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Especial Heitor Villa-Lobos no Jornal da Globo

A influência de Villa-Lobos na Música Popular Brasileira Vídeo

Heitor Villa Lobos inspirou e continua inspirando muitos compositores populares, diz Nelson Motta em sua coluna semanal, que encerra nossa cobertura especial sobre o maestro.

O melhor da obra do nosso maior compositor clássico Vídeo

Uma boa ideia da importância de Heitor Villa Lobos está neste número: ele foi regente convidado de 83 orquestras, em 24 países. A obra deixada pelo compositor é reverenciada por muitos seguidores.

A trajetória do maior gênio da música clássica brasileira Vídeo

Heitor Villa Lobos, o maior compositor brasileiro de música clássica, morreu há 50 anos. Quando criança, ele recebeu em casa o grande incentivo para se tornar o músico que foi.

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Ouça músicas do grande compositor Heitor Villa-Lobos.



edição do dia 18/11/2009

A trajetória do maior gênio da música clássica brasileira

Heitor Villa Lobos, o maior compositor brasileiro de música clássica, morreu há 50 anos. Quando criança, ele recebeu em casa o grande incentivo para se tornar o músico que foi.
Paulo Renato Soares Rio de Janeiro, RJ
Descubra os caminhos que ele percorreu em busca da alma musical do Brasil.

Um compositor exuberante, genial, mostrou desde menino fascínio pelos sons e as lições mais duras para aprender música vieram de casa.

"Ele me contou, imagina: 'meu pai era tão severo que nós estávamos andando pela rua, de repente, passava um bonde e os bondes davam aquelas freadas violentas. Ele dizia: que nota é essa? Diga a nota qual é? E eu ficava atrapalhado', me dizia o Villa Lobos", conta o historiador Vasco Mariz.

O pai, Raul Villa Lobos era funcionário da Biblioteca Nacional e músico amador. Fez adaptações numa viola para que o filho estudasse violoncelo, mas depois da morte dele, Villa-Lobos, então com doze anos, queria muito mais do que os livros de música.

A mãe, sozinha, não conseguiu mais segurar o menino e Heitor começou a pular os muros de casa para descobrir o que acontecia nas ruas do Rio. No centro da cidade ele ouve o som que ia marcá-lo por toda a vida.

Uma mistura de ritmos europeus e africanos com uma cadência contagiante. Villa-Lobos descobria o que é considerada a primeira Música Popular Brasileira urbana: o Choro.

Nas rodas de música, Villa fez amizades que duraram a vida toda. João Pernambuco, Ernesto Nazaré, Donga e Pixinguinha. E ele foi um dedicado chorão. Em seis anos, compôs 14 choros.

"Começa com o Choro para violão, Choros número um, e vai até o final com o Choros que tem orquestra sinfônica, corais, aquela coisa grandiosa", conta o violinista, Turíbio Santos.

A busca de Villa-Lobos pela alma musical do Brasil o levaria para ainda mais longe. No início do século passado embarcou numa viagem para conhecer os sons de várias regiões do país.

A trilha que seguiu o fez ouvir de perto uma variedade imensa de melodias, ritmos e gêneros e a conhecer também diferentes instrumentos: de corda, de percussão, de sopro.

Na Amazônia, a floresta e os rios se tornam inspiração. Cada som era um tema que iria parecer mais tarde na obra grandiosa e numa das mais conhecidas, o sotaque sertanejo está bem presente em "O Trenzinho do Caipira".

O trenzinho está na Bachiana número dois. Uma das nove que fez inspirado no compositor alemão Johann Sebastian Bach, mas com ritmos genuinamente brasileiros.

"Ele tinha o som do pássaro, tinha o som do índio, o som do caboclo, o som da floresta, o som do povo brasileiro, então, ele conseguiu expressar tudo isso na sua música", afirma o maestro, João Carlos Martins. "Meu livro é o mapa do Brasil não um mapa do Brasil, mas a terra do Brasil onde eu piso, onde sinto, percorro", dizia Villa-Lobos.

E com sua obra levou a brasilidade para o mundo. "Era pessoa de personalidade incrível, quando foi a Paris a primeira vez, ele não falou 'vim estudar em Paris', ele falou 'vim conquistar Paris' e conquistou Paris e o mundo".

Villa-Lobos foi casado duas vezes. A primeira com a pianista Lucilia Guimarães, de quem se separou, para assumir o romance com Arminda Neves D´Almeida, 25 anos mais jovem que ele e companheira por duas décadas, até a morte do maestro.

À frente das orquestras, ele era exigente e genioso. Nas imagens em família se vê um homem bem humorado, carinhoso e também noveleiro. Vasco Mariz, que escreveu a biografia dele, foi testemunha.

"Cheguei um dia na casa dele ele estava compondo e ouvindo novela. Como pode ser isso? 'Eu estou apenas orquestrando, é uma coisa automática'".

Escrever música era fácil para ele. Deixou mais de mil composições. Uma obra imensa. "Ele mesmo dizia: 'minhas obras são cartas que escrevo para a posteridade sem esperar resposta'. Ele já estava quites com o presente e de olho no futuro", conclui Turíbio.


edição do dia 19/11/2009

O melhor da obra do nosso maior compositor clássico

Uma boa ideia da importância de Heitor Villa Lobos está neste número: ele foi regente convidado de 83 orquestras, em 24 países. A obra deixada pelo compositor é reverenciada por muitos seguidores.
Luiz Gustavo Belo Horizonte, MG 

Nessa "fábrica de sons", em Belo Horizonte, buzina de bicicleta vira pio de passarinho e quem foi que disse que panela velha não faz melodia boa? Assim como o genial Villa-Lobos, o grupo Uakit aprendeu que a música pode estar onde menos se espera.
"O Villa-Lobos tinha essa busca e chegou até a projetar certos instrumentos usando bambu, instrumentos de percussão. Ele abriu uma janela dentro da música, não só música brasileira, mas a música do planeta mesmo", afirma o músico, Artur Andres.

Mas Villa-Lobos pagou caro por ser Villa-Lobos. Foi duramente criticado por suas experiências com dissonâncias, timbres diferentes, ritmos inovadores. "No princípio sofri, natural, com a revolta daqueles que se agarravam à tradição", disse o compositor.

"A música nova sempre produz resistência, mas aqui foi um horror, um massacre, meus colegas de crítica fizeram um trabalho terrível de destruição", relembra o crítico musical, Luiz Paulo Horta. "Ele se tornou regente sem realmente ser regente, porque se ele não regesse as obras dele, ninguém regeria", conta o maestro, Roberto Duarte.

Aos 36 anos e com a batuta na bagagem, Villa-Lobos desembarcou em Paris. Na efervescência cultural da década de 20 e conquistou o seu espaço. "Depois que ele voltou para cá os críticos não tinham mais argumentos, tiveram que aceitar a música dele como de qualidade", relembra o maestro Galindo.

O "Trenzinho do Caipira" é uma das obras mais famosas de Villa-Lobos que de tanto compor morreu sem saber ao certo quantas músicas deixou. Dizem que seriam mil, 1.200, a maioria desconhecida, ou seja, o mestre dos mestres deixou um valiosíssimo acervo ainda inexplorado e há um mapa a ser seguido que pode levar a esse tesouro.

"A bachiana 5, todo mundo conhece, a bachiana 2 está sendo conhecida porque termina com o 'Trenzinho do Caipira'. São nove bachinas, tem as bachianas para descobrir, tem os chorus, a produção pianística é de uma importância extraordinária, cirandas, o ciclo brasileiro", afirma Luiz Horta.

Villa-Lobos compôs até óperas, uma delas, a menina das nuvens, foi montada este ano, em Belo Horizonte. Quatro meses antes de morrer, compôs "Floresta Amazônica" e já mostrava preocupação com a derrubada da mata.

"É fantástico o que ele conseguiu de orquestração, você vê o fogo vibrando, queimando as matas. Existiu sempre essa coisa de proteção da floresta, da Amazônia", conta a cantora lírica, Maria Lucia Godoy.

Talvez você nem saiba, mas Villa-Lobos pode ter feito parte da sua vida, ou será que na sua infância você nunca ouviu músicas assim? Um apaixonado por crianças criou arranjos para inúmeras músicas infantis. Ninguém sabe quem escreveu, mas agora aprendeu quem resgatou. "Ele falava: 'a criança que não canta, que não sabe música, que não gosta de música, não está alfabetizada'", relembra Lucia Godoy.

Para cativar os pequenos, virava um tio brincalhão. Convenceu o presidente Getúlio Vargas a implantar educação musical nas escolas públicas e chegou a reger coros de milhares de crianças.

"Desceram a lenha no Villa, que era colaborar de um governo totalitário, mas eu quero disseminar a prática musical no país, como eu vou fazer? Comprou uma briga, uma briga boa, pela cultura brasileira", afirma o maestro Galindo.

O maestro João Mauricio Galindo também faz de tudo para conquistar o público infantil. "O trenzinho faz parte das bachianas brasileiras número 2. São nove bachianas". E na Sala São Paulo, ele prepara novas platéias para ouvir: Villa-Lobos. 


edição do dia 20/11/2009

A influência de Villa-Lobos na Música Popular Brasileira

Heitor Villa Lobos inspirou e continua inspirando muitos compositores populares, diz Nelson Motta em sua coluna semanal, que encerra nossa cobertura especial sobre o maestro.
Nelson Motta
 
No Rio de Janeiro, em 1926, uma noitada de violão e cachaça mudou o rumo da cultura brasileira. Foi quando o antropólogo Gilberto Freyre, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda e o maestro Heitor Villa Lobos conheceram a música de Pixinguinha e Donga - e ficaram maravilhados - iniciando a integração da arte erudita e a popular que se tornou uma marca da nossa cultura moderna.

Assim como Villa-Lobos trouxe a música popular para a erudita, a sua influencia na obra de grandes compositores como Tom Jobim, Edu Lobo, Egberto Gismonti e Guinga, trouxe a música erudita para a MPB.

Tom Jobim cultuava Villa-Lobos como seu mestre e modelo, como seu pai musical, e dizia que toda a base harmônica da Bossa Nova já estava em uma peça de Villa-Lobos de 1940. Tom homenageou seu mestre em incontáveis canções, como a obra prima "Saudades do Brasil".

Desde o início de sua brilhante carreira de compositor, Edu Lobo sempre teve em Tom Jobim e Villa-Lobos sua maior influencia musical. Em toda a sua obra ressoam o fraseado e as harmonias de Villa-Lobos.

Outros compositores brasileiros consagrados, e que se situam entre o popular e o erudito, como Egberto Gismonti, encontraram em Villa-Lobos a sua grande inspiração.

Com seu violão villalobiano e seu talento autoral, Guinga lançou recentemente um lindíssimo CD aclamado pela critica nacional e internacional, tão villalobiano que se chama "Casa de Villa".

É impossível imaginar a obra desses grandes compositores sem a luz e o som de Villa-Lobos. Ele atravessa estilos e gerações e está presente no melhor da música brasileira moderna e até em discos para crianças, como a primorosa gravação de Adriana Calcanhotto com uma nova versão do "Trenzinho do Caipira", com letra do poeta Ferreira Gullar.

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