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Ilha da Fuzeta cada vez mais ameaçada pelo mar



Esta noite, no Algarve, as ondas continuavam a troar. Só quem presencia o espectáculo imponente da rebentação e a força das marés vivas percebe a dimensão da ameaça. As vagas ultrapassaram os cinco metros e trazem a região em reboliço, com muitas estradas cortadas e as vilas próximas às praias alagada. As autoridades mandaram encerrar as barras do Alvor e Albufeira, ao Barlavento.
Para sotavento, apesar de Tavira e Vila Real continuarem abertas, a situação não é melhor. Ontem, o cordão dunar da Ilha da Fuzeta não resistiu e foi rompido pelo mar, obrigando a cortes de trânsito em Faro.Todas as casas da ilha são clandestinas.Os moradores, na sua maioria pescadores, estão cientes disso. Esta madrugada, o mar derrubou mais cinco das poucas que ainda resistiam. O mar tem destas fúrias. Quem é do mar sabe que contra elas ninguém pode e sucede que este Inverno tem sido particularmente encapelado na costa algarvia. A Fuzeta está em perigo de desaparecer por completo, engolida pelo mar que avança a olhos vistos em direcção à costa. Diz-se que a Natureza sabe o que faz. Pois bem, o conjunto das três ilhas de que a Fuzeta faz parte serve há séculos de protecção à Ria Formosa e ao seu único e riquíssimo ecossistema. Se desaparecerem serão irreparáveis os danos causados pela invasão do mar na Ria.
A Administração Regional Hidrográfica do Algarve (ARHA) diz que está vigilante e que para já não se justifica uma intervenção. Veremos.



Ilhas barreira podem migrar para o interior
Ria Formosa vai transformar-se
24-01-2010  

A subida do nível médio das águas do mar e as sucessivas tempestades marítimas registadas recentemente no Algarve são o motor de arranque para a área da Ria Formosa minguar nas próximas décadas.
As cinco tempestades marítimas registadas em apenas um mês no Algarve, com galgamentos oceânicos sobre o cordão dunar, provocaram recuo da linha de costa e o derrube de cerca de 20 casas junto à Ria Formosa. Mas as consequências imediatas são só a ponta do iceberg.
"Numa perspectiva de subida do nível médio do mar, prevê-se que haja uma migração efectiva das ilhas barreira para o interior e, por isso, toda a área costeira pode vir a migrar de forma paulatina", observou o geólogo e especialista em dinâmica costeira da Universidade do Algarve Óscar Ferreira.
O investigador não quer entrar em alarmismos imediatos, mas em entrevista à Agência Lusa menciona que se trata da evolução natural devido à subida do nível médio do mar, que pode ser mais rápida e potenciada pelo registo de tempestades marítimas.
Os riscos associados à migração das ilhas barreira para o interior podem prevenir-se com a diminuição directa da ocupação humana da Ria Formosa, nomeadamente não "bordejando o sistema lagunar com ocupação em cimento", alertou.
"Quando essas áreas estão ocupadas por nós [seres humanos] de forma maciça, o que acontece é um encolhimento do sistema que contribui para aumentar a sedimentação dos canais, perda da troca de circulação da água e da sua qualidade".
"Se as ilhas barreira não puderem migrar livremente para o interior, a dimensão da Ria Formosa vai diminuir, destruindo ou danificando valências ambientais únicas como os sapais ou as pradarias marinhas", acrescentou Óscar Ferreira.
Se houver perda parcial do ecossistema, poderá também haver uma diminuição da qualidade ecológica do sistema e da sua qualidade económica, acrescentou, referindo-se, por exemplo, à actividade de mariscultura.
"Se não houver uma boa renovação da água, acaba por se perder a qualidade de todo o ecossistema", observa, recordando que a sobrevivência dos organismos e de toda a economia relacionada fica em perigo.
Na opinião do cientista, os planos de ordenamento da orla costeira devem integrar as consequências das alterações climáticas globais, nomeadamente a subida do nível do mar, mas "raramente os planos de gestão costeira contemplam a dinâmica dos sistemas naturais".
via Observatório do Algarve


Cf. Ria Formosa:Ilhotes são os primeiros a ter planos
 
Em Janeiro aconteceram cinco episódios semelhantes:

Mar destrói casas na Ilha da Fuzeta
05-01-2010

A força do mar destruiu nas últimas 24 horas quatro casas na Ilha da Fuzeta, Ria Formosa. 
O número de habitações destruídas naquela ilha pela força da natureza desde 2008 eleva-se agora para 23, restando menos de 60 de um total de 80 casas que ali existiam, apesar de a área estar classificada como sendo Domínio Público Marítimo.
"Todas as casas da Fuzeta estão para renaturalização (demolição) uma vez que não são de habitação própria permanente", adiantou ao Observatório do Algarve fonte da sociedade Polis Litoral Ria Formosa. "A par dessas, também o núcleo dos Hângares e as pontas da Ilha de Faro vão ser renaturalizadas, isso já estava previsto desde o POOC (Plano de Ordenamento da Orla Costeira) de 2005, acrescenta.
As demolições de casas na Ilha da Fuzeta - onde não restará nenhuma edificação -, poderão aliás avançar ainda este ano, estando a operação dependente da velocidade da conclusão dos Planos de Intervenção e Requalificação (PIR).
Na ilha, casas "rasgadas" ao meio e com o recheio de fora, colchões, sofás e loiças espalhadas pelo areal era o cenário que hoje se apresentava, e as dunas recuaram cinco metros nas últimas 24 horas.
Na tentativa de reforçar as dunas e impedir que o mar avance sobre as suas pequenas casas de férias, alguns proprietários têm colocado nos últimos dias grandes sacos repletos de areia frente às suas casas.
A ponte de madeira que dá acesso à praia também ficou destruída, estando os trabalhos de limpeza e remoção de detritos a cargo da Sociedade Polis Litoral da Ria Formosa, que deverá fazê-lo ainda antes do Verão.
Enquanto tira notas do que vai observando, o geólogo Sebastião Teixeira, da Administração da Região Hidrográfica (ARH) do Algarve, explica à Lusa que o facto de as casas se situarem na zona dunar dificulta a sua recuperação natural.
"Na zona onde estão as casas devia haver apenas dunas", diz o geólogo, acrescentando que as pessoas que ocupam as casas não permitem que a vegetação se instale o que é "determinante" para a formação de dunas, além de a presença das casas impedir a reposição de sedimentos.
A Fuzeta, entre Olhão e Tavira, é dos poucos casos onde as previstas demolições ao abrigo do programa Polis da Ria Formosa não estão - segundo a agência Lusa - a gerar polémica, uma vez que o núcleo não tem moradores fixos, apenas casas de férias.
A faixa onde se inserem as casas ocupa cerca de 300 metros do cordão dunar, tendo sido a zona Nascente a mais afectada em termos de danos materiais, devido à ausência de dunas, o que facilitou a entrada do mar, que galgou de um lado ao outro da ilha.

via Observatório do Algarve

Cf. Equipa de reportagem da TVI24 apanhada em cheio 

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