Marinho Pinto: periodicamente entre 'a bufaria'

O jornalismo português tem vindo a degradar-se por falta de referências éticas. Hoje, tudo vale para obter informações, incluindo o recurso a "bufos". Nos tempos do Estado Novo usava-se esse termo para designar as pessoas que davam informações à polícia política sem que ninguém desconfiasse delas. Geralmente eram até da confiança das vítimas. Faziam delação às escondidas, por dinheiro ou simplesmente para tramar os visados. Agora continua-se a denunciar pessoas a quem as possa tramar. Os "bufos" são os informadores privilegiados dessa nova polícia de costumes em que se transformaram certos órgãos de informação de Lisboa.

Marinho Pinto, A Bufaria
* Bastonário da Ordem dos Advogados

Duas observações se me oferecem:

1. Lendo a coluna de opinião de Marinho Pinto no JN e ficando a conhecer o retrato que faz do jornalismo, dos jornalistas e dos orgãos de informação que temos por cá, não consigo compreender por que raio de razão continua a colaborar assiduamente com os jornais, rádios e televisões deste País. Seria antes de supor que algum objector de consciência lhe sussurrasse mais alto e se interditasse a si mesmo o consentimento de ser parte activa num meio entregue à tamanha «degradação» que descreve.

2. Ainda bem que Marinho Pinto escreve para o JN. É que, se fosse para o extinto O Independente, aplicava-se-lhe este mesmo princípio editorial do então director Paulo Portas e, não só  'A bufaria' que assina nunca chegaria sequer a ver a luz do dia, como se lhe acabava logo a coluna de opinião. Afinal de contas nenhum jornal «tem o dever de suportar ofensas impressas no papel» a toda a classe jornalística e à actividade profissional que ali mesmo também se exerce, por parte de um colunista a quem eventualmente paga e regularmente concede espaço editorial.