O 'boom' de biografias políticas no Brasil pré-eleitoral
Com o pretexto das eleições, as editoras preparam múltiplos lançamentos e reedições de biografias de figuras públicas e outras personalidades que circundam o poder.
Na edição de Maio (nº 256, pág. 28), da Revista de Imprensa há um artigo interessante onde se conversa com os biógrafos que escrevem essas histórias e se revelam detalhes curiosos do seu relacionamento com o entrevistado ou biografado. Lula, Marina Silva, Sarney e António Carlos Magalhães são alguns dos exemplos abordados no artigo Jornalismo íntimo de Pamela Forti.
Para ler na íntegra: aqui
Denise Paraná, autora de Lula, o Filho do Brasil
"Convivendo com o Lula, além daquilo que eu já sabia - de que ele era um dos personagens centrais de nossa história atual - descobri também que sua história de vida era fantástica. Mais do que isso, era reveladora de processos históricos vividos por toda a nação. A migração de massa que houve de nordestinos para o sudeste industrializado, a repressão militar com tortura, os acidentes de trabalho, as doenças, tudo o que era mais emblemático no Brasil, foi experienciado pela família do Lula.(...)
Não houve uma entrevista na qual eles [Lula e família] não se emocionassem, não chorassem. Eles me contaram sobre sua avó alcoólatra, que tantas vezes encontraram caída no chão; sobre a pobreza trágica que conheceram (suas roupas apodreceram no corpo durante a travessia de pau-de-arara de Pernambuco para São Paulo); sobre as torturas que seu pai impingia aos filhos e o fato dele ter sido enterrado como indigente, entre outros tantos motivos de sofrimento. Consultei uma quantidade enorme de fontes de pesquisa numa época inglória, quando ainda não havia internet e às vezes tínhamos que viajar atrás de um artigo. (...)"
Fernando Morais, autor de As Sete mortes de ACM
"A iniciativa foi minha. Tinha muito interesse [em escrever sobre Antônio Carlos Magalhães], ele era o político brasileiro vivo que mais tempo tinha convivido com o poder no Brasil, ou como protagonista ou como testemunha. Do Juscelino se estendeu depois até o Lula, com um hiato de 2 anos que foi o período do Itamar Franco. Foi o único período da vida política do Antônio Carlos Magalhães que ele ficou longe do poder. (...). Nesse período, ao longo desses nove anos que eu gravei com ele, eu morei dois anos na França. Ele ia muito à Europa. Toda vez que ele viajava, ele me avisava e ficava hospedado num hotel pertinho da casa em que eu vivia, eu e minha mulher vivíamos lá. Então eu passava o dia com ele gravando, pra poder adiantar o trabalho, atualizar, ver se tinha acontecido coisa nova."
Marília de Camargo César, autora de Marina Silva, uma reportagem biográfica
"Uma coisa que me deixou muito surpresa foi quando ela me contou sobre a eleição dela pro Senado, a primeira vez, quando ela foi eleita contra todas as probabilidades. Teve um jornalista do Acre que escreveu uma matéria bem depreciativa, dizendo que uma coisa era ser vereadora em Rio Branco, outra era ser senadora em Brasília, ao lado de políticos experientes. E que agora ia cair a máscara, a Marina ia se revelar e todo mundo ia ver que ela era uma pessoa despreparada. Ela virou pra mim e falou: 'Aquilo me tocou muito, foi muito bom pra mim. Porque o que ele estava falando era verdade' . Aí ela foi atrás de livros sobre o Senado, foi pra Brasília, procurou pessoas que a ajudaram. (...)
Eu quis saber se o tempo em que ela militou no movimento estudantil se ela perdeu a fé. Porque quando ela milita, vira uma guerreira marxista. Eu queria saber se naquele momento, ela tinha perdido a fé. E ela disse que não, que em nenhum momento perdeu. Mas eu fui perguntar para outras pessoas. Porque nesse período de militância todo mundo era ateu, marxista. Havia pessoas da Igreja, mas dentro do pessoal mais radical, era difícil. E eu ouvi, pela voz de outras pessoas, que ela perdeu sim."
Regina Echeverria, autora de Sarney, a biografia
"Eu vi uma frase de uma líder comunitária de São Paulo que dizia: 'A gente só odeia quem a gente não conhece'. Achei maravilhosa a frase. Todo mundo tem uma versão da história e toda mundo tem uma história pra contar. (...). Eu tive que parar o livro quando começou a crise do Senado. Estou juntando um monte de documentos agora para escrever o final. Como ia sair o livro sem contar esse episódio difícil? Ele passou por vários episódios difíceis. Um personagem muito atacado, muito polêmico, depois muito badalado... Como esse homem passeou pela história do poder, entre altos e baixos! (...) Foram vários episódios que eu não conhecia, principalmente durante o governo militar. No governo dele também. Foi um período doido, esse homem achou que ia botar um pijama e ficar pensando sobre a vice-presidência e de repente morre o Tancredo! Que loucura!"
Para ler na íntegra na edição 256 da Revista de Imprensa (Maio de 2010): aqui
Posted by por AMC
on 12:28. Filed under
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