«O facto é que a única coisa que aconteceu foi a compra da TVI pela Ongoing»

Ao contrário do João Galamba, confesso que fiquei um pouco perplexa com a insistência de Ricardo Costa na ideia de que «o facto é que a única coisa que aconteceu foi a compra da TVI pela Ongoing». É certo que durante O Expresso da Meia-Noite, a observação veio acompanhada do respectivo asterisco: «Isto sou eu a fazer de advogado do diabo». 
Porém, horas antes, já Ricardo Costa tinha estado no Jornal da Noite, a sublinhar este aspecto vezes sem conta. A mim ficou-me a dúvida: não me resultou claro se era uma tentativa retórica de ensaiar o contraditório, se era uma proposta de análise da situação, mediante a qual se alude à desvalorização dos factos tornados públicos pelo jornal Sol, não necessariamente sob o argumento de lhes faltar prova cabal por parte das instâncias de direito, mas por sustento na ideia de que a maior parte do plano de controlo dos media, eventualmente urdido, só conseguiu consumar-se parcialmente.

Mantenho, pois a apreensão, diante da tese aventada. Porque se uma interpretação é admissível, a outra resulta-me altamente discutível, para não dizer perigosa. Estamos mal quando o acto de deliberadamente atirar a matar sobre uma multidão é atenuado pelo «facto» de, efectivamente e na prática, só se ter causado uma vítima entre as várias que estavam sob mira. É evidente que, a provar-se, não pode consubstânciar uma pena que vá além do crime realmente perpetrado, mas não poderá eximir-se da apreciação do acto do criminoso o facto de ter existido a intenção, uma vez provada, de atingir outras potenciais vítimas.

Em caso algum a incompetência do criminoso pode justificar a sua absolvição. A ser assim deixaria, por exemplo, de se poder culpar o assaltante de um banco, com base no argumento do seu plano não ter resultado e, por inépcia, ter acabado por deixar o local do crime de mãos a abanar.

Posted by por AMC on 23:50. Filed under ESPUMAS, o estado da nação . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response