 2 do Governo Lula.
O projecto polémico foi desenterrado da gaveta onde dormitava há alguns anos, com a precipitação de um licenciamento sem direito ao debate público, por muito que o impacto que se prevê (muito embora a obra peque pela ausência de estudos sérios e minuciosos que favoreçam o debate esclarecido) exigiria. Sabe-se que vai secar pelo menos 100 km do Rio Xingu com consequências graves tanto para a biodiversidade, como para as populações indígenas da região que dele dependem para sobreviver. Especialistas, investigadores e inúmeras personalidades acreditadas já alertaram para os efeitos catastróficos que o projecto terá não só na Amazónia, como no ecossistema mundial.
Acontece que tal como sucedeu com o Fórum, também Belo Monte tem passado despercebido por entre os meandros esquálidos do desinteresse da media portuguesa.
É por isso que não posso esconder a surpresa ao ver a página da revista Lux, uma publicação aqui taxada na categoria de 'imprensa cor-de-rosa', dedicada especialmente ao universo dos 'socialites'. É certo que, mesmo dando direito a uma página inteira, a ampliação das fotos tem o maior peso e o texto se resume a uma nota exígua. Mas teve estatuto noticiável. Neste ponto acresce outra perplexdade. Sendo a actualidade do facto em si um dos critérios de maior peso na definição do que é ou não notícia, não deixa de ser curioso que a Lux não tenha hesitado em destacar um acontecimento com mais de uma semana.
Acima do requentado, interessou à revista o inusitado: James Cameron, o realizador de dois dos maiores blockbusters da história de Hollywood, rodeado de índios de penas coloridas.
Tiro o chapéu à Lux, devo dizer, a única que pelo menos aflorou o assunto. Pena que talvez e só movida pelo mediatismo de Cameron e pelo exótico que as fotografias garantiam à publicação.
E fico a pensar que talvez os povos indígenas me levem dianteira e estejam bem mais acostumados que eu – que todavia estou dentro dela – ao modo como a 'máquina' funciona. Eles sabem que para captar a atenção do mundo e dos media para questões essenciais, ganhar o apoio de personalidades conhecidas é mais útil à visibilidade das causa e dos problemas do que qualquer palavra que se esforcem por querer fazer ouvir. É por isso que buscam Sting e Leonardo Di Caprio e Gisele Bündchen e Cristiane Torloni, etc, etc, etc. Porque infelizmente nos conhecem bem demais.
Volvidos mais de cinco séculos de tentativas de diálogo, quase sempre penoso e fracassado, os povos indígenas aprenderam enfim a falar a única língua que estamos dispostos a entender. Hoje, sabem exactamente o tipo de argumentos a que damos ouvidos e por onde andam as razões de 'peso' que ainda têm chance de nos conseguir mover.
James Cameron no Brasil em defesa das tribos da Amazónia
O realizador canadiano James Cameron, responsável pelos sucessos de «Avatar» e «Titanic», afirmou, esta quarta-feira, que vai enviar uma carta formal ao Presidente brasileiro, Lula da Silva, a solicitar a suspensão imediata do projecto de construção de uma central hidroeléctrica em Monte Belo.
Segundo o site da Globo o realizador está preocupado com o impacto ambiental da construção da infra-estrutura na Amazónia.
Cameron deslocou-se ao Brasil para participar no Fórum Internacional de sustentabilidade, em Manaus, e aproveitou para reunir-se com representantes do povo de Xingu.
O realizador visitou os moradores que podem vir a ser afectados com a construção da infra-estrutura depois de receber várias cartas de líderes indígenas e ONGs a pedirem apoio.
Cameron comparou a luta do povo da Amazónia contra a hidroeléctrica à do povo Na`vi, retratado no filme «Avatar». Considera que ambos sofrem «ameaças e injustiças» e pondera ainda vir a filmar «Avatar 2» na Amazónia.
via LUX
01.Abr.2010


