Hoje no público, duas boas surpresas. Um perfil de Baltasar Garzón, o juiz que a Espanha sentou no banco dos réus, envergonhando com isso todos os que lutam por uma sociedade mais justa e menos corrupta. E um tema a que é pouco comum ver conceder honras de capa, originalmente publicado na Current Biology. a história de duas primatas que durante semanas se recusaram a abandonar os filhos que lhes morreram. O relato das duas experiências observadas entre a comunidade de chimpazés de Bossou, na floresta da Guiné-Conacri, sugere a continuidade filogenética de um comportamento que atesta de modo exemplar e impressionante a estreita ligação que se estabelece entre mãe e filho.
Deixo ambos os recortes de jornal na íntegra, disponíveis à leitura clicando no link abaixo para expansão do texto.
Garzón, o homem sem medo
Em todo este caso há um cruzamento de personagens, choque de personalidades e uma legião de ofendidos: os acusados pelos juiz mais popular de Espanha. O homem que queria a extradição de Pinochet "está em baixo, mas não se entrega", afirma quem diariamente priva com ele.Em todo este caso há um cruzamento de personagens, choque de personalidades e uma legião de ofendidos: os acusados pelo juiz mais popular de Espanha. O homem que queria a extradição de Pinochet "está em baixo, mas não se entrega", afirma quem diariamente priva com ele.Exposição de fotografias de vítimas do franquismo. foto: Reuters
Está na ribalta desde 1988, quando chegou à Audiência Nacional de Madrid, o tribunal que investiga e instrui os processos contra o terrorismo. Teve um percurso fulgurante, contraditório e ímpar. Venerado e odiado. Agora, o juiz que quis extraditar Augusto Pinochet e emitiu um mandado de captura contra Bin Laden vive momentos amargos. No horizonte está o fim da sua carreira como magistrado, acusado de prevaricação por ter reivindicado competências que não tinha no processo das vítimas da repressão franquista. Este é o perfil de Baltasar Garzón, o mal-amado.
"Atrais a atenção e a partir daí és transformado em estrela, numa vedeta, em protagonista mediático." Nesta frase do seu livro Um Mundo Sem Medo, publicado em 2005, Garzón defende-se dos que lhe atribuem um excessivo desejo de protagonismo. Uma preocupação tardia. Na verdade, sempre esteve sob os holofotes. O que se deve à forma peculiar de dirigir os casos que investiga. "Ele é muito polícia, gosta de estar presente nas operações policiais, devia ser magistrado do Ministério Público", aponta um especialista de tribunais, um crítico do juiz, que prefere o anonimato. "A maioria dos amigos de Garzón não são juízes, são polícias", corrobora um apoiante do juiz. Que também pede discrição. Num campo e noutro existe a consciência de que nunca como agora a inimizade como a proximidade a Baltasar Garzón devem ser cuidadosamente administradas. No edifício da Audiência Nacional da Calle Génova, as amizades dos colegas são escassas. Não chegam aos dedos de uma mão: são os juízes Santiago Pedraz e Fernando Andreu e a magistrada antiterrorismo Lola Delgado. Por isso, foi natural que, no casamento da filha de Garzón, no Verão de 2008, nos montes do Pardo, oficiado pelo alcaide de Madrid, o conservador Alberto Ruiz Gallardón, fosse maciça a presença de polícias. "Estava lá a cúpula da polícia de investigação, os seguranças eram tantos que parecia uma cimeira europeia", ironiza um dos convidados.
Nas primeiras páginas
A forma própria de investigar, que é reconhecida a Baltasar Garzón, está na origem de que ao 5.º Juízo da Audiência Nacional de Madrid, de que é titular, cheguem os processos mais importantes. Não é por capricho do juiz, submetido, como todos os seus pares, ao sorteio dos processos. Mas por desejo dos agentes, que, por vezes, apenas tramitam os casos à Audiência Nacional quando Garzón é juiz de turno. Preferem a sua forma de trabalhar. Apesar das estritas normas por ele impostas. "Não tolera que se façam irregularidades", relata um seu defensor: "Os seus presos em regime de incomunicação em dependências policiais estão sempre a ser filmados para garantir que não são torturados."
A exposição pública foi, assim, ganha a pulso pela sua intervenção em casos de grande repercussão. Na memória está o acolhimento das associações galegas das mães contra a droga quando Baltasar Garzón, chegado de helicóptero, entrou num dos barcos dos narcotraficantes acusados na Operação Nécora, nos anos 90. "Garzón, vales um montón", gritaram-lhe no porto de Vigo. A Galiza vivia a evidência de que o crime compensa: os "narcos" acumulavam fortunas bem visíveis na compra de "paços" medievais, de hectares de boa vinha de alvarinho ou de espampanantes iates e carros desportivos. Era um segredo de polichinelo nas Rias Baixas que o dinheiro provinha da cocaína com origem na Colômbia. Crime, portanto. Mas sem castigo. Por isso, aquele aplauso a Garzón, que dirigiu a acção de 350 agentes a partir da esquadra de Villagarcia de Arosa. "É um juiz de garantias, que tem sempre presente as vítimas", assegura um amigo de décadas.
Tem sempre a mesma forma de actuar. Na noite de domingo 13 de Dezembro de 1992, pelas 23 horas, apresentou-se na sede da Direcção-Geral da Guardia Civil em busca de provas contra responsáveis da Unidade Central de Investigação Fiscal e Antidroga. Permaneceu nas instalações até às cinco da manhã do dia seguinte e abriu o Caso UCIFA, que levou à condenação de um coronel, um tenente-coronel e vários sargentos por indução ao narcotráfico. A espectacularidade da acção e a notoriedade dos afectados, dirigentes de um corpo de segurança, deram-lhe as primeiras páginas dos jornais. "É um homem independente, faz o que acha que deve fazer, não é um tipo que venere o poder", acentua um seu apoiante. Mas esta forma de agir provocou-lhe a distância de muitos colegas. Em causa, diferenças de procedimentos e, já então, acusações de protagonismo. Vindas mesmo dos que, como ele, estiveram na progressista Associação Juízes para a Democracia.
As divergências surgem, também, pela forma como instrui processos e despacha os procedimentos. Em Portugal, houve queixas pela forma como estava redigido o pedido de extradição de Teletxea Maia, o basco acusado pela justiça espanhola de ser membro do aparelho de "mugas", encarregue de facilitar aos "comandos" a passagem da fronteira hispano-francesa. Teletxea não foi extraditado e continua no nosso país. "A má fama que tem como instrutor de processos não corresponde à realidade", afirma um seu defensor. "As suas investigações acabam sempre em macroprocessos, com grandes dimensões e algo desordenados", justifica. Os críticos, no entanto, referem o recurso excessivo às prisões preventivas. "Garzón não era metódico, ganhou o método com o tempo e tem grande capacidade de trabalho", contrapõe um amigo. No seu livro Um Mundo Sem Medo, ao estilo de confissão autobiográfica, o juiz defende-se: "Sou consciente de que, em muitas ocasiões, os ataques são parte de uma estratégia de provocação dos afectados para me inutilizarem como juiz instrutor."
Os anjos de Charlie
Tudo se precipitou em 1993. Em véspera das eleições de 6 de Junho, com os socialistas submersos em casos de corrupção - do Banco de Espanha à Guardia Civil -, Felipe González é seduzido por uma ideia. José Bono, então presidente do Governo regional de Castela-La Mancha, reúne uma série de notáveis da sociedade civil num almoço na quinta Quintos de Moura, em Toledo. No repasto desse sábado 15 de Abril está Garzón. González convida-o para as listas, e o juiz é o "número dois" pelo círculo de Madrid, a seguir ao dirigente socialista e à frente de um peso-pesado do partido do punho e da rosa, Javier Solana. Os socialistas ganham as eleições e, em 30 de Julho, Baltasar Garzón é nomeado delegado do Governo para o Plano Nacional sobre Droga, com a categoria de secretário de Estado. As mães galegas rejubilam, mas o juiz não está contente. Não tem o controlo sobre a investigação policial ao narcotráfico. A saída de Antoni Asunción de ministro do Interior e a chegada de Juan Alberto Belloch, que acumula as pastas do Interior e da Justiça, devolvem Garzón ao confronto entre pares. Belloch, que passou para a história política espanhola como "ministro duplex", é magistrado de profissão. E um dos críticos dos métodos do juiz. O choque está garantido.
Apesar do melindre da situação e de um Executivo sobre pressão que pretendia recuperar a confiança dos cidadãos no Estado, as desavenças são públicas. Com o novo "biministro" chegam três mulheres conhecidas como "os anjos de Charlie" de Belloch, numa apropriação espanhola da série televisiva da cadeia ABC norte-americana: a advogada Paz Fernandéz Felguerosa, a então secretária judicial Maria Teresa Fernández de la Vega, hoje vice-presidente do Governo de Rodríguez Zapatero, e a juíza Margarita Robles. As três são distantes de Baltasar Garzón.
Poder x 3
O juiz não está cómodo. Pergunta ao novo ministro qual é a sua situação. Indaga sobre as suas competências. Alega que tem que administrar os seus tempos. "Quem administra os tempos neste ministério sou eu", responde-lhe Juan Alberto Belloch. Em 6 de Maio, Garzón anuncia a sua demissão. Três dias depois entrega a acta de deputado e abandona o Parlamento. Passam duas semanas e regressa ao 5.º Juízo da Audiência Nacional. Em menos de um ano alucinante, Baltasar Garzón passou pelos três poderes do Estado democrático: legislativo, como deputado; executivo, como membro do Governo; judicial, no regresso ao seu juízo no edifício da Calle Génova.
Garzón retoma as investigações aos Grupos Antiterroristas de Libertação (GAL), a rede de terrorismo de Estado contra a ETA. Há surpresa nos socialistas. Mas a sociedade espanhola, refém da sua tendência bipolarizadora, não questiona o passagem imediata, sem período de nojo, de um político à sua função originária de juiz. Os que hoje o criticam, aplaudiram. Os que agora o defendem, então censuraram. No final das investigações aos GAL, José Barrionuevo, antigo ministro do Interior de Felipe González, e Rafael Vera, ex-secretário de Estado, são condenados a dez anos de prisão por envolvimento no sequestro do cidadão francês Segundo Marey, que foi confundido com um etarra. Razão pela qual, comentando a actual situação do juiz e a possibilidade do fim da sua carreira, Barrionuevo não teve reparos. Acusou-o de golpista. "Surpreende-me que pessoas próximas ao PSOE apoiem Garzón", lamentou. A atribuição, no organigrama reconstruído por Baltasar Garzón, da paternidade dos GAL a um "senhor X", apontando ao chefe do governo González, provocou nos socialistas uma quebra de credibilidade que favoreceu a vitória de José María Aznar em 1996. Só recentemente, num encontro de muitas horas, fortuito e num espaço limitado, Felipe González e Garzón quebraram o gelo. Foi em 2003, num voo de regresso de Nova Iorque a Madrid.
Apesar destas vicissitudes, o juiz sempre contou com a estima dos responsáveis do Ministério do Interior. Com Aznar no poder, Baltasar Garzón manteve uma boa relação com o ministro Jaime Mayor Oreja. Insuficiente para que o Governo dos conservadores o apoiasse para chegar ao Tribunal Penal Internacional. Ou que presidisse à Audiência Nacional. As críticas públicas à presença de Espanha no "trio dos Açores" e a sua oposição à guerra do Iraque irritaram José María Aznar. Agora, as suas investigações à "rede Gurtel", a corrupção de dirigentes conservadores, colocaram-no na mira do Partido Popular. "Zapatero respeita-o mas não o apoia, o único apoio que tem no Governo é do ministro do Interior, Alfredo Pérez Rubalcaba", afirma um amigo.
Na base da estima de Oreja e Rubalcaba estão as investigações do titular do 5.º Juízo da Audiência Nacional sobre a ETA. Não, apenas, por Garzón ter sido, em 1989, o primeiro juiz espanhol a ir a França interrogar etarras. Mas por uma investigação inédita: a ETA e o braço político Batasuna formavam parte de uma estrutura comum, a coordenadora KAS, que era dirigida pela ETA. Seguindo esta pista, o juiz chegou a toda a complexa rede da organização terrorista: das juventudes ao aparelho internacional, das finanças ao sector político, que acabou por ser ilegalizado. O cerco aos etarras apertou-se drasticamente, muito para além da estrutura militar, dos "comandos". Nas paredes do País Basco surgiu a resposta: o nome de Garzón começou então a aparecer no centro de um alvo. A ETA confessava-se tocada.
Um homem de confronto
Não é por acaso que Baltasar Garzón é o juiz da Audiência Nacional com mais medidas de segurança. Cada trajecto da sua residência de classe média nos arredores, em Pozuelo de Alarcón, à Calle Génova, de Madrid, envolve muitos meios. A vida deste homem de 54 anos, casado e com três filhos, é "acompanhada" por uma legião de seguranças. Na sua moradia há vigilância permanente da Guardia Civil, com guarida incluída. Insuficiente, no entanto. Há anos, o seu cão, um dissuasor pastor-alemão, apareceu drogado. E, na cama do juiz, alguém deixou uma casca de banana.
O reconhecimento internacional surgiu, em 1998, com o pedido de extradição de Augusto Pinochet, então de visita a Londres. Um caso que desconcertou os britânicos, embaraçou a diplomacia espanhola de Aznar e arrasou a credibilidade de Margaret Thatcher: a "dama-de-ferro" da democracia-farol da Europa era amiga de um ditador. Esta dimensão popularizou-o. Mas ele já seguia um exemplo. "Sempre considerei Falcone um grande profissional e um modelo", confessa no seu livro. Admirador, portanto, de Giovanni Falcone, o magistrado antimáfia, assassinado em 23 de Maio de 1992 num brutal atentado com mil quilos de explosivos na auto-estrada entre o aeroporto e a cidade de Palermo, na Sicília. Garzón tem em comum com Falcone a frontalidade. Como o italiano, é um homem de confronto.
Esta característica do juiz espanhol, tão evidente, é colocada em segundo plano. Criticam-lhe o protagonismo, a vaidade mesmo. "Depois de pôr Pinochet de joelhos, como é que isso não sobe à cabeça?", justifica um amigo. Mas não foi por auto-suficiência que Baltasar Garzón aceitou o requerimento dos familiares das vítimas da repressão franquista. No seu livro apresenta-se como um homem que interpreta um papel e aceita o sacrifício que tal exige. Na versão popular, um justiceiro. E a lei da memória histórica, com a qual o Governo de Zapatero quis reparar os vencidos da Guerra Civil e de décadas de repressão, foi insuficiente. Daí a iniciativa do juiz, agora considerada prevaricação, por ter assumido competências que não tinha.
Neste caso há um cruzamento de personagens adversas ao juiz. "O Governo está contra ele porque, ao levar para foro criminal tudo o que está relacionado com a memória histórica, rebentou com a lei que foi obra de Fernandez de la Vega", assinala um apoiante. De la Vega, vice-presidente de Zapatero, é um "anjo de Charlie" de Juan Alberto Belloch, o "ministro duplex" de 1993, com o qual Garzón chocou. Outro membro daquele trio de mulheres é Margarita Robles, actual juiz do Tribunal Supremo, cuja objectividade foi posta em causa por Baltasar Garzón. E Luciano Varela, que instrui o processo por prevaricação, foi colaborador de Belloch e fundador da AssociaçãoJuízes para a Democracia, que sempre criticaram o protagonismo do titular do 5.º Juízo da Audiência Nacional. Apesar de Varela ter colaborado na Galiza com Garzón na Operação Nécora e de então ser conhecido como "guerrilheiro da justiça".
Sempre quis ser juiz
"Ele, que está sempre acima de tudo, está em baixo", reconhece quem priva diariamente com o juiz. "Mas não se vai entregar", assegura. Para além do processo da memória histórica, contra Baltasar Garzón foram admitidos outros dois. O Supremo terá de decidir sobre as escutas mandadas efectuar pelo juiz às conversas entre advogados de defesa e acusados do Caso Gurtel. Ainda tem de responder pelos delitos de suborno e prevaricação por ter arquivado um processo contra Emilio Botin, presidente do Banco de Santander, entidade que patrocinara umas suas conferências no Centro Rei Juan Carlos da Universidade de Nova Iorque. Neste episódio, por não ter preferido inibir-se, dado o antecedente do patrocinador. Em causa está o seu futuro como juiz. Uma opção de jovem. A de um filho de um trabalhador do posto de gasolina O Cerro do Fantasma, em Torres, no centro da província andaluza de Jaén, que passou pelo seminário. E que, no dia 25 de Abril de 1974, na Universidade de Sevilha, resistiu à polícia que lhe queria apreender um cravo vermelho que levava entre as folhas do manual de Direito Civil.
por Nuno Ribeiro
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Chimpanzés Os filhos morreram e elas não os largaram durante semanas
Numa floresta na Guiné-Conacri, duas mães andaram com os filhos mortos até mumificarem. Num parque na Escócia, uma fêmea adoeceu e o grupo catou-a. Quando morreu, a filha ficou ao pé do corpo. Relatos raros de como eles reagem ao fim de um dos seus.Viajemos até à Guiné-Conacri e, chegados à capital, avancemos país adentro. Dois dias de viagem e mil quilómetros depois, chega-se à aldeia de Bossou. Lado a lado, as cinco mil pessoas da aldeia, em plena Guiné florestal, coexistem com a pequena comunidade de chimpanzés nas colinas em redor, a três passos da povoação e de uma estação de investigação de primatas. Há mais de 30 anos que os cientistas não largam os chimpanzés de Bossou e foi ali que presenciaram algo raro: a reacção extraordinária de duas mães à morte dos filhos, ao transportarem os corpos durante semanas para todo o lado.
Os eventos começaram a desencadear-se no final de Novembro de 2003, quando rebentou em Bossou um surto de uma doença respiratória com os mesmos sintomas da gripe (transmitida talvez pela população humana local ou por turistas), que tirou a vida a cinco chimpanzés. Já de si pequena e isolada, a comunidade viu-se reduzida de 19 para 14 chimpanzés. Entre os mortos, estavam duas crias: Jimato (de um ano e dois meses de idade) e Veve (de dois anos e seis meses).
Observado pela última vez com vida a 26 de Novembro, o corpo de Jimato foi visto a ser transportado pela mãe, Jire, a 3 de Dezembro (terá morrido no dia 1, considerando os sinais de decomposição).
Quanto a Veve, começou por perder-se da mãe, Vuavua, no início de Dezembro de 2003. Mais de uma semana depois, uma das cientistas na altura na estação encontrou-a muito debilitada num campo de café. Nos dias seguintes, parecia estar a recuperar, mas depois deixou de comer e a 30 de Dezembro a morte foi confirmada.
O que se segue é a história de duas mães que não queriam deixar partir os filhos mortos, relatada hoje num artigo na revista científica Current Biology. Uma primatóloga portuguesa, Cláudia Sousa, da Universidade Nova de Lisboa,que está entre os autores do trabalho, assistiu a parte dos acontecimentos.
"Nos dias a seguir à morte, os corposdas crias incharam e depois secaram gradualmente. Perderam todo o cabelo, mas grande parte do corpo permaneceu intacta, dentro de uma pele que se transformou em couro", lê-se no artigo, assinado em primeiro lugar por Dora Biro, da Universidade de Oxford, no Reino Unido.
"As nossas observações mostraram uma impressionante resposta por parte das mães chimpanzés à morte das crias: continuaram a transportar os corpos durante semanas, meses, após a morte. Os corpos mumificaram completamente durante o período em que foram transportados e as mães exibiram cuidados para com os corpos, comportamentos reminiscentes dos cuidados que tinham com as crias vivas: transportaram-nas para todo o lado nas suas actividades diárias, cataram-nas e levaram-nas, nos períodos de descanso, para os seus ninhos diurnos e nocturnos", conta-nos Cláudia Sousa. "Estávamos a observar uma coisa que não aparece muitas vezes descrita na literatura [científica], pelo menos com esta duração tão longa."
Jire transportou o filho morto durante 68 dias, até que por fim o abandonou, enquanto Vuavua o fez por 19 dias. "Presenciei e segui o transporte dos corpos mumificados de Jimato e Veve. Ainda estava presente quando a Vuavua deixou de transportar o corpo e recolhemo-lo para exame e medições. Parti de Bossou antes de a Jire ter deixado o corpo", lembra Cláudia Sousa.
Nas fotos e vídeos feitos vê-se como elas carregaram às costas as múmias dos filhos, agarrando-os por um braço, entre o ombro e o pescoço. Mesmo quando subiam às árvores, faziam-no carregando os corpos. O mesmo acontecia quando partiam nozes com ferramentas de pedra, actividade que tornou famosos os chimpanzés de Bossou.
O facto de Jire ser uma mãe mais experiente e de o filho ser ainda muito novo pode explicar por que razão ela ficou com o corpo durante mais tempo, escreve a equipa: Jimato era o seu oitavo filho, enquanto Veve era o primeiro de Vuavua.
Dez anos antes em Bossou
Continuemos em Bossou, aldeia de etnia manon, com crenças animistas e que tem os chimpanzés como totem, mas recuemos no tempo. Mais de uma década antes de os comportamentos agora descritos, o director da estação de investigação de Bossou, o japonês Tetsuro Matsuzawa, deparou-se com algo muito semelhante.
A 25 de Janeiro de 1992, o primatólogo japonês, do Instituto de Investigação de Primatas da Universidade de Quioto, testemunhou a morte de Jokro, com dois anos e meio, também devido a uma doença respiratória. E a sua mãe era... Jire.
Naquele dia, registara: "Jire pega na mão de Jokro e coloca-a às costas. Segura Jokro pelo pulso, entre o pescoço e o ombro. Tal como quando estava viva, Jokro está às cavalitas da mãe."
"Passaram dois dias desde que confirmei a morte de Jokro. A barriga dela está inchada com gases. O corpo começou a decompor-se. Jire enxota as moscas que circundam a cria morta", conta Matsuzawa, no site do instituto, que criou a estação de Bossou em 1976.
Durante pelo menos 27 dias, Jire manteve consigo a filha falecida. "Observei como permaneceu na sua comunidade um mês após a morte."
Portanto, uma questão é: estas observações são raras? "Sim, são raras. O próprio comportamento - mães a transportar os filhos mortos - não tem sido observado frequentemente, tendo em conta as horas que os investigadores já acumularam de observação de primatas na natureza", responde-nos Dora Biro, por e-mail. "Têm sido observados muitos casos de morte de crias, mas mães que depois persistem em transportar os corpos é uma ocorrência rara. Além disso, embora já se tenha observado o transporte de crias mortas noutros sítios e noutras espécies, na maioria dos casos durou apenas alguns dias - no nosso caso, durou semanas, meses mesmo."
Por exemplo, Jane Goodall descreveu em livro a morte de um bebé chimpanzé, aquele que viria a ser o primeiro caso fatal de um surto de poliomielite na reserva de Gombe, na Tanzânia, um dos sítios de investigação de longa duração dos nossos parentes mais próximos, criado pela primatóloga britânica em 1960. Em In the Shadow of Man, publicado em 1971, a primatóloga reporta como Olly, uma jovem mãe, andou com o filho morto um dia, até o deixar num vale.
"Jane Goodall foi pioneira na investigação de chimpanzés na natureza e, tendo em conta o tempo que passou a observá-los, não é surpreendente que muitos comportamentos que agora estudamos tenham sido observados primeiro por ela", diz Dora Biro.
Nos três casos de Bossou, a resposta do grupo foi semelhante, resume a equipa: "As mães transportavam os corpos em todas as viagens, catavam-nos regularmente e afugentavam as moscas que circundavam os corpos", lê-se.
"Indivíduos com e sem parentesco, de todos os grupos etários e ambos os sexos, tentaram tocar, empurrar ou manusear os corpos, levantando e deixando cair os membros e cheirando-os. Ocasionalmente, numa fase posterior, jovens e crianças puderam afastar os corpos da mãe, para brincar com eles. Com uma única excepção, nunca observámos uma reacção que pudesse ser interpretada como aversão, apesar do cheiro intenso dos corpos e da aparência altamente invulgar."
Num parque zoológico
Saltemos agora para a Escócia, para o parque zoológico de Blair Drummond, perto de Stirling. Também hoje na Current Biology, a equipa de James Anderson, da Universidade de Stirling, relata os eventos antes e depois da morte serena de Pansy, uma fêmea idosa, com mais de 50 anos.
Se já é raro ver os cuidados maternais para com crias mortas ou a grande algazarra que se segue à morte traumática de um chimpanzé, mais raro ainda é ver a resposta imediata quando um dos seus está a morrer de forma serena. Neste caso, tudo ficou registado (fotografias e filmes das duas equipas em http://www.cell.com/current-biology/Chimpanzee_movies).
No parque escocês viviam ainda: Rosie, que era filha de Pansy; Blossom, outra fêmea; e o filho desta, Chippie. Em Novembro de 2008, Pansy começou a ficar letárgica e o grupo de chimpanzés manteve-se muito calmo e dedicou-lhe atenção: catavam-na e faziam o ninho para se deitarem perto dela. Mesmo antes de morrer, cataram-na mais vezes, como se estivessem a verificar os seus sinais vitais. Assim que morreu, deixaram de a catar: "No entanto, Rosie permaneceu quase toda a noite junto do corpo da mãe", relata este artigo.
Nessa noite, todos os chimpanzés tiveram um sono agitado, mudando mais vezes de posição. E, de manhã, muito calmos, limparam as palhas do corpo dela. "Silenciosamente, observaram os dois tratadores a levarem Pansy, a colocarem o corpo num saco e a carregá-lo num veículo, que depois se afastou."
Durante cinco dias consecutivos, nenhum dos chimpanzés fez o ninho perto do local onde Pansy morreu, como se quisessem deixar intocável o sítio associado à morta. "Durante semanas após a morte, permaneceram sossegados e comeram menos do que o normal", acrescenta a equipa. "Sem símbolos ou rituais relacionados com a morte, os chimpanzés exibem vários comportamentos que fazem lembrar as respostas humanas à morte de um parente próximo."
Consciência da morte?
Perante todas estas observações, é caso para perguntar se, afinal, os chimpanzés têm consciência da morte. James Anderson considera que sim, que eles têm alguma consciência da morte, tendo em conta que têm consciência de si próprios. "Muitas vezes, reivindica-se que os humanos são os únicos a ter consciência da morte. Acredito que observações como as nossas sugerem que os chimpanzés têm alguma compreensão da diferença entre a vida e a ausência de vida, embora isto não signifique que tenham o mesmo tipo de compreensão da morte que nós", responde-nos.
"É óbvio que a morte de um companheiro próximo ou de um familiar os perturba imenso: os chimpanzés manifestaram perturbações no sono e mantiveram-se calmos semanas após a morte de Pansy", prossegue Anderson. "Esperamos que mais descrições deste género ajudem a construir uma imagem mais completa da percepção da morte nos nossos parentes evolutivos mais próximos."
Com consciência ou não da morte, uma coisa as observações de Bossou mostram: "Nos chimpanzés, a ligação entre a mãe e a cria é extremamente forte - de certa forma, as mães recusaram-se a deixá-las, mesmo depois da morte. Uma vez que, nos primatas, as crias necessitam de cuidados constantes por longos períodos, a evolução equipou as mães com uma ligação forte às crias", comenta Cláudia Sousa.
"Se as mães tinham ou não consciência da morte das crias, só podemos especular - elas cuidaram dos corpos de muitas formas, como se fossem crias vivas, enquanto ajustaram alguns comportamentos, como a técnica usada para os transportar, tendo em conta que os corpos estavam inanimados e não podiam agarrar-se às mães", acrescenta a primatóloga portuguesa. "Sabemos que os chimpanzés demonstram empatia e consciência de si. Por que não consciência sobre a morte?".
por Teresa Firmino
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Chimpanzee mothers at Bossou, Guinea carry the mummified remains of their dead infants
Summary
The forests surrounding Bossou, Guinea, are home to a small, semi-isolated chimpanzee community studied for over three decades [1]. In 1992, Matsuzawa [2] reported the death of a 2.5-year-old chimpanzee (Jokro) at Bossou from a respiratory illness. The infant's mother (Jire) carried the corpse, mummified in the weeks following death, for at least 27 days. She exhibited extensive care of the body, grooming it regularly, sharing her day- and night-nests with it, and showing distress whenever they became separated. The carrying of infants' corpses has been reported from a number of primate species, both in captivity and the wild [3,4,5,6,7] — albeit usually lasting a few days only — suggesting a phylogenetic continuity for a behavior that is poignant testament to the close mother-infant bond which extends across different primate taxa. In this report we recount two further infant deaths at Bossou, observed over a decade after the original episode but with striking similarities.
Foto
Mummified infant chimpanzees during and after prolonged carrying by their mother.(A) An adult female chimpanzee, Jire, carries the mummified remains of her infant, Jimato, who died in a respiratory disease epidemic at Bossou, Guinea, 17 days earlier. The body is carried dorsally, with Jimato's arm gripped between Jire's shoulder and neck. Jire continued to carry the corpse for a further 51 days, before abandoning it (see also Table S1 ). (Image by Dora Biro.) (B) Head of an infant chimpanzee's (Veve) mummified remains after being carried for 19 days post-death by the mother (Vuavua). Photo was taken immediately after Vuavua had abandoned (dropped, and did not retrieve within 24 hours) the corpse. (Image by Claudia Sousa.)
Main Text
During the 2003 dry season, a respiratory epidemic broke out at Bossou, claiming the lives of five chimpanzees (reducing their number from 19 to 14) [8]. Among the dead were two infants: 1.2-year-old Jimato and 2.6-year-old Veve (see Supplemental Information available on-line with this issue). The mothers of both infants (Jire and Vuavua) continued to carry their offspring's lifeless bodies for 68 and 19 days after death, respectively (Figure 1A; Table S1 ). Thus, for the first three weeks of January 2004, Bossou was home to two mothers carrying dead infants.
As in Jokro's case, the bodies of Jimato and Veve underwent complete mummification. Over the days following death, the bodies swelled, then gradually dried out. All hair was lost, but body parts remained largely intact, encased in dry leathery skin. When it was finally abandoned, Veve's skeleton was still remarkably intact, missing only some teeth in the upper jaw (Figure 1B). Because of the wearing effects of prolonged carrying, by the time Jire abandoned Jimato's body, much of the bony cranial structure had been destroyed, making most facial features unrecognizable. Nevertheless, fingers, toes, and even genitals were preserved within the layer of tough dry skin.
In all three cases, group members' responses to the corpses were highly similar. Mothers carried the bodies during all travel (typically by gripping a limb in hand, foot, or between shoulder and neck), groomed them regularly, and chased away flies that circled the corpses (twice with the aid of a tool; Supplemental Movie S1 ). These are all behaviours that may have facilitated mummification. Related and unrelated individuals from all age groups and both sexes attempted to touch, poke or handle the bodies, lifted and dropped their limbs, and sniffed them. In later stages, juveniles and infants were occasionally allowed to carry the bodies some distance from the mother in bouts of play (Supplemental Movie S2 ). With only one exception (Movie S2 ), we never observed a response that could be interpreted as aversion, despite the bodies' intense smell of decay and highly unusual appearance. Similarly, we observed no aggressive acts towards the infants' corpses during the entire period of carrying. Elsewhere, chimpanzees have been reported to treat violently and even cannibalise the corpses of dead infants after snatching them away from the mother shortly after death (for example [4,5]). No such incidents were recorded in the cases of Veve and Jimato. In general, therefore, all members of the community demonstrated high levels of tolerance towards the corpses.
What factors were responsible for the mothers finally abandoning the corpses? Besides accidental loss of the bodies and subsequent failure to recover, physiological changes in the mothers associated with infant-death may also have played a role. Postpartum amenorrhoea in chimpanzees lasts around four years, but is much shortened after an infant's death [9]. Because lactation ceased once the infants died, the mothers' reproductive cycle returned; such hormonal changes, which prepare the mother for the arrival of a new infant (normally around weaning), may have contributed to a gradual ‘letting go’ of the previous infant's remains. Intriguing parallels may exist with physiological and psychological changes experienced by human mothers, in whom the absence or cessation of breastfeeding may cause exaggerated desires to hold their infant [10]. The fact that Jire nonetheless carried her infant for considerably longer than Vuavua may have been rooted in several factors, including Jire's extensive experience as a mother (Jimato was her eighth infant; Veve was Vuavua's first) and Jimato's younger age at death.
An obvious and fascinating question concerns the extent to which Jire and Vuavua “understood” that their offspring were dead. In many ways they treated the corpses as live infants, particularly in the initial phase following death. Nevertheless they may well have been aware that the bodies were inanimate, consequently adopting carrying techniques never normally employed with healthy young (although mothers of handicapped young have also been known to respond appropriately). The fact that all three documented cases of infant deaths at Bossou were followed by extended carrying of the infants' remains suggests that this behaviour may not be a rare occurrence in this small community, and raises questions about the potential role of observational learning in promoting chimpanzee mothers' prolonged transport of deceased young. Nonetheless we hope that further data from this already threatened community will not be quick in coming.
Acknowledgments
We are grateful to the Direction National de la Recherche Scientifique et Technique, République de Guinée, for permission to conduct field work at Bossou, to Akino Kato-Watanabe and to local guides Guanou Goumy, Tino Zogbila, Paquilé Cherif, Pascal Goumy, Marcel Doré, Boniface Zogbila, Jules Doré, and Henry Camara for assistance in the field. The research was supported by Grants-in-Aid for scientific research from the Ministry of Education, Science, Sports, and Culture of Japan (grants 07102010, 12002009, 10CE2005, and the 21COE program). D.B. was supported by a Royal Society University Research Fellowship and by Somerville College, Oxford. K.K. was supported by a grant from the Lucie Burgers Foundation for Comparative Behavioural Research (Netherlands) and T.H. by an NIH Kirschstein-NRSA Postdoctoral Fellowship (MH068906-01).
Supplemental Information
Document S1. Supplemental Results, Supplemental References, and One Table (PDF 14 kb)Movie S1 (MPG 4265 kb)
Movie S2 (MOV 15395 kb)
References
2 (1997). The death of an infant chimpanzee at Bossou, Guinea. Pan Afr. News 4, (1) , paper 3. PubMed
3 (1968). The behaviour of free-living chimpanzees in the Gombe Stream Reserve. Anim. Behav. Monogr. 1, 163–311. PubMed
4 (2000). Reactions to dead bodies of conspecifics by wild chimpanzees in the Mahale Mountains, Tanzania. Primate Res. 16, 1–15, [in Japanese with English summary]. PubMed
5 (2009). The death of a newborn chimpanzee at Mahale: reactions of its mother and other individuals to the body. Pan Afr. News 16, (2) , paper 4. PubMed
6 (1996). Maternal responses to dead and dying infants in wild troops of ring-tailed lemurs at the Berenty Reserve. Madagascar. Int. J. Primatol. 17, 505–523. PubMed
7 (2004). Transport of dead infant mountain gorillas by mothers and unrelated females. Zoo Biol. 23, 375–378. PubMed
8 (2004). Wild chimpanzees at Bossou-Nimba: Deaths through a flu-like epidemic in 2003 and the Green Corridor Project. Primate Res. 20, 45–55, [in Japanese with English summary]. PubMed
Autores:
Dora Biro - Department of Zoology, University of Oxford, South Parks Road, Oxford OX1 3PS UK
Tatyana Humle - School of Anthropology and Conservation, University of Kent, Canterbury CT2 7NR, UK
Kathelijne Koops - Leverhulme Centre for Human Evolutionary Studies, Department of Biological Anthropology, University of Cambridge, Fitzwilliam Street, Cambridge CB2 1QH, UK
Claudia Sousa - CRIA, Departamento de Antropologia, Faculdade de Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa, Avenida de Berna, 26-C, 1069-061 Lisbon, Portugal
Misato Hayashi e Tetsuro Matsuzawa - Primate Research Institute, Kyoto University, Inuyama, Aichi, 484-8506, Japan
fonte:
Current Biology - 27 April 2010
20(8) pp. R351 - R35
Texto original | PDF (213 kb)
(...)
Pan thanatology
SummaryChimpanzees' immediate responses to the death of a group-member have rarely been described. Exceptions include maternal care towards dead infants, and frenzied excitement and alarm following the sudden, traumatic deaths of older individuals [1,2,3,4,5]. Some wild chimpanzees die in their night nest [6], but the immediate effect this has on others is totally unknown. Here, with supporting video material, we describe the peaceful demise of an elderly female in the midst of her group. Group responses include pre-death care of the female, close inspection and testing for signs of life at the moment of death, male aggression towards the corpse, all-night attendance by the deceased's adult daughter, cleaning the corpse, and later avoidance of the place where death occurred. Without death-related symbols or rituals, chimpanzees show several behaviours that recall human responses to the death of a close relative.
Main Text
Observations were made on a female chimpanzee, Pansy (estimated age 50+ years) and three other adults: Blossom (female estimated age 50 years), Rosie (Pansy's daughter, 20 years), and Chippie (Blossom's son, 20 years). The group lives on an island in a safari park, but in winter they are moved to heated indoor quarters (see Supplemental Information available on-line with this issue). In November 2008 Pansy became increasingly lethargic. When the group was moved indoors, she immediately lay down on the floor after eating. The others groomed her, and nested near her in the day area instead of on their usual night area platforms. For several days, Pansy received veterinary care alone in the night area, the others being allowed to join her each evening. During this time she rarely left her nest, which had been made by Blossom.
On December 7th, at approximately 15.00 h Pansy got up and laboriously moved across to the other platform, where she lay down in Rosie's nest from the previous night. Toward 16.00h she started showing erratic and laboured breathing. Anticipating imminent death, the head keeper (AG) decided to allow the others to join her and to leave the group undisturbed. Two overhead video cameras recorded the scene until the following morning. Box 1 presents extracts from the video timeline of events around the presumed time of Pansy's death (16:24; see Supplemental Movie S1 , and Supplemental Information for the full timeline).
Box 1 Extracts from video timeline of events occurring on platform B, focusing on the presumed moment of death, and an attack on the corpse by the adult male.• 16:2311 – Rosie moves to Pansy's back, strokes or grooms Pansy's torso. Blossom continues grooming Pansy's arm.
• 16:2404 – Chippy arrives. Rosie is still standing at Pansy's back.
• 16:2408 – Blossom remains oriented away from Pansy. Rosie still stands behind Pansy's back. Chippy stands over Pansy's head, and pulls at her left shoulder and arm.
• 16:2421 – Chippy crouches over Pansy's head then appears to try to open her mouth. Rosie moves toward Pansy's head.
• 16:2425 –Blossom, Chippy and Rosie simultaneously turn toward Pansy's head. Chippy and Rosie are crouched over Pansy's head. Chippy pulls Blossom's face down towards Pansy's.
• 16:2436 – Rosie moves from Pansy's head toward her torso. Blossom moves away from Pansy. Chippy lifts and shakes Pansy's left shoulder and arm.
• 16:2503 – Chippy continues to manipulate Pansy's shoulder/arm. Blossom stands next to Chippy, and also manipulates her left arm. Rosie stands at Pansy's lower torso, not in contact with Pansy.
• 16:2506 – Blossom sits at Pansy's head, stroking Pansy's left hand. Chippy and Rosie leave simultaneously.
• 16:2516 – Blossom stops grooming Pansy's hand but continues to sit next to her.
• 16:2531 – Blossom moves away from Pansy.
• 16:2704 – Pansy moves very slightly: 2 head nods, probably a post-mortem twitch. This elicits no response from the others.
• 16:3609 – Main lighting is switched off.
• 16:3656 – Chippy jumps onto the platform in a charging display. He jumps into the air, brings both hands down and pounds Pansy's torso, then runs across and off the platform.
In the 10 minutes preceding death the others groomed or caressed Pansy 11 times, which appeared more frequent than following previous daytime separations (no quantitative data available.) Most notably, none of them groomed her after death; however, Rosie remained near her mother's body almost continuously throughout the night, on a part of the platform where she had never slept during a 29-night study of night-time behaviour 1 year earlier. In that study, Rosie's latest nesting time was 18:15 h, but when Pansy died Rosie delayed nesting until 19.47 h. Once settled in their nests, each chimpanzee usually made four or five postural changes during the night (range 0–14), but on the night Pansy died Rosie, Chippy and Blossom changed posture 11, 15 and 42 times, respectively. Also that night, Blossom groomed Chippy for 18 minutes, similar to during the entire previous 29-night study. Finally, in that study the male displayed only three times in 29 nights, without targeting anyone, but on the night Pansy died he performed three displays, each ending with an attack on the corpse (see Supplemental Movie S1 ).
The next day the three surviving chimpanzees were profoundly subdued. From the day area they watched silently as two keepers lowered Pansy from the platform, carried her into the exit corridor, placed her in a body bag, and loaded her into a vehicle that was then driven away. They remained subdued the following day as the night area was cleaned and disinfected, and new straw provided. When the connecting doors were opened Blossom and Rosie entered hesitantly, but Chippy refused; instead he showed fear grins and made loud alarm calls, causing the two females to quickly return to him. The doors were left open, but the chimpanzees slept in the day area, and Chippy again refused to enter the night area the following day. For five consecutive nights no chimpanzee nested on the platform where Pansy died, yet this platform had been used for nesting on every evening of the 29-night study. Rosie was the first to resume nesting there.
This account differs from two reports of traumatic deaths in wild chimpanzees. At Gombe, when an adult male died after falling from a tree, other chimpanzees present erupted into aggressive displays and alarm calling, with much mutual embracing and touching [5]. They frequently stared at the corpse and some appeared to sniff it, but nobody touched it in the four hours before they left. In the Taï Forest, a fatal leopard attack on an adolescent female also elicited intense mass excitement, but in this case contacts with the corpse were frequent; some displaying males even dragged it over short distances [4]. The corpse was eventually abandoned after 6 hours. In contrast, Pansy's group-members remained generally calm following her death. Several aspects of their behaviour recall those of mothers with dying infants [3], and are strikingly reminiscent of human responses to peaceful death. Below, we summarize key chimpanzee behaviours and indicate in parentheses possible human counterparts.
During Pansy's final days the others were quiet and attentive to her, and they altered their nesting arrangements (respect, care, anticipatory grief). When Pansy died they appeared to test for signs of life by closely inspecting her mouth and manipulating her limbs (test for pulse or breath). Shortly afterwards, the adult male attacked the dead female, possibly attempting to rouse her [7] (attempted resuscitation); attacks may also have expressed anger or frustration (denial, feelings of anger towards the deceased). The adult daughter remained near the mother's corpse throughout the night (night-time vigil), while Blossom groomed Chippy for an extraordinary amount of time (consolation, social support). All three chimpanzees changed posture frequently during the night (disturbed sleep). They removed straw from Pansy's body the next morning (cleaning the body). For weeks post-death, the survivors remained lethargic and quiet, and they ate less than normal (grief, mourning). They avoided sleeping on the deathbed platform for several days (leaving objects or places associated with the deceased untouched).
These behaviours highlight the interest of a comparative evolutionary perspective on death and dying in species without symbolic representations of death or death-related rituals. Chimpanzees show self-awareness [8], empathy [9] and cultural variations in many behaviors [10]. Are humans uniquely aware of mortality? We propose that chimpanzees' awareness of death has been underestimated, as anticipated some 30 years ago on the basis of self-awareness [8]. Although data are likely to accumulate slowly, a thanatology of Pan appears both viable and valuable. Finally, such data may have implications for the end-of-life management of captive elderly chimpanzees, an issue of increasing importance as more great apes are retired from research facilities and zoo populations age. In some cases it might be more humane to allow elderly apes to die naturally in their familiar social setting than to attempt to separate them for treatment or euthanasia.
Acknowledgments
We thank Tam Gilchrist for help with the chimpanzees during the events described here.
Supplemental Information
Document S1. Supplemental Experimental Procedures and One Table (PDF 43 kb)Movie S1 (MOV 8336 kb)
Movie S2 (MOV 5123 kb)
References
1 (1968). The behaviour of free-living chimpanzees in the Gombe Stream Reserve. Anim. Behav. Monogr. 1, 161–311. PubMed
3 Matsuzawa, T. (1997). The death of an infant chimpanzee at Bossou, Guinea. Pan. Afr. News 4 (1), http://mahale.web.infoseek.co.jp/PAN/4_1/4(1)-03.html..
4 (2000). The Chimpanzees of the Taï Forest: Behavioural Ecology and Evolution. (Oxford: Oxford University Press). PubMed
5 (1973). Group response to the accidental death of a chimpanzee in Gombe National Park, Tanzania. Folia Primatol. 20, 81–94. PubMed
6 Yamagiwa, J. (1998). An ossified chimpanzee found in a tree nest. Pan. Afr. News 5 (2), http://mahale.web.infoseek.co.jp/PAN/5_2/5(2)-03.html..
Autores:
James R. Anderson e Louise C. Lock - Department of Psychology, University of Stirling, Stirling FK9 4LA, UK
Alasdair Gillies - Blair Drummond Safari Park, Blair Drummond, near Stirling FK9 4UR, UK
fonte:
Current Biology - 27 April 2010
20(8) pp. R349 - R351
Texto original | PDF (140 kb)


