Inflação cai a zero e alivia o Banco Central do Brasil
O país que ainda guarda na memória a sombra dos anos em que a inflação corroía diariamente os salários e a riqueza dos trabalhadores ganhou uma trégua no mês passado. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficou completamente estável em junho: chegou a zero. O resultado é o mais baixo desde junho de 2006 — quando houve deflação de 0,21% — e foi puxado pelos preços de alimentos e bebidas, que caíram 0,9% em junho e determinaram as oscilações no primeiro semestre. O resultado alivia a pressão sobre o Banco Central, que, apesar da queda inesperada, deverá decidir por uma nova alta de 0,75 ponto percentual na taxa básica de juros (Selic) em julho, com a finalização do processo em outubro, segundo os analistas de mercado.Por conta de eventos climáticos, os produtos alimentícios pressionaram o índice na primeira metade do ano e, em junho, protagonizaram a desaceleração dos preços na comparação com maio, quando subiram 0,43%. No mês passado, o grupo também surpreendeu a maior parte do mercado, que estimava uma inflação geral em torno de 0,12%. Apesar da surpresa, a desaceleração não deve motivar grandes alterações nas projeções para a inflação nos próximos meses, como explicou a economista do Banco Santander Tatiana Pinheiro. “Acontece que quando a gente olha para os núcleos da inflação, os índices não tiveram desaceleração tão forte. Não podemos esquecer ainda que os preços de alimentos são cíclicos. Hoje caem, amanhã voltam a subir”, ponderou. Para Tatiana, as pressões na inflação devem continuar pela via dos serviços. Como exemplo, destaca a alimentação fora do domicílio, que a despeito da queda dos produtos alimentícios, aumentou 0,8% em junho. “Isso indica que a demanda aquecida está dando condições de o comerciante aumentar seus preços, mesmo que o alimento que ele comprou tenha saído mais barato”, explicou. Mais otimista, o economista chefe da Prosper Corretora, Eduardo Velho, afirmou em relatório que a desaceleração dos núcleos da inflação (1) foi a grande surpresa do IPCA de junho. Na medição que exclui os alimentos e os preços administrados, o indicador caiu de 0,61% para 0,4%, segundo a corretora.
Mesmo com o alívio em junho, o peso do grupo alimentação no orçamento do brasileiro foi decisivo no acúmulo de 3,09% de inflação no ano, segundo a coordenadora de índices de preços do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Eulina Nunes dos Santos. A pesquisadora destacou ainda que a indexação de preços em itens não relacionados aos alimentos, como planos de saúde, remédios e aluguéis, educação e serviços domésticos, também afetam a inflação no ano. Além disso, historicamente, o brasileiro muda seus hábitos de consumo durante a Copa do Mundo. A cada quatro anos, passa a gastar mais com camisetas, material esportivo, televisores e até vuvuzelas, o que altera o foco de pressão sobre os preços.
Exatidão
O conceito define os cálculos que tentam livrar os índices de inflação de efeitos localizados, como uma quebra de colheita, que encarece verduras e legumes em um único mês, ou reajustes escolares, que têm efeito na inflação apenas no começo do ano. O objetivo é traçar uma projeção mais exata da inflação por um período mais longo.
Imóveis mais caros
A forte demanda do Brasil por residências e obras de infraestrutura está aquecendo fortemente a indústria de construção. Em contraponto, quanto mais o setor cresce, mais os preços dos insumos e da mão de obra se elevam. Erguer uma casa, em junho, ficou 0,66% mais caro. O número desacelerou frente o resultado de maio, quando a taxa havia chegado a 1,61%. A despeito desse recuo, o ano já acumula uma alta de 4,33% — o que significa que para o consumidor que está comprando um apartamento na planta, por exemplo, os contratos atrelados à inflação do setor também ficaram mais caros.
A região do país que acumula a maior escalada desses preços é a Centro-Oeste: 5,23% de janeiro a junho. O custo elevado foi puxado pelo grande volume de empreendimentos no Distrito Federal e pelo dissídio coletivo dos trabalhadores, ocorrido em maio. Na média, a categoria conquistou 8,5% de ganho salarial, reajuste que impacta diretamente no custo das obras. “Fazendo uma conta rápida, a mão de obra representa cerca de 40% do nosso custo”, estimou Elson Ribeiro e Póvoa, presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon).
O aquecimento da economia não ocorre somente na construção. Todos os segmentos de consumo estão bastante demandados e os preços seguem em alta. O Índice Geral de Preços — Disponibilidade Interna (IGP-DI) avançou 0,34% em junho, reflexo dos preços no atacado, principalmente.
via Correio Braziliense
Posted by por AMC
on 09:58. Filed under
coisas do brasil,
ESPUMAS
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