Voz aos madeirenses para dar conta da tristeza pesada que assolou a Ilha
(...) Os madeirenses (e, imagino, qualquer pessoa que tenha nascido e vivido numa ilha) têm uma relação peculiar com a natureza. Admiram-na, na sua grandiosidade, mas aprenderam a negociar com ela. Amam o mar e respeitam-nos, como a um severo decano, mas vêem nele, ao contrário da claustrofobia que os não locais descrevem, o início de um imensidão de possibilidades.
Nunca ninguém tinha visto nada assim naquela ilha. Nunca senti nas pessoas tanto medo da água que, naquele ilha, está por todo o lado. Não há nada tão estranho como vermos as memórias de uma vida inteira cobertas pelo limo e pela desolação.
Laura Abreu Cravo, Domingo, 21 de Fevereiro de 2010
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