|

Dilma e Serra dizem 'adeus' aos cargos e 'allô' á campanha presidencial no mesmo dia


Ontem a corrida para as presidenciais no Brasil puxou definitivamente uma mudança acima.
Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) escolheram ambos o último dia de Março para se despedirem oficialmente dos cargos ocupados – ela no Governo da Presidência, ele no Governo do Estado de São Paulo – e se dedicarem às respectivas candidaturas às Presidenciais de Outubro.
Além de Dilma, esta quarta-feira outros dez ministros deixaram o Governo para disputar eleições, uma última valsa que tem sido, aliás, uma constante um pouco por todos os Governos de Estado.
Depois de avisar no Twitter que passou a madrugada a escrever o discurso, rodeado de secretários, deputados e prefeitos de partidos aliados, José Serra (PSDB) deixou o governo de São Paulo, dizendo-se pronto para nova etapa. Embora continue a recusar comentar o seu programa e mantenha a estratégia do PSDB à Presidência no segredo dos deuses, como Gilberto Scofield Jr. observa, e bem, as entrelinhas do discurso de despedida, ontem, no Palácio dos Bandeirantes já são reveladoras daquilo que Serra representará: «em oposição ao discurso petista do Estado forte e de ampla ação social, mesmo às custas de desequilíbrios ocasionais no orçamento — abraçado com ênfase pela ministra-candidata Dilma Rousseff — Serra prega o Estado responsável, austero, planejador e respeitador do direito de propriedade.» A apologia do carácter e a crítica à «roubalheira» foram o nó central do discurso.
Detalhe: no meio de tantos ilustres, ninguém viu, porém, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Ninguém duvida que recebeu convite para a cerimónia, mas como ironiza o Noblat, talvez tenha tido mais que fazer.

Pelos lados do PT, após 7 anos e três meses no cargo, Dilma também discursava, confessando que «duas coisas vão acontecer: uma parte vou esquecer, e outra eu vou chorar muito». No mais foi sem novidade, exceptuando o assomo provocatório de Dilma: «Nos despedimos. Mas não somos aqueles que estão dizendo adeus. Somos aqueles que estão dizendo 'até breve'». A partir daí a coisa manteve o mesmo tom puxa-saco do costume: Dilma exaltou Lula afirmando que o presidente é "o mais brasileiro" dos líderes da história do País.
O Reinaldo Azevedo contou: Dilma usou 28 vezes o termo "senhor" para se referir ao presidente

Definitivamente a corrida vai ganhar rumo, espero que finalmente com uma definição mais clara do posicionamento de cada candidatura. É possível que com a entrada em cena de Serra e um discurso mais ao ataque pela frente, ou seja quando as críticas à política petista choverem, Dilma seja obrigada a demarcar-se um pouco do reinado Lula. Possível ainda que altamente improvável, tendo em conta que a pré-campanha ainda nem começou e o decalque é tão absoluto que quase não deixa imaginar que ainda possa haver oxigénio ou vida para Dilma fora da incubadora do Presidente.
Ao mesmo tempo, Marina Silva que até ao momento não tem encontrado eco, nem interlocutor à altura, terá oportunidade de iniciar verdadeiramente o debate. É certo que o mistério em que Serra envolve o seu programa de governo coloca um sério entrave ao confronto político, mas suspeito que ele não deve tardar muito mais. A cada vez que Serra aparecer terá que falar e, como se percebeu ontem, no discurso de despedida, bastar-lhe-á falar para inevitavelmente trair a sua intenção de silêncio. Por muito que ela seja conveniente ao PSDB.

E se Serra tem aparecido nas últimas 48h!... Basta folhear a imprensa brasileira, ou picar os canais de TV, para ser gritante a viragem nos acontecimentos. O homem que desesperou o Brasil, arrastando por meses a confirmação da sua mais que certa candidatura, está em todo o lado. É um facto que até agora ninguém o ouviu abrir a boca para falar do projecto que tem para o Palácio do Planalto, mas isso não o tem impedido de vociferar a preceito sobre nada e quase tudo e todos.
Suponho que está tudo tão aliviado por, ao menos, Serra ter enfim desfeito o tabu que, por enquanto, o que se quer é ouvi-lo falar. O problema vai ser quando a novidade passar e o Brasil se lembrar que, já que fala tanto, seria bom que começasse também a dizer alguma coisa.
Nessa altura, então, veremos.

Para ouvir na íntegra:

Posted by por AMC on 17:29. Filed under , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

0 comentários for "Dilma e Serra dizem 'adeus' aos cargos e 'allô' á campanha presidencial no mesmo dia"

Leave a reply