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Na BBC Brasil: «Ausência do presidente português na cremação de Saramago gera críticas»


foto: Vitor Sorano

A ausência do Presidente da República portuguesa das cerimónias fúnebres de homenagem a José Saramago foi sublinhada pelos principais jornais brasileiros, como Estado de São Paulo, Correio do Estado e O Globo, para citar apenas alguns, assim como nos maiores portais online: G1, Yahoo, MSN, Terra e Uol. Idem na restante imprensa internacional. Basta clicar no Google e ler.
Têm razão as vozes que se chocaram com a atitude (ou com a falta dela): esperava-se uma outra nobreza e elevação. Esperava-se, no mínimo, que alguém que é Presidente da República e tem pretensões de o continuar a ser num 2º mandato, soubesse ao menos separar o político Aníbal, várias vezes atingido pela palavra certeira do escritor, do Chefe de Estado, entidade máxima na representação da Nação, em quem repousa o dever de honrar os portugueses não apenas por altura da imposição de condecorações do 10 de Junho.
É certo que em momentos extremos aquilo que primeiro se dispensa são as presenças para 'inglês ver'. É igualmente certo que Saramago seria o primeiro a fazer pouco caso de não ser honrado por um homem que considerava "o génio das banalidades". É ainda mais certo, para quem esteve presente na homenagem ou que a ela assistiu através da rádio e da televisão, que esta se fez na mesma, sem que Cavaco tivesse feito falta alguma. Quem ama a Língua Portuguesa, quem nasceu no País, admirou o homem, se fascinou com o escritor e se encanta com a obra que já cá estava e há-de ficar, não precisa do Presidente e muito menos de Aníbal para dignamente se curvar em respeito, reverência, reconhecimento e gratidão a José Saramago. Se há alguém que tem motivos para lastimar não ter estado com Portugal, esse alguém é o Presidente Aníbal. Por ter sido tão pouco da República. Por ter sido tão pouco dos portugueses a quem jurou e continua a prometer representar. Por ter sido tão pouco para si próprio, tão aquém do que poderia ter sido. Aos nossos olhos e aos olhos do Mundo mas, e acima de tudo, diante dos seus.

Leio na BBC:

A despedida de José Saramago, escritor que gerou polêmica durante toda sua vida, acabou gerando controvérsia política. O motivo foi a ausência do presidente da República de Portugal, Aníbal Cavaco Silva, que não interrompeu suas férias para estar presente na despedida de quem é considerado o maior escritor português do final do século XX.
As críticas a Cavaco Silva - que em 1991, quando era primeiro-ministro, vetou a candidatura do livro O Evangelho Segundo Jesus Cristo para o Prêmio Europeu de Literatura - já começaram no cemitério do Alto de São João, onde o corpo do escritor foi cremado no começo da tarde. Por causa do veto na época, que Saramago considerou uma censura, o escritor optou por viver na Espanha.
"A ausência do presidente é uma vergonha. Ele deveria estar aqui para prestar uma homenagem ao maior escritor português", falava exaltado o militante comunista António Fernandes Sabino.
As principais reações podem ter repercussão apenas no segundo semestre, durante a campanha para a eleição presidencial, em que Cavaco Silva concorre a um segundo mandato.
A ausência do presidente ficou mais evidente com a presença da vice-premiê do governo espanhol, Maria Teresa de la Vega, que chegou a discursar durante a cerimônia fúnebre.


No cemitério, cerca de três mil pessoas aplaudiram a passagem do corpo. Muitas delas portavam com cravos vermelhos - o símbolo da revolução de 25 de abril de 1974, que trouxe a democracia de volta a Portugal. Quando o corpo do escritor entrou na câmara onde foi cremado, foi aos gritos de "Saramago, a luta continua" - entre os populares, algumas pessoas gritavam em espanhol. Várias pessoas erguiam livros de Saramago.

Velório

Durante o período em que o corpo do escritor foi velado, mais de 20 mil pessoas foram se despedir do escritor. Com uma camiseta cinza com uma frase de Saramago - "Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara", tirada do romance Ensaio sobre a Cegueira -, e um boné preto com uma estrela vermelha com a foice e o martelo, símbolos do comunismo, a professora Maria Augusta Carvalho, contou como foi ir ver o adeus de Saramago.
"Eu vim de Santo Tirso, 300 quilômetros, para ver a cerimônia. Era um amigo, uma pessoa fora de série, que conheci nos anos 80. Uma vez, na apresentação de um livro, eu falei de um aluno que gostava muito dos livros dele. Depois de alguns dias chegou um pacote pelo correio com um livro com dedicatória para meu aluno", lembrou.
Com um ramo de cravos vermelhos na mão e vestida de preto, tentando segurar as lágrimas, a professora Helena Neves viajou 350 quilômetros, desde Viseu até a prefeitura de Lisboa, onde ocorreu o velório. "Vim prestar uma última homenagem ao homem, ao senhor, ao camarada".
Na cerimônia fúnebre, além da governante espanhola falaram o professor Carlos Reis, da Fundação José Saramago, a ministra da Cultura de Portugal, Gabriela Canavilhas, o secretário-geral do Partido Comunista Português, Jerônimo de Sousa, e o prefeito de Lisboa, António Costa.

Homenagem brasileira

A escritora Nélida Piñon representou a Academia Brasileira de Letras. "Vim como uma homenagem individual e coletiva. Este é o mérito maior de um grande artista, que é ser capaz de congregar o individual e o coletivo", contou a escritora.
Ela disse que na próxima quinta-feira, a Academia Brasileira de Letras - da qual Saramago era sócio-correspondente - vai realizar uma homenagem ao escritor, com a palavra de todos os membros.
Para o ensaísta e crítico literário Eduardo Lourenço - que como Saramago também recebeu o Prêmio Camões - o escritor está entre os maiores nomes da literatura portuguesa.
"O que se há de dizer para celebrar um autor excepcional, que deu a Portugal uma dimensão que antes dele só Camões? Foi um criador de mitos, e como dizia Fernando Pessoa, é o máximo que se pode pedir a um criador"

Posted by por AMC on 16:22. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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