Os contributos de Antero

Deu-me, este fim-de-semana, para reler um pequenino opúsculo a que Antero de Quental deu o título de Causas da Decadência dos Povos Peninsulares
Foi escrito em 1871 e é, em verdade, uma das comunicações que apresentou  nas célebres Conferências do Casino, que organizou em pareceria com Batalha Reis e arrancaram a 22 de Maio desse ano no Casino Lisbonense.

Serviriam as Conferências para reflectir sobre sobre as condições políticas, religiosas e económicas da sociedade portuguesa no contexto europeu, justificando o seu programa que «não pode viver e desenvolver-se um povo isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo».

O propósito de Antero é o de compreender como se operou, em Portugal e Espanha, a passagem do estado de prosperidade dos sécs. XV e XVI ao seu oposto, por si claramente identificado como declínio, e o averiguar das razões que lhe são subterrâneas.

É absolutamente espantosa a lucidez crítica do texto. Não menos espantoso é concluir, parágrafo após parágrafo, que os mesmos reparos continuam a caber em sentido ao Portugal que levamos em 2010. Assalta-me então o que escreveu Eduardo Lourenço: «Ninguém entre nós pôs mais paixão no propósito de decifrar e ao mesmo tempo emendar o destino português do que Antero».
Pena que 149 anos volvidos ninguém pareça ter ainda atentado verdadeira e consequentemente nisso.



* Uma última nota, em jeito de rodapé: uma portaria real veio, na época, pôr fim às Conferências, em boa parte por nunca até então se ter atentado tanto contra a Igreja, na sua responsabilização pelo 'estado das coisas' na nação. A decisão causou furor e foi acusada de atentar contra as liberdades, vindo a resultar pouco depois na queda do governo que as suprimira.