Brasil condiciona aporte adicional ao FMI a medidas anticrise da Europa
foto de Elza Fiúza |
Conforme o ministro da Fazenda, Guido Mantega, o Brasil só fornecerá mais dinheiro com uma forte contribuição dos europeus e depois de considerar se as medidas adoptadas foram adequadas para tornar a economia europeia mais segura e ainda se o aporte se transformar em cotas adicionais ao país na instituição. (...) Mantega afirmou que os membros do Brics já acordaram a concessão de recursos adicionais ao FMI sempre e quando os países europeus cumpram o compromisso que assumiram de aumentar a segurança financeira para evitar que a crise se expanda ao restante do mundo. "O Fundo está demorando a fazer reformas que dêem mais poder de decisão e participação aos países emergentes," criticou o ministro. De acordo com ele, há uma "reticência" dos países europeus em levarem adiante as reformas no FMI: "Eles querem dinheiro, mas não querem levar adiante as reformas.
Um detalhe interessante: quando Mantega fez estas declarações ainda se escolhia o próximo presidente do Banco Mundial. Uma hora depois era anunciado o nome de Jim Yong Kim. Se a antecipação da recusa de mais dinheiro tinha a intenção de pressionar a opção pela candidata nigeriana (a ministra das Finanças Ngozi Okonjo-Iweala) preferida pelos emergentes, então o braço de ferro fracassou porque os EUA voltaram a levar a melhor. Porém, num olhar adiante, a posição de Brasil é um aviso sério ao FMI que não deve ser minimizado. Muito menos pelo agora eleito Jim Yong Kim.
Desde Janeiro que Christine Lagarde adverte para a insuficiência dos fundos destinados a apoiar países em crise, especialmente num cenário em que os problemas das dívidas soberanas na Europa tendem a agravar-se. Com Espanha e Itália cada vez mais no fio da navalha, sabendo-se que o Banco Central Europeu não terá dinheiro para as resgatar como fez com a Grécia, Irlanda e Portugal, e que a sua queda fará colapsar a UE, a questão do aumento dos fundos torna-se premente para o FMI.
O Brasil e os emergentes podem não ter conseguido eleger o seu candidato ao Banco Mundial, mas as reivindicações de mudança que fazem à política económica mundial, em algum momento terão que ser ouvidas. Por uma razão muito simples: os cofres do mundo precisam do seu dinheiro. Neste sentido, o mais provável é que a derrota na escolha do comando do Banco Mundial contribua para que os Brics aumentem a pressão sobre as opções do FMI.
Os países emergentes começam a ficar irritados, já se percebeu. Estão cada vez menos dispostos a continuarem a desatar os cordões à bolsa sem que lhes seja reconhecido peso suficiente para terem uma palavra a dizer na forma como essas verbas são aplicadas e geridas. Dilma tem sido, a esse propósito, bastante contundente, mostrando o seu desagrado pelo "tsunami financeiro" que as economias em crise têm provocado no Mundo. Afirmou-o sem se acanhar às vésperas do encontro com Merkel, como é sabido a grande interlocutora da Europa; repetiu-o diante de Obama, durante a visita oficial aos EUA e voltou a insistir, no discurso que fez este fim-de-semana na Cúpula das Américas. O recado está dado e menosprezá-lo será descurar de forma desastrosa a influência que, apesar de tardar ver reconhecida, o Brasil exerce sobre as parceiras economias emergentes.
As declarações de Mantega, hoje, condicionando uma contribuição adicional ao FMI ao respeito por novas regras, só vêm demonstrar que o desagrado de Dilma é para levar a sério. Mais: a breve trecho o Brasil não estará sozinho, terá a seu lado os restantes Brics. Não lhes dar eco é precipitar uma divisão com consequências num futuro demasiado próximo: de um lado Europa e EUA, com ímpetos de sobranceria, mas de bolsos vazios; do outro, os países emergentes, com argumentos e dinheiro suficiente para consumar o desejo antigo de ampliar a voz. Se neste quadro inscrevermos a intenção de criarem o seu próprio banco, então poderemos estar prestes a assistir ao redesenhar de uma nova ordem mundial. São demasiadas as economias em crise. Na hora da aflição, acorrerão a quem tiver dinheiro para lhes valer e está visto que tanto o FMI como o Banco Central Europeu têm cada vez menos fundos para os socorrer.
Nenhum empréstimo vem sem contrapartidas, dir-se-á. É certo que não. Todavia, até neste ponto pode muito bem acontecer que os países em crise optem por uma nova receita, demonstrado que está o efeito ruinoso das políticas de salvação impostas pelo FMI e o BCE nas economias nacionais. Bem vistas as coisas, por alguma razão os Brics crescem e a Europa e os EUA se afundam na recessão. É bem possível que os aflitos venham a preferir experimentar as terapias alternativas sugeridas pelos vencedores, em detrimento das promessas de cura fracassadas que diariamente observam nas ruas da Grécia, Portugal, Irlanda, Espanha e Itália.
Brasil nega mais recursos sem avanço em reforma do FMI
O Brasil não injetará mais recursos no Fundo Monetário Internacional (FMI) enquanto não houver sinais de avanço nas reformas da instituição, que poderiam aumentar a participação de países emergentes no processo de decisões, disse nesta segunda-feira o ministro da Fazenda, Guido Mantega.
O G20 -grupo das 20 principais economias do mundo- reúne-se nesta semana na véspera da reunião semestral do FMI e do Banco Mundial para discutir a possibilidade de um aporte extra de 400 bilhões a 500 bilhões de dólares.
Mantega, porém, antecipou a discussão e jogou um balde de água fria nas intenções do restante do grupo. "Não vamos colocar mais recursos (no FMI) para beneficiar os países avançados caso não haja comprometimento para levar adiante as reformas já decididas", afirmou o ministro em entrevista coletiva. "(O FMI) dá sinais de que não vai cumprir a agenda que nós aprovamos", acrescentou.
A crítica de Mantega ao andamento das reformas no Fundo foi feita quando ele anunciou o apoio do governo brasileiro à ministra das Finanças da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, na disputa pelo comando do Banco Mundial (Bird, na sigla em inglês). Uma hora depois, no entanto, o conselho da instituição global de fomento anunciou a escolha do coreano-americano Jim Yong Kim, indicado ao posto pelos Estados Unidos.
Mantega afirmou que o principal obstáculo às reformas do FMI é a oposição de países europeus que estão mergulhados em turbulência econômica. "Sinto reticência dos países europeus. Eles querem o dinheiro mas não querem levar avante as reformas", disse.
O ministro sustentou que, como os europeus estão no epicentro da crise financeira, eles mesmos deveriam se antecipar e anunciar um aumento do aporte de recursos no Fundo Monetário Internacional. No ano passado, discutiu-se a possibilidade de um aporte extra de 600 bilhões de dólares no FMI para ajudar a combater a crise nos países ricos que sofrem com a desconfiança acerca da sustentabilidade de suas dívidas soberanas.
O montante discutido hoje está em cerca de 400 bilhões de dólares, podendo chegar a 500 bilhões de dólares, conforme mostrou a Reuters na última sexta-feira. O aporte de recursos no FMI deve ser um dos temas a ser discutido na reunião semestral da instituição e do Banco Mundial no final desta semana.
O governo brasileiro já fez um aporte de 14 bilhões de dólares para aumentar a participação societária na instituição. O problema é que até agora esses recursos não foram revertidos em aumento de cota.
Pouco antes de o Banco Mundial escolher o candidato dos EUA à presidência, Mantega explicou que o governo decidiu apoiar a candidata nigeriana por falta de comprometimento do coreano-americano em ampliar espaços dos emergentes na instituição. "Queremos participação efetiva e influenciar nas decisões. Como vai atuar, para quem vai emprestar dinheiro, como vai combater a pobreza."
Apesar de o cargo ter ficado com um candidato indicado pelos Estados Unidos -mantendo a tradição de a instituição ser comandada por um cidadão norte-americano desde sua criação, depois da Segunda Guerra Mundial-, essa foi a primeira eleição que não teve unanimidade.
"Os candidatos receberam apoio de diversos países-membros, o que reflete o alto calibre dos candidatos", minimizou o Banco ao anunciar a decisão do conselho.
Kim assumirá o posto em 1º de janeiro para um mandato de 5 anos.
Presidente eleito do Bird promete mais voz a emergentes
O Banco Mundial (Bird) escolheu nesta segunda-feira o especialista em saúde coreano-americano Jim Yong Kim como seu novo presidente, mantendo o controle de Washington sobre o posto e deixando os países em desenvolvimento a questionar o processo de seleção.
Kim, de 52 anos, derrotou a ministra das Finanças da Nigéria, Ngozi Okonjo-Iweala, com o apoio de aliados de Washington na Europa ocidental, do Japão, do Canadá e de algumas economias de mercado emergentes, como Rússia, México e Coreia do Sul. O Brasil havia anunciado pouco antes que decidira apoiar Okonjo-Iweala.
Diferentemente de decisões anteriores, não houve unanimidade. "Os candidatos finais receberam apoio de diferentes Estados-membros, o que refletiu o alto calibre dos candidatos", disse o Bird sobre o anúncio de seu conselho.
Kim, presidente do Dartmouth College, assumirá o posto em 1o de julho, depois que o atual presidente, Robert Zoellinck, deixar o cargo.
Os Estados Unidos mantêm a presidência desde a fundação do Banco Mundial após a Segunda Guerra Mundial, enquanto um europeu sempre liderou o Fundo Monetário Internacional.
Diferentemente de outros presidentes do Banco Mundial, Kim não é político, banqueiro nem diplomata. Ele é médico e antropólogo que trabalhou para garantir tratamento aos pobres em países em desenvolvimento, seja combatendo a tuberculose no Haiti e em Pequim, seja enfrentando a Aids em prisões russas.
A disputa envolveu três candidatos até sexta-feira, quando o ex-ministro das Finanças da Colômbia, José Antonio Ocampo, retirou seu nome. Ele disse que o processo, que deveria ter como base as credenciais dos candidatos, tornou-se político.
O ministro das Finanças da África do Sul, Pravin Gordhan, comemorou o fato de não americanos terem disputado o posto pela primeira vez, mas também afirmou haver preocupações de que o processo não tenha se baseado totalmente em mérito.
"Acho que vamos descobrir que o processo ficou aquém disso", disse Gordhan à Associação dos Correspondentes Estrangeiros na África do Sul, acrescentando que também houve "sérias preocupações" de que a decisão não contou com transparência.
via Reuters
Posted by por AMC
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