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Da série: 'coisas que nos estragam os dias...'

Dos dados revelados ontem pelo Instituto Nacional de Estatística – referentes ao 2º trimestre de 2010 – resulta a seguinte evidência: dos mais de 590 mil desempregados de que actualmente existe registo oficial em Portugal, 326 mil estão nessa situação há mais de um ano, sendo que destes 54% procuram trabalho há mais de 2 anos.
Traduzindo para percentagem quer isto dizer que, entre o total de portugueses que vivem o drama diário do desemprego, 55, 3% enfrenta-o há pelo menos um ano.
Comparando com os valores registados no período homólogo do ano passado, verifica-se que este tipo de situação aumentou 38,7%. Portugal atingiu, aliás, a taxa de desemprego de longa duração mais elevada de sempre: 5,8%.

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326 mil pessoas procuram emprego há mais de um ano

A taxa de desemprego manteve-se nos 10,6 por cento no segundo trimestre de 2010 e o número de desempregados até se reduziu ligeiramente face ao trimestre anterior, mas a economia portuguesa continua a ter sérias dificuldades em criar postos de trabalho para colocar os mais de 590 mil desempregados.
Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE), ontem divulgados, dão conta de uma realidade preocupante - mais de metade destes desempregados procura trabalho há mais de um ano e dificilmente conseguirá encontrar. É que uma parte significativa dos desempregados de longa duração tem baixas qualificações e mais de 44 anos de idade, um perfil que está completamente fora das exigências das empresas na hora de contratar.
A situação torna-se mais grave numa altura em que o Governo decidiu retirar alguns dos apoios extraordinários dados aos desempregados - como o prolongamento por seis meses do subsídio social de desemprego - e alterar as condições de atribuição dos apoios sociais. No segundo trimestre de 2010, e de acordo com o INE, 326 mil desempregados estavam nessa situação há mais de um ano (e entre estes 54 por cento procuravam trabalho há mais de dois anos). Trata-se de um aumento de 38,7 por cento face ao segundo trimestre de 2009.
Este elevado número de desempregados há mais de um ano representa já 55,3 por cento do total de desempregados, colocando a taxa de desemprego de longa duração no nível mais elevado de sempre: 5,8 por cento.
Pelo contrário, o desemprego de curta duração (há menos de 12 meses) recuou quatro por cento, sinal de que a entrada de novas pessoas no desemprego está a estancar, em contraste com os aumentos na ordem dos 50 por cento registados ao longo de todo o ano passado, quando a crise económica se estendeu ao mercado de trabalho, provocando um aumento dos despedimentos colectivos e do encerramento de empresas.
O próprio Governo admite que tem um grave problema entre mãos. Ontem, o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, reconheceu que o desemprego de longa duração é a área "mais difícil" de recuperação do mercado de trabalho. "Temos nesse emprego de longa duração pessoas com baixa qualificação, em regra, e com idade já relativamente avançada e por isso, neste momento, essa é a zona de maior dificuldade", disse o governante, acrescentando que "sem haver uma forte criação de emprego é muito difícil recolocar essas pessoas no mercado de trabalho".
Ainda de acordo com os dados fornecidos ao PÚBLICO pelo INE, 74 por cento dos desempregados de longa duração não foram além do ensino básico (no total do desemprego essa proporção é de 73 por cento) e 37 por cento têm mais de 44 anos de idade (no total de desempregados a proporção é de 30 por cento).
Mas embora as estatísticas do INE dêem sinal de que entre o primeiro e o segundo trimestre do ano houve um abrandamento, impulsionado pela redução da população activa e pelo emprego sazonal - em regra o desemprego cai sempre no período de Abril a Junho -, os números continuam a ser preocupantes e dificilmente a taxa de desemprego prevista pelo Governo de 9,8 por cento será cumprida.
É certo que do primeiro para o segundo trimestre houve uma redução de 2,4 mil desempregados, mas na comparação com 2009 o desemprego continuou a subir e mais 82 mil pessoas ficaram sem trabalho, sobretudo mulheres e jovens pouco qualificados. Além disso, aumentaram os inactivos disponíveis e desencorajados, isto é, as pessoas que pretendem trabalhar mas não fizeram qualquer diligência para isso nas três semanas anteriores ao inquérito do INE ou consideram que já não vale a pena procurar. Somando estes aos 590 mil desempregados apurados oficialmente, o número de pessoas sem emprego cresce logo para os 687 mil e a taxa de desemprego para os 12,1 por cento.
Além disso, a economia continua a ter dificuldades em criar novos postos de trabalho, sinal de que os empresários ainda não acreditam na retoma. No segundo trimestre havia menos 85 mil postos de trabalho do que há um ano.
Ainda assim, o secretário de Estado do Emprego, Valter Lemos, considerou que a manutenção da taxa de desemprego nos 10,6 por cento é "uma boa notícia" e não resistiu a declarações de optimismo quanto ao futuro, à semelhança dos seus antecessores. "A nossa expectativa é, se a economia continuar a funcionar de forma positiva, não só mantermos essa situação de estancamento do crescimento [do desemprego], mas de que possamos vir a decrescer o número de desempregados e do desemprego", disse, sem precisar quando é que o Governo espera estancar estes números.
Tanto a oposição como os sindicatos destoaram deste optimismo e acusaram o Governo de errar nas políticas de apoio ao emprego



Retrato do mercado de trabalho em Portugal


No segundo trimestre de 2010 atingiu os 20,3 por cento, acima dos 18,7 por cento registados no mesmo trimestre de 2009. Nos jovens entre os 25 e os 34 anos o desemprego também superou a média e atingiu os 12,6 por cento.
Os jovens continuam a ser o grupo mais afectado pelo desemprego. A taxa de desemprego entre os 15 e os 25 anos de idade é quase o dobro da taxa global.

Sul iguala Norte

O Algarve, que tradicionalmente até tinha taxas de desemprego inferiores à média, tem vindo nos últimos trimestres a aproximar-se da região Norte e até a superá-la, como aconteceu no primeiro trimestre de 2010. Estas duas regiões eram as que tinham as taxas de desemprego mais elevadas no segundo trimestre, 12,2 por cento, tendo ainda assim descido face ao início de 2010. As taxas mais baixas verificaram-se nos Açores (6,2%) e no Centro (7,7%). Em relação ao ano passado o desemprego aumentou em todas as regiões, com excepção dos Açores.

Emprego recua

A economia continua sem conseguir criar emprego que permita absorver o elevado número de desempregados. No segundo trimestre do ano, perderam-se 85 mil postos de trabalho face ao ano passado e 17 mil em relação ao primeiro trimestre de 2010. As principais vítimas foram os trabalhadores pouco qualificados.

Contratos a termo

No segundo trimestre de 2010, as empresas apenas contrataram pessoal a termo. Só este vínculo laboral registou um aumento (9,5 por cento homólogo e 2,1 por cento trimestral), enquanto os trabalhadores do quadro e com outros vínculos, nomeadamente recibos verdes, viram o emprego diminuir. Foi sobretudo nos "outros tipos de contrato de trabalho" que o emprego teve a quebra mais significativa, superior a 11 por cento.


Mulheres

Além das pessoas que estão sem emprego, há ainda as que trabalham menos do que gostariam. Esta realidade voltou a ganhar expressão entre Abril e Junho do corrente ano. O INE deu conta de mais de 74 mil pessoas na situação de subemprego visível, isto é, a trabalharem menos horas do que desejariam. Trata-se de um aumento de 17 por cento face ao ano passado e de 12,2 por cento face ao trimestre anterior. É preciso recuar ao primeiro trimestre de 2008 para ter um número mais elevado do que este. A situação afecta sobretudo as mulheres (66 por cento do total).

via O Público

Posted by por AMC on 10:23. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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