Ainda falta para 10 de Março, mas já é oficial: o Governo ainda não cai desta porque a Moção de Censura do Bloco não dará em nada
Leio em O Público:
A Comissão Política Nacional do PSD vai hoje propor ao grupo parlamentar que se abstenha na moção de censura ao Governo, agendada pelo Bloco de Esquerda (BE) para 10 de Março.
(...) A moção aponta responsabilidades ao Governo, mas também ao PSD, afirmando o BE que socialistas e sociais-democratas formam uma “maioria orçamental”. O Orçamento do Estado de 2011 foi aprovado com a abstenção do partido de Passos Coelho.
Era óbvio e absolutamente previsível que essa seria a decisão do maior partido da oposição. Primeiro por razões de calendário da vida interna do partido, que não o trazem em condições imediatas de entrar em campanha e formar governo. Depois porque Passos Coelho há-de resistir até onde puder a derrubar o executivo de Sócrates, por um lado na esperança de obrigar a ver-se a braços com a crise e as impopulares medidas que esta lhe sugeriu, por outro porque não quer ser o mau da fita e ficar no retrato como o homem que destruir a imagem internacional de estabilidade política em Portugal, numa altura tão crítica como a que atravessamos.
O CDS-PP de Paulo Portas antecipou-se e, ainda ontem, fez saber que iria abster-se na votação de 10 de Março. Porquê? Porque apesar de disputar com o Bloco um ódio visceral ao Governo de Sócrates, nunca o PP de Portas o derrubaria pelos mesmos argumentos e muito menos com propósitos idênticos. Já se sabia, sempre se soube, nunca oi segredo e, como tal, não há qualquer surpresa na intenção de se abster.
A questão que sobra, essa sim preocupante, é a de saber qual diabo foi afinal a intenção do Bloco de avançar abruptamente com uma moção de censura que, somando dois mais dois, sabia de ante-mão não ter a menor hipótese de surtir qualquer efeito no estado geral das coisas. Pior, cujo único efeito seria permitir a José Sócrates reforçar inesperadamente a sua posição enquanto chefe de Governo. Apresentada a moção e abstenções à parte, a verdade seria sempre inequívoca: o Parlamento reiterou a credibilidade nas suas políticas e nos membros do seu executivo, sem que ele próprio tivesse sequer que arriscar apresentar-lhe uma Moção de Confiança. Nesse aspecto, convenhamos, Paulo Portas está certo: esta moção de censura é um "favor" a Sócrates.
Mais grave: como os dias e os factos têm vindo a demonstrar, a causar algum prejuízo, esta Moção de Censura só atinge quem a avançou: o Bloco. O modo intempestivo como decidiu apresentá-la colidiu de frente com a orgânica do próprio partido, as reacções de desacordo sucederam-se em catadupa e a estrutura saiu abalada. Depois da rejeição assumida de Manuel Alegre, o candidato presidencial que apoiou até ao mês passado, e destas e estas críticas contundentes do militante, ex-fundador e dirigente, Daniel Oliveira, veio a demissão de Isabel Faria e,hoje, a de Paulo Silva, igualmente da mesa nacional.
O estrago é grande, as vantagens políticas praticamente indecifráveis e as mais valias para o País absolutamente nulas.
Não se percebe e o que não se entende é precisamente o que mais se teme. Ganha corpo a possibilidade do Bloco se ter assustado, quer com a perda de uma fatia de eleitorado que a derrota presidencial de Manuel Alegre lhe veio mostrar não estar assim tão fidelizada quanto acreditava; quer com o facto desse apoio ter tido o preço de o fazer emparceirar publicamente nas mesmas escolhas políticas do PS de Sócrates . Se a ideia era desmarcar-se urgentemente do partido e do homem no Governo, deveria ter merecido maior habilidade. Se o caso foi, paralelamente, atacar o protagonismo político do PCP, com que rivaliza na ala esquerda do eleitorado, depois de Jerónimo de Sousa admitir a possibilidade (teoricamente e, pelos vistos, ó teoricamente improvável) de votar favoravelmente uma Moção de Censura, ainda que apresentada pelo PSD, então a decisão do Bloco retumbou redondamente porque até para os comunistas veio perder.
Posted by por AMC
on 21:04. Filed under
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o estado da nação
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