Carlos Monsiváis Aceves: 1938 -2010

Leio em O Público:

Em meados da década de 1990, José Saramago encontrou-se com o seu companheiro mexicano das letras Carlos Monsiváis na defesa da causa zapatista em Chiapas. No último fim-de-semana, o destino voltou a juntar os dois vultos da literatura: faleceram ambos, Saramago, na sexta-feira, Monsiváis, no sábado, igualmente vitimados por doenças que se tinham manifestado anteriormente.
Carlos Monsiváis sucumbiu aos 72 anos, não tendo conseguido recuperar de um fibrose pulmonar que tinha obrigado ao seu internamento, no dia 1 de Abril, no Instituto Nacional de Ciências Médicas e Nutrição Salvador Zubirán, na Cidade do México.
Como também aconteceu com Saramago, o funeral de Monsiváis foi transformado num tocante momento de homenagem nacional, mas, no caso do escritor mexicano, sem as reservas de quadrantes políticos diversos das suas reconhecidas opções de esquerda. Segundo o relato do jornal espanhol “El País”, Monsiváis teve uma homenagem marcada por um grande ecumenismo político, com a presença, no sábado e no domingo, entre o Museu e o Palácio das Belas-Artes da Cidade do México, tanto de responsáveis do governo nacional, de direita, como dos autarcas locais, de esquerda.
Carlos Monsiváis Aceves, nascido na Cidade do México a 4 de Maio de 1938, era efectivamente reconhecido como uma grande figura, não só das Letras como da vida cultural e pública mexicana. O seu compatriota e também escritor Adolfo Castañón escreveu uma vez que Monsiváis era “o último escritor público do México”, não tanto pelo reconhecimento generalizado dos seus livros – e publicou mais de meia centena –, mas porque não haveria nenhum mexicano que não soubesse quem ele era e o não reconhecesse na rua, mesmo não o tendo lido.
É que, além de escritor, Monsiváis era sobretudo reconhecido como cronista e polemista, com obra dispersa por jornais, suplementos literários e revistas. Mas era também alguém empenhado na vida pública, com participações recorrentes em programas da rádio e da televisão, em colóquios e seminários. Nada do que dizia respeito às causas públicas lhe era estranho, desde que, ainda na década de 60, se envolveu no movimento estudantil, e depois protagonizou ou defendeu causas como o feminismo ou a legalização do aborto. Mas também a luta contra a tradição das touradas – o que chegou a ser visto como uma contradição com a posição pró-aborto...
“De touros, não falarei nunca. É um espectáculo de barbárie a que chamam arte. E também nunca falaria de futebol. Juan Villoro disse que ‘deus é uma bola’. Neste caso específico, sou ateu. Quem sabe se, cinco segundos antes de morrer consiga entender do que se trata e levar esse segredo comigo para um túmulo redondo”, disse Monsiváis numa entrevista ao “El País”, em 2006.
Antologias poéticas, biografias (de Frida Kahlo e de Octávio Paz, por exemplo), ensaios (“Aires de Família: Cultura y sociedad en América Latina” venceu o Prémio Anagrama de Ensaio, em 2000) fazem parte da extensa bibliografia de Monsiváis. Mas o escritor interessou-se também pela rádio, pelo cinema e pela música (escreveu o livro “Rostros del Cine Mexicano” e dirigiu, durante uma década, o programa de rádio “El cine y la Crítica”). E pela política, claro – na referida entrevista ao “El País”, sentenciou: “Parece-me inevitável que a América Latina eleja regimes democráticos que no fundo enfrentem o combate contra a desigualdade”. 

# Para saber mais: clipping aqui.
# Perfil aqui e aqui.




Cf. também:

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teleSUR TV - ‎22/06/2010‎

Tras la incineración de los restos del cronista, ensayista, periodista y literato mexicano Carlos Monsiváis, las cenizas fueron trasladadas al Museo del ...

Fue un escritor inabarcable‎ - El Universal (México)
Carlos Monsiváis , el escritor mexicano, murió hoy a los 72 años,‎ - Rafaela.com
La obra literaria de Monsiváis‎ - proceso.com.mx (Suscripción)
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