'Tá-se' mal, MC. 'Tá-se' mesmo mal.

Ontem, quando li esta notícia "Lisboa: perseguição policial acaba com um morto em Benfica" ainda não se conhecia a identidade da vítima.
Há pouco, numa ronda rápida pelo site de O Expresso leio: "Morto em perseguição por PSP era músico". O homem abatido na madrugada de 2ª feira foi, afinal, o Nuno, o MC Snake, rapper que várias vezes colaborou com Sam The Kid,.

O facto de se tratar de um artista não agrava o caso. A indignação diante da violência colocada na actuação da polícia, disparando a matar sobre um condutor que ignorou a indicação para parar numa operação de trânsito rotineira seria sempre a mesma, ainda que se tratasse de outra pessoa qualquer. Mas acontece que eu conhecia o Nuno. Cruzámos-nos várias vezes e conversámos outras tantas por razões de trabalho. Escutei-o nos palcos e fora deles. E sim, ironicamente também falámos algumas outras acerca do estigma social de morar em Chelas, de ser negro e ser do hip hop. Era inevitável. Quem nasce com o beat é sempre convicta e indissociavelmente político. Sempre. Em quase tudo. Tinha talento, o Nuno. E planos e sonhos como qualquer um de nós. Lamento-lhe a morte. Tão súbita. Tão trágica. Não, não era exactamente um amigo próximo. Mas não era de forma alguma um desconhecido. E, se me dão licença, é razão suficiente para que uma morte nestas circunstâncias me entristeça ainda mais.