«1º de Maio: a luta também deve se voltar para o futuro»
por Marina Silva
(...) Quero aproveitar este espaço, no entanto, para contribuir nesta data festiva e de luta com uma reflexão um tanto diferente. Quero convidar trabalhadoras, trabalhadores e suas lideranças a se voltarem para debater o papel do movimento sindical na luta pelo Desenvolvimento Sustentável.
Primeiro, reconheço que a questão ambiental tem avançado no interior dos sindicatos, principalmente com a criação de secretarias, departamentos e outros espaços dedicados a tratar das questões ecológicas e do modelo de desenvolvimento econômico.
Lembro aqui a contribuição singular de Chico Mendes, com quem fundei a CUT no Acre. Em 1988, no Congresso da Central, ele lançou, apoiado por militantes do movimento sindical do Estado, a idéia das Reservas Extrativistas. Aquilo que era considerado por muitos um sonho, se transformou, com o decorrer do tempo, em política pública. Na minha gestão, como ministra do Meio Ambiente, ampliamos as reservas extrativistas para além da Amazônia, com a duplicação da extensão territorial dessas unidades de conservação e do total de famílias atendidas (de 20 mil para 40 mil beneficiadas).
Também quero ressaltar o trabalho de organismos como a OIT (Organização Internacional do Trabalho), que recentemente lançou um estudo sobre o crescimento dos empregos verdes e a importância deles para enfrentar as mudanças climáticas.
Sabemos, pela ampla maioria da comunidade científica, que a crise ambiental e as transformações climáticas globais estão relacionadas com o modelo de desenvolvimento atual, notadamente com a sua forma de produção e consumo.
Nesta realidade, a indústria, tanto urbana, como rural, tem um papel fundamental. Hoje, ela é parte maior do problema, mas pode avançar para ser solução, dependendo das escolhas e do esforço comum da sociedade, particularmente da visão antecipatória das lideranças de trabalhadores e empresários, que devem atuar juntas pela geração de empregos verdes e pela construção do Desenvolvimento Sustentável no Brasil.
O poder público, em especial o governo federal, também cumpre papel importante nesse processo. No entanto, sua participação decisiva depende da pressão da sociedade civil e do compromisso dos governantes com essa causa.
O nosso país tem grande potencial para avançar na geração de empregos verdes. A adoção de políticas para o incentivo às energias renováveis, por exemplo, poderá criar milhões de postos de trabalho. Os empregos verdes preservam o meio ambiente, diminuem as emissões de CO2 e contribuem para a qualidade de vida, à medida que valorizam a saúde e o bem-estar das trabalhadoras e trabalhadores.
Quando as centrais sindicais colocam a justa reivindicação da redução da jornada de trabalho e a criação de novos empregos, defendendo o desenvolvimento com valorização do trabalho, não podem perder a oportunidade de, no 1º Maio, afirmar também um compromisso da nossa geração com nossos filhos e todos nossos descendentes para assegurar-lhes a qualidade de vida que desejamos e a preservação da vida no planeta.
Marina não perde uma e mostra como a questão da sustentabilidade, não apenas se enquadra, como é consequência natural e, portanto, absolutamente lógica de qualquer discurso e posicionamento político, social, económico, ambiental, cívico e ético. A fluidez dessa articulação é simples de explicar: ela acontece porque Marina Silva não é uma ideóloga, não é uma teórica, nem uma académica e muito menos ainda uma utópica. Marina fala do que sabe e diz aquilo que conhece e fez. Como ela mesma recorda, ao lado de Chico Mendes, mítico sindicalista que morreu pela verticalidade absoluta das suas convicções, e de tantos outros mais implementou no Acre e na Amazônia um modelo de acção onde a luta pelos direitos dos trabalhadores era, é e continua a ser inalienável da luta pelos direitos do Planeta. Marina sabe de um saber de experiência feito que, não apenas os dois são compatíveis, como se afirmam cabalmente indissociáveis.


