«Teve coragem, Felícia, disse o que tinha a dizer, sem papas na língua»
Racismo, currículos e "nomes vilipendiados" assombraram a audição de Felícia Cabrita. Desde o caso Casa Pia, a repórter tem conduzido algumas das mais escaldantes investigações jornalísticas nacionais. E, desde então, disse aos deputados, tem sido alvo "de um esquema sórdido" para lhe denegrir a imagem. O esquema, especificou, passa por lhe atribuírem relações "íntimas" com magistrados, o que lhe facilitaria o acesso à informação dos processos. "Já tive uma arma apontada ao peito - prefiro isso a este pântano", disse a jornalista, que imputou a um blogue entretanto desaparecido o início da campanha que a pretende atingir, usando a sua condição de mulher.
Teve coragem, Felícia, disse o que tinha a dizer, sem papas na língua. Mas tão sem travão, que a língua lhe pregou uma partida. Dirigindo-se aos deputados do PS, insinuou que era por racismo que queriam saber quem são os accionistas angolanos do semanário Sol, uma das mais repetidas perguntas, na audição de sexta-feira. Na sala produziu-se de imediato um burburinho, deputados houve que exigiram a reposição da honra perdida pelo bafejo de Felícia. O presidente da Comissão de Ética, Luís Marques Guedes, admoestou-a. Mas Felícia ainda faria das suas, quando, em resposta ao deputado Miguel Laranjeiro, do PS, o questionou sobre o seu currículo - era um remoque causado por pergunta do mesmo teor, que os socialistas lhe colocaram para fragilizarem a sua versão de que havia, nas escutas, indícios fortes de crime praticado pelo primeiro-ministro mas ignorado pelo procurador-geral da República. Foi uma sessão em cheio - mas duvido que tenha sido esclarecedora para o debate sobre a liberdade da comunicação social. Temos de esperar pelos próximos capítulos.
Paulo Chitas, A vítima e a jornalista
À laia de rodapé: Felícia Cabrita é redactora principal da equipa de investigação do jornal Sol no caso Face Oculta / Escutas Proíbidas
É um dos muitos nomes que integram a lista a ouvir pela Comissão Parlamentar de Ética, Sociedade e Cultura da Assembleia da República, no âmbito das audições subordinadas à temática do exercício da liberdade de expressão em Portugal, que começaram antes de ontem na sala 7 do Parlamento.
via RTP
via SIC
TVI: ver aqui
Cf. notícia no DN
