«Dilma, Serra e Marina ficam cara a cara pela primeira vez»
Na primeira eleição direta para a Presidência sem Luiz Inácio Lula da Silva como candidato, os três principais concorrentes ao Palácio do Planalto, Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV), vão abrir nesta semana a temporada de debates que ajudará o eleitor a decidir uma das disputas mais equilibradas da história. Na sexta-feira passada, a mais recente pesquisa Ibope/Estado de S. Paulo/TV Globo, divulgada pelo Jornal Nacional, deu a Dilma 39% das intenções de voto, 5 pontos a mais do que Serra. Marina obteve 7%. Esses números se referem ao cenário com todos os candidatos “nanicos”.
Eles debaterão pela primeira vez na TV Bandeirantes, que levará ao ar o confronto na quinta-feira 5 de agosto, a partir das 22 horas. Também foi convidado pela emissora o candidato Plínio de Arruda Sampaio, do PSOL, que não pontuou na pesquisa.
O confronto dará início a uma série de pelo menos quatro debates (um deles pela internet). O mais aguardado pelas campanhas é o da TV Globo, marcado para a semana decisiva do primeiro turno, em outubro. Uma das preocupações da campanha de Serra é que o primeiro debate seja ofuscado pelo jogo entre São Paulo e Internacional, semifinal da Taça Libertadores da América, que será transmitido pela Globo, no mesmo horário. A previsão é que a partida retire audiência do debate em São Paulo e no Rio Grande do Sul.
A expectativa é que esse primeiro confronto sirva como um ensaio geral da reta final da campanha. Ao lado dos programas do horário eleitoral, que começarão no dia 17, os debates se tornaram, em 21 anos de eleições presidenciais diretas, um dos principais instrumentos de avaliação dos candidatos pelos eleitores e foram decisivos, em muitos casos, para os rumos da campanha (leia o quadro abaixo). Os debates, apesar de cada vez mais engessados por regras, são uma das raras ocasiões em que os presidenciáveis se expõem de maneira mais aberta. Por causa disso, os marqueteiros se esmeram na preparação dos candidatos para minimizar os riscos de escorregões.
Por Dilma estar em alta nas pesquisas, representar o governo e ser inexperiente em confrontos desse tipo, a campanha do PT avalia que ela será o alvo preferencial dos ataques nos debates. Em sua preparação, Dilma tem se reunido com ministros e secretários das pastas mais importantes do governo para se atualizar sobre dados da gestão Lula. “Ela vai mostrar que ajudou o presidente Lula a fazer um bom governo”, diz Fernando Pimentel, um dos coordenadores da campanha de Dilma. Mais acostumada com os jargões burocráticos dos gabinetes do que com a linguagem popular das campanhas, Dilma foi aconselhada a não ser “tecnicista” ou professoral em suas respostas para não ser enfadonha. Outra recomendação é não ser agressiva. Desde o ano passado, Dilma tem sido preparada por Olga Curado, especialista em oratória indicada pelo marqueteiro João Santana.
Dilma tem se dedicado ao estudo de duas áreas: saúde e segurança pública. Nas pesquisas, a saúde aparece como a principal preocupação dos brasileiros e é uma área em que Serra tem o que mostrar por ter sido ministro no governo Fernando Henrique Cardoso. Na segurança pública, ela deverá enfrentar críticas ao controle das fronteiras terrestres, por onde há intenso tráfico de drogas. Dilma pretende responder aos ataques com o programa de combate s ao crack e os números das operações da PF que resultaram em prisões de traficantes internacionais.
Enquanto Dilma é uma estreante em debates, Serra é um veterano. Participou de três das últimas quatro eleições brasileiras. Seus mais celébres debates foram os confrontos finais de segundo turno com Lula, na disputa pela Presidência em 2002, e com Marta Suplicy, no pleito pela prefeitura de São Paulo em 2004. São esses dois que servirão agora de base na preparação do tucano. O duelo com Marta é tratado como uma referência no PSDB por apresentar semelhanças com o desafio atual. Em 2004, Marta era a prefeita, detinha bons índices de aprovação e disputava a reeleição com bandeiras como os CEUs (Centros de Educação Unificada) e o Bilhete Único, um sistema inovador em transporte público. Agora, Serra tem de novo como principal adversária uma mulher, Dilma, candidata de um governo bem avaliado e com marcas como o Bolsa Família e o PAC (Plano de Aceleração do Crescimento).
O que anima o PSDB e seus aliados é que Serra, ao contrário do que ocorreu em 2002, ganhou a eleição contra Marta. Na campanha municipal, o tucano tentou demonstrar total controle sobre os números da gestão petista e afirmou que, se eleito, manteria os principais programas, a exemplo do que deverá fazer neste ano.Serra evitou parecer agressivo por ter uma mulher como adversária. Mas não deixou de apontar falhas e contradições de Marta. Para os tucanos, a vitória de Serra em 2004 se deu porque ele conseguiu fixar no eleitor a imagem de que era o mais experiente e preparado. Exatamente como ele tentará fazer contra Dilma.
Na campanha de Serra, ainda não há consenso se o candidato deve partir para a discussão ideológica suscitada pelos ataques às relações do PT com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e do governo Lula com os presidentes da Venezuela, Hugo Chávez, da Bolívia, Evo Morales, e do Irã, Mahmoud Ahmadinejad. O mais provável é que Serra aborde essas questões ao falar do controle das fronteiras e da política externa. A preparação do tucano será feita pela equipe do marqueteiro Luiz González, o mesmo de 2004.
Marina iniciou a preparação para os debates ao formar o grupo de 92 colaboradores que está elaborando seu programa de governo. Eles estão abastecendo a candidata do PV com informações, números, leituras e enfoques. Marina já se sente à vontade para tratar, por exemplo, de economia, um tema que antes a deixava desconfortável. Como preparação para sabatinas e debates, ela costuma anotar tópicos em folhas de papel – que ela chama de “aranhas”.
Antes do encontro na Bandeirantes, Marina passará por simulações, comandadas pelo marqueteiro Paulo de Tarso Santos, que começarão na segunda-feira. Colaboradores da campanha dizem não ter grandes expectativas quanto aos resultados do primeiro debate. Mas avaliam que Marina precisa ter um bom desempenho para ampliar o espaço de campanha. Como Marina dispõe de pouco tempo de propaganda na TV, os debates são úteis para torná-la mais conhecida. Será também a hora de ela tentar mostrar que tem mais a dizer além de pregar a defesa de florestas. Marina aposta que colherá bons resultados com a proposta do “programa social de terceira geração”. Ela tem dito que é a única a propor algo além da manutenção do Bolsa Família para o combate à pobreza. Inspirado por Ricardo Paes de Barros, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o “programa social de terceira geração” propõe metas e acompanhamento do Estado para que as famílias pobres superem sua condição social.
Marina tem a pretensão de quebrar a polarização entre PT e PSDB e se colocar como uma “terceira via”. Para conseguir isso, ela ainda precisa se mostrar uma candidata viável, com chances de vencer. Nos debates, terá de conter seu estilo prolixo, bom para discursos em palanques, ruim para a TV. Seus pontos vulneráveis são as lacunas no discurso do “desenvolvimento sustentável” – não há até hoje uma alternativa verde viável para a geração de grandes quantidades de energia, por exemplo – e suas convicções religiosas – Marina é evangélica da Assembleia de Deus e já se disse contrária ao casamento gay. Depois, recuou e defendeu a união civil entre homossexuais.
Eles tentam, mas não escapam
Em cinco eleições, só FHC conseguiu se eleger sem participar de debates
1989
Fernando Collor (PRN) faltou a cinco dos seis debates realizados antes do primeiro turno. Mas esteve em dois debates com Lula (PT) entre o primeiro e o segundo turno. O último foi decisivo para sua vitória
1994
Líder nas pesquisas graças ao Plano Real, Fernando Henrique Cardoso (PSDB) participou de um debate com Lula (PT). Venceu no primeiro turno, com 55% dos votos
1998
FHC foi reeleito no primeiro turno, com 53%dos votos, sem participar de nenhum debate
2002
Os candidatos Lula (PT), José Serra (PSDB), Ciro Gomes (PPS) e Anthony Garotinho (PSB) participaram de três debates antes do primeiro turno. Entre o primeiro e o segundo turno, Lula foi a um debate com Serra e faltou a dois. Foi eleito com 61% dos votos
2006
Confiante que venceria no primeiro turno, o presidente Lula faltou aos três debates. A vitória não veio. Na disputa no segundo turno, Lula teve de participar de quatro debates com Alckmin. Venceu com 61% dos votos
publicado na revista Época
(com Alberto Bombig, Leonel Rocha e Mariana Sanches)
Repassando, via Movimento Marina Silva:
No “Levante para o Debate” o Movimento propõe que cada marineiro procure conversar com amigos e familiares, que estão decidindo ou que já decidiram seu voto, para trocar opiniões a respeito dos candidatos. A proposta é que se procure incentivar a troca de idéias durante os intervalos, dentro de casa e também nas redes sociais. Desta forma, criaremos uma oportunidade para cada um de nós convencer e ser convencido a respeito da melhor opção para o Brasil para os próximos quatro anos.
Idéias para mobilizar:
- Ache seus vizinhos marineiros no mapa www.eusoumaisum.com.br. Clique em “entre em contato”, e mande uma mensagem propondo que assistam juntos ao debate em sua casa. Ou então anuncie que você procura um lugar para assistir.
- Convide amigos, familiares e colegas de trabalho para participar. Chame-os para ir à sua casa exercer sua cidadania.
- Divulgue o levante na internet usando a tag #levanteparaodebate. Sugestões de mensagem:
- Aqui em casa nós vamos ajudar a levantar o debate presidencial. #levanteparaodebate com o www.movmarina.com.br A campanha começou para valer!! #levanteparaodebate conosco no www.movmarina.com.br
- Durante o debate, entre no site do Movimento e comente no chat o que está acontecendo.
- Depois, registre a foto do grupo assistindo ao debate no blog do Movimento.
A própria Marina gravou um vídeo para o Movimento em que convoca a todos para o debate. Assista:
# Programa de Governo de Marina Silva
# Diretrizes de Governo: "O Brasil que queremos"