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Livros | 25 anos sobre o Rock in Rio Brasil


Em 1964, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Império Serrano apresentava ao Brasil um reflexo da que era a cultura carioca até então: “O Rio dos sambas e batucadas, dos malandros e mulatas, de requebros febris”. Em março do mesmo ano, enquanto o país ainda cantarolava o samba-enredo “Aquarela Brasileira”, de Silas de Oliveira, os militares executaram o famoso golpe de Estado, dando início à ditadura militar. O panorama cultural e político do país perdurou até o ano de 1985, quando um festival de música, representado por uma guitarra em forma de América do Sul abriu não somente a cabeça dos brasileiros para os acordes do rock’ n’ roll, mas também o cenário da política do país com a eleição de Tancredo Neves, o primeiro presidente civil eleito em 20 anos.
A importância social e cultural do Rock in Rio não é novidade para ninguém. Entre dezenas de shows inéditos e históricos, passaram pelo palco da Cidade do Rock, em Jacarepaguá, zona oeste da cidade, bandas como Queen, Iron Maiden, AC/DC, Ozzy Osbourne, Scorpions, James Taylor, Nina Hagen e The B-52's. Entre os brasileiros, se apresentaram Ney Matogrosso, Gilberto Gil, Os Paralamas do Sucesso, Erasmo Carlos e Barão Vermelho, entre outros. Porém, as histórias e o conhecimento das armações, desafios e ralações que foram necessárias para tirar o imponente projeto do papel poucos conhecem. Felizmente, o criador do logotipo do festival e autor do livro Metendo o pé na lama (Tinta Negra), Cid Castro, compartilha com o público os momentos de emoção, aflição e estresse por ele vividos no ano em que o Brasil começava a limpar a barra da calça após pisar por duas décadas em um lamaçal político-cultural.
A obra foi lançada em 2008, sob o selo da editora Scortecci e acaba de ganhar uma nova edição pela recém-criada Tinta Negra Bazar Editorial, marcando os 25 anos da realização do festival.
Na época, o autor era um jovem de 23 anos, vindo de Barra do Piraí – município localizado no centro da região sul fluminense –, que tentava ganhar a vida na cidade grande. Castro relata não só os bastidores do festival, mas o frenesi da vida de um jovem sem dinheiro no bolso, dedicado ao trabalho e, claro, ao estilo sexo, drogas e rock’ n’ roll. Com a ajuda de amigos, o autor consegue um emprego na agência de publicidade Artplan, comandada por Roberto Medina. A partir daí, o livro vai mostrando como o jovem conseguiu ascender rapidamente na empresa, contando com uma mistura de talento, ousadia, sorte e malandragem. Assim, Castro conseguiu virar assistente do ilustrador José Luís Benício e, novamente com a ajuda de amigos, viu seu projeto de logotipo ser aprovado para o Rock in Rio, sem nem mesmo fazer parte da equipe de criação. Ou seja, de uma hora para outra, o jovem assistente estava envolvido da cabeça aos pés com a organização do festival que ocuparia um terreno de 250 mil m² em Jacarepaguá e atrairia cerca de 1,3 milhão de pessoas durante 10 dias de um mês de janeiro chuvoso. O autor conta a rotina na empresa de publicidade, passando por seus processos pessoais de criação e inspiração, em uma verdadeira aula de publicidade. Além das confusões pré-festival, Castro exibe o seu ponto de vista privilegiado de dono de um crachá de livre acesso durante o festival, passando pelo palco de 5 mil m² durante as apresentações, camarins, refeitório, além das bizarrices que aconteciam no meio do público do lado de dentro e fora da Cidade do Rock. E como em qualquer boa história, corre em paralelo o romance com Nanda, uma colega de trabalho e conterrânea do autor.
Castro não deixou de relatar a importância de alguns políticos na história do festival, como Tancredo Neves, que convenceu o então governador Leonel Brizola a desembargar as obras, viabilizando o evento. Neves foi lembrado novamente no capítulo que aborda o quinto dia de shows, quando o autor afirma ter assistido, debaixo de chuva e lama, a sua vitória nas eleições presidenciais, feita pelo apresentador Kadu Moliterno. O livro conta ainda com uma série de depoimentos de artistas e jornalistas, que falam de sua experiência pessoal de estar presente no primeiro Rock in Rio, como Frejat, Evandro Mesquista, Alceu Valença, Ivan Lins, Sidney Garambone e Ilze Scamparini.
Metendo o pé na lama é um relato apaixonado de um jovem sobre um festival de música que mudou o panorama musical brasileiro. Após sua realização, Cid Castro foi promovido a diretor de arte e, em julho do mesmo ano, viu sua marca ser utilizada no Live AID, de Bob Geldof. Em 1989, mudou-se para a Europa, onde trabalhou em várias agências de publicidade, como JW Thompson e DDB Publicidade Lisboa. Atualmente, mora em Portugal e trabalha como freelancer.
No Rio de Janeiro, o Rock in Rio teve mais duas edições, em 1991 no estádio Maracanã e em 2001, novamente na cidade do rock. Em 2004, ganhou sua primeira versão internacional, ocorrendo na cidade de Lisboa. Desde então, ocorre uma versão a cada dois anos na capital portuguesa e, em 2008, o projeto foi estendido para Madrid.
Após 1985, a capital fluminense passou a ser um pólo não só de samba, mas de rock, pop, rap, funk, tornando-se um dos centros culturais mais democráticos do mundo. E por falar em democracia, o Brasil deu adeus à repressão e à censura da ditadura militar, que, felizmente não voltou mais. Ao menos, não oficialmente. Viva o rock’ n’ roll.


> Cid Castro e Rock in Rio na Saraiva.com.br

> Assista à algumas apresentações históricas do Rock in Rio de 1985











via Saraiva Conteúdo


Posted by por AMC on 12:12. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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