Independentemente da relação entre Lula da Silva e a Comunicação Social nunca ter sido tranquila, o facto é que ele foi o presidente que atingiu o maior índice de aceitação popular da história do Brasil.
Nunca antes na história deste País houve dentro deste Palácio, nesta sala, a quantidade de movimentos sociais participando, falando, propondo e decidindo políticas que o governo brasileiro tinha que executar. Foram 73 conferências nacionais, algumas das quais mais de 400 mil pessoas participavam antes de chegar aqui nesse plenário ou em qualquer outro lugar do Brasil. Numa demonstração de que esse é o legado que não poderá ser mudado tão cedo, que é não ter medo de ouvir o povo, não ter medo de deixar o povo participar, acabar com essa maluquice de que o povo só é bom na época da eleição, em que todo mundo anda de carro aberto, e depois que ganha as eleições passa anos sem ter o convívio com o povo; governam para meia dúzia de ricos e esquecem da maioria do povo que é, realmente, a razão de ser de a gente ganhar uma eleição e governar esse país, uma cidade ou um estado.
As palavras são do próprio presidente Lula durante o seu último evento antes da transmissão da faixa presidencial, realizado nesta sexta-feira (31/12), no Palácio do Planalto, quando foi homenageado pelas equipes que trabalharam com ele na Presidência. No discurso de despedida do Palácio do Planalto, diante de uma equipa de cerca de 600 pessoas, no Salão Oeste do Palácio do Planalto o presidente que por quatro vezes se candidatou e saiu derrotado, . lembrou que “o divisor de águas” da sua vida política aconteceu em 1989, quando percebeu que só poderia governar o Brasil se conhecesse bem as regiões do País, seu povo e suas necessidades.
Sempre tive a firme convicção de que a principal riqueza de uma nação é o seu povo. Por isso, não é difícil avaliar o sucesso ou fracasso de um governo. Basta olhar para os salários e a renda do povo; ver se os índices de desemprego e desigualdade diminuíram; e se a educação ficou de melhor qualidade. Governo bom é o que conduz o País ao crescimento, ao encontro da prosperidade. Nosso programa de governo tem como preocupação central apresentar mudanças de fundo para o nosso País. Não como um pacote fechado, mas aberto ao debate e a novas contribuições. É impossível aceitar a ideia de uma nova década perdida, em que o governo diz que a economia está sólida enquanto o povo vai mal. Esse é o debate que queremos fazer com toda a nação, pois temos certeza que podemos mudar e melhorar o Brasil. Com os pés no chão e os olhos no futuro, vamos arregaçar as mangas desde o primeiro instante e realizar um novo contrato social que coloque o País nos trilhos do desenvolvimento. Essa é a única maneira de construir um Brasil decente onde todos tenham a dignidade que tanto queremos.
Quando assumiu o poder, Lula procurou incorporar aos quadros da Presidência da República uma área com status de ministério para cuidar exclusivamente do relacionamento com sociedade: a Secretaria-Geral. O resultado foi a participação de mais de cinco milhões de cidadãos na discussão, elaboração e proposição de políticas públicas, por meio das conferências nacionais. Por isso o Brasil passou a ter a cara de seu povo, disse Lula, cada vez mais representado e valorizado internacionalmente, com autoestima fortalecida, com voz ativa que jamais permitiria o retrocesso, principal legado que deixará. Lula reafirmou que a grande alegria e um dos principais motivos que o fazem sair da Presidência com a cabeça erguida foi a relação que estabeleceu com o povo brasileiro.
Eu penso que o Brasil mudou. (...) Sairei daqui com duas convicções: de que cumpri com o meu dever, e cumpri com a confiança que o povo brasileiro depositou em mim, e que conseguimos fazer duas pequenas revoluções neste país: primeiro, o povo brasileiro provar que era possível eleger um metalúrgico e esse metalúrgico provar que sabe governar melhor do que muita gente que tem um monte de diploma neste país; segundo, eleger pela primeira vez uma mulher Presidenta da República.
Balanço das entrevistas e divulgação à imprensa das atividades da Presidência 2003-2010 O governo Lula foi marcado pelo diálogo constante com a imprensa, brasileira e internacional. Em oito anos de mandato, foram concedidas 1.004 entrevistas, das quais 989 para a imprensa e outras 15 para livros, documentários e fóruns empresariais ou sociais. Quase 80% dessas entrevistas foram realizadas nos últimos quatro anos. O pico de entrevistas foi em 2009 (mais de 250), quando houve a crise financeira internacional e a disputa pelo direito de sediar os Jogos Olímpicos de 2016, vencida pelo Rio de Janeiro.
O presidente Lula respondeu a mais de 10,5 mil perguntas da imprensa desde 2003 – média de mais de 3 por dia. No segundo mandato (2006-2010), a média foi praticamente o dobro, mais de seis por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. Nos dois mandatos foram 364 entrevista exclusivas e 620 coletivas. Das exclusivas, 136 foram para a imprensa regional, 133 para a estrangeira, 74 para a grande imprensa brasileira e 21 para imprensa segmentada. Em oito anos, foram 77 entrevistas por escrito e 11 presenciais para jornais da imprensa regional, publicadas em 182 jornais de 129 cidades dos 26 estados brasileiros, mais o Distrito Federal.
Na imprensa nacional, foram 74 entrevistas para 25 veículos dos grandes grupos de comunicação – sete redes de TV, oito jornais, oito revistas e dois portais de internet. Para a imprensa estrangeira, o presidente Lula concedeu ao longo de seus dois mandatos mais de 130 entrevistas. Já a imprensa segmentada (esportiva, religiosa, entidades empresariais, ideológica etc) teve a oportunidade de conversar com o presidente em 21 entrevistas desde 2003.
O presidente concedeu ainda 625 entrevistas coletivas em oito anos, 419 das quais quebra-queixos, 92 entrevistas conjuntas, 54 para grupos, 54 formais no exterior e seis formais no Brasil. Das entrevistas por escrito, foram 144 em oito anos (quase 15% do total das entrevistas concedidas pelo presidente). Cerca de 90 dessas entrevistas foram para jornais regionais. Mais de 180 periódicos de 130 cidades brasileiras foram contemplados com entrevistas do presidente Lula nestes oito anos de governo. Ao longo dos dois mandatos, o presidente ainda concedeu 43 entrevistas para 80 rádios de todo o País, atendendo a mais de 100 comunicadores. Aliás no rádio a Presidência da República realizou 281 edições do programa Café com o Presidente ao longo dos dois mandatos. O programa é distribuído por satélite e disponibilizado na internet para livre reprodução de qualquer emissora de rádio do País. Foram feitos também 212 programas de rádio Bom Dia, Ministro, nos últimos quatro anos. Ao todo, mais de 300 emissoras de todo o Brasil entrevistaram mais de 60 diferentes ministros de todos os ministérios do governo. Na TV, desde 2003, o presidente concedeu 16 entrevistas para 15 emissoras de nove estados brasileiros.
COLETIVAS PREPARATÓRIAS
Para preparar a chegada do presidente Lula aos estados, em viagens oficiais, foram organizadas entrevistas coletivas preparatórias, para a divulgação da agenda. Elas serviram para divulgar ações, projetos e programas, além de aproximar as fontes federais da imprensa regional. De 2007 até 2010, foram realizadas 167 entrevistas com a participação de 818 veículos de imprensa e 430 autoridades, sendo 326 federais. O boletim Notícias do Dia, que divulga informações do governo federal aos órgãos de comunicação regionais, teve 747 edições desde 2007, com cerca de 4.940 notas no total. Criada em julho de 2009, a coluna semanal O Presidente Responde já teve 78 edições, sendo publicada por 161 periódicos de 111 municípios, sendo 22 capitais, em 24 estados mais o Distrito Federal. A tiragem conjunta dos veículos cadastrados alcança 2,3 milhões de exemplares. Foram respondidas 234 perguntas de leitores residentes em 93 cidades de 18 estados. Outra ação promovida pela Secretaria de Imprensa da Presidência da República foi o encontro de autoridades do governo com correspondentes estrangeiros que moram no Rio de Janeiro e São Paulo. De 2007, quando a iniciativa foi instituída, até hoje, foram mais de 30 entrevistas.
MÍDIA DIGITAL
Em pouco mais de 7 anos, a página da Secretaria de Imprensa na internet teve cerca de 5,4 milhões de visitas, metade delas nos últimos dois anos, quando intensificamos a presença da Presidência da República na blogosfera e nas redes sociais. Mais de 1.500 textos foram distribuídos para endereços eletrônicos de cerca de 7 mil jornalistas. Cerca de 2.400 discursos e mil entrevistas do presidente Lula foram degravados, transcritos e publicados desde 2003, além de 500 discursos e entrevistas de outras autoridades. Com um ano e meio de vida, o Blog do Planalto recebeu nesse período mais de um milhão de visitas de internautas de mais de 172 países e 700 cidades brasileiras. Foram produzidos mais de três mil textos, 1.300 vídeos, mais de mil fotos, 950 arquivos de áudio e mais de 50 infográficos. A presença da Presidência da República também foi estendida a outras ferramentas de comunicação da internet, como o Twitter, que tem dois perfis: um da página da Secretaria de Imprensa (@ImprensaPR, com 6 mil seguidores) e outro do Blog do Planalto (@blogplanalto, 16 mil seguidores). No canal exclusivo do Blog do Planalto no YouTube (ver aqui), que conta com mais de dois mil seguidores, já foram publicados mais de 1.200 vídeos. Alguns desses vídeos, produzidos pelo fotógrafo oficial, Ricardo Stuckert, foram acessados mais de 280 mil vezes. Também foi criada página exclusiva do Blog do Planalto rede Flickr, comunidade virtual de divulgação de fotografias digitais. Já foram publicadas cerca de mil fotos, que já foram vistas mais de 270 mil vezes por internautas. Desde 2003 a área de fotografia da página da Secretaria de Imprensa na internet recebeu mais de 36 mil imagens para divulgação dos eventos, solenidades, viagens e audiências com a participação do presidente da República. Nesses oitos anos, foram 3,4 milhões de cópias de fotografias baixadas gratuitamente pelos mais diversos meios de comunicação, dos principais jornais e revistas do Brasil e do mundo, aos portais da Internet, pequenos e médios jornais, sites e mais modestos blogs de milhares de internautas espalhados pelo país.
José Celso: «Lula foi nosso primeiro presidente antropófago»
Lugar, família, acontecimentos formadores para o arranque de José Celso Martinez Corrêa?
Araraquara, [que quer dizer] Morada do Sol em tupi, interior do estado de São Paulo. José, o nome do meu avô português de Trás-os-Montes, que vivia com minha avó LaureAna, índia, pais de meu pai Jorge Borges Corrêa. Celso, de meu avô espanhol da Galiza, casado com minha avó italiana de Génova, pais de minha mãe Angelina Martinez Corrêa. Meu pai, o único que saiu da roça de seus 12 irmãos e veio morar na cidade, era director de uma Escola de Comércio e tinha uma biblioteca maravilhosa com a melhor literatura brasileira e internacional de todos os tempos. Filmava em 16mm e tinha um projector, era apaixonado por cinema, e era muito bonito, parecido com um galã de Holywood, Robert Taylor. Éramos seis irmãos. Maria Helena, avó de muitos netos, e bisnetos, formada em literatura, uma grande escritora. Ana Maria, historiadora e directora de um arquivo da UNESP [Universidade Estadual Paulista], "Lutas da Esquerda no Brasil". Maria do Rosário, tecelã, perfumista, artista plástica e feiticeira. João Baptista, arquitecto, criador dos elevadores do Rio de Janeiro que ligam a Zona Sul Branca e Burguesa às Favelas e do projeto do ANHANGABAÚ DA FELIZ CIDADE para o Oficina Uzyna Uzona e o Bairro do Bixiga. E Luiz Antônio, arquitecto, mas sobretudo um Grande Artista de Teatro, replantador do TEATRO MUSICAL BRASILEIRO, assassinado no Natal de 1987, com 104 facadas. Nosso pai nos deu a todos uma formação universitária [Zé Celso estudou direito] e muita cultura. Uma vez empinando um papagaio, uma pipa, (não sei como vocês dizem em Portugal) que eu mesmo construí e baptizei de "Imperador do Espaço", um vento muito forte arrebentou a linha e ele foi parar muito longe da praça cheia de ipês [árvores floridas] onde o empinava. Fui atrás dele e o encontrei, ele estava todo molhado. Tinha chegado até as nuvens. Deixei no quintal de casa, mas o sol forte de Araraquara o fez secar e rebentou a seda de que seu corpo era feito. Eu comecei a chorar, mas de repente veio uma ventania e os pedaços deles sumiram no céu. Fui para o violão e compus uma música. Tomado por uma inspiração que queria sair de mim com a força de um vento forte, imediatamente fui para a escola de meu pai, que era perto de minha casa e onde havia uma "Sala de Dactilografia", sentei-me numa maquininha e em 40 minutos, num fluxo, dactilografei minha primeira peça, "Vento Forte para um Papagaio Subir". Compreendi: era meu segundo nascimento, e eu que não sabia o que fazer comigo descobri que minha vida naquele instante passava a pertencer ao TEATRO.
Quem e o quê o alimenta e lhe dá força, hoje?
A paixão. Preciso estar sempre apaixonado. Só crio no cio do amor. A arte do amado, da amada, me inspira, me musa!!!! Mas actualmente a própria criação no teatro, e a criação do que chamo Teat(r)o TRAGICOMEDIORGYA NAS "PERAS DE CARNAVAL PARA TEATROS DE ESTÁDIO me dá força, como também o desejo de reconstruir o Bairro do BIXIGA, onde fica o Teat(r)o Oficina, através da construção de um Complexo Cultural Arquitectónico Urbanístico, um Teatro de Estádio, uma Universidade Antropófaga, uma Oficina de Florestas, no que chamamos ANHANGABAÚ DA FELIZ CIDADE [o vale do rio Anhangabaú é um espaço público na região central de São Paulo, perto do teatro Oficina]. Me inspiram também as viagens pelo Brasil e internacionais com um repertório variado de peças. Queremos muito ir na Primavera europeia de 2011 para alguns lugares de lá, entre eles PORTUGAL, um grande desejo nosso.
O que é que o público procura no teatro?
O público ínfimo do teatro procura o entretenimento e ver de perto as celebridades da TV fazendo monólogos. Mas o que o Teat(r)o pode dar vai mais longe: a percepção de seu poder humano. Mas que passa pelo amor-humor, pela diversão também. Em português nós temos a força desta palavra que era escrita antes assim, PHODER, com "PH". O TEATO, veja bem: TEATO, a BRUXARIA ARCAICA DO QUE FOI E ESTÁ RETORNANDO A SER O TEATO, mais que o TEATRO com o R que esconde a grandeza do ATO, da sua razão de ser: a ACÇÃO HUMANA EM DIRECÇÃO À SUPERAÇÃO, AO QUE É HUMANO DE MAIS, por exemplo: o drama é PHODER=FODER. PHODEROSO.
Qual a diferença entre palco e vida?
Tem um grau a mais, a favor da mistura dos dois no Teat(r)o. A TEATRO-VIDA no Teatro é criação de mais VIDA.
É importante a experiência longa do tempo num espectáculo?
Porque precisamos superar a lógica da ditadura do "Show Busine$$", que é muito mais "Busine$$" que "Show", o famoso limite de 90 minutos. Só quando desregramos os sentidos, ultrapassamos o convencional e o cansaço, estamos preparados para viajar juntamente com os actores treinados na lucidez da possessão, nas sensações corpóreas do nosso inconsciente trágico, poético, mágico, cómico e orgyástico
Porque é que o corpo nu e o sexo são importantes em cena?
Porque nascemos do amor e na nudez. Os índios nus do Brasil revelaram ao Hemisfério Norte Vestido que somos todos iguais, trouxeram a percepção dos direitos humanos na revolução francesa, bolchevista, surrealista e digital, agora. O corpo humano é um aparelho que vestido ou nu é poderoso. Ter vergonha de nosso corpo de bicho é um pecado sem nome pelo qual o cristianismo, o islamismo, o judaísmo, todos os "ismos" e monoteísmos, vão ter de pedir PERDÃO. O sexo é sagrado, porque deixa de ser sexo, divisão, quando é vivido em toda sua real grandeza, sem pecado, e passa a ser comunicação com CORPO SEM ORGÃOS DE QUE É FEITO O COSMOS DOS CORPOS ASTRAIS APAIXONADOS.
Diz que o Brasil é antropófágo. Porquê? E de que forma isso pode actuar no mundo de 2011?
ANTROP"FAGO. Quando o bispo português Sardinha ia para Roma de navio pedir ao papa mulheres brancas para que os portugueses da colonização não se misturassem com as índias, os índios caetês comeram ele [em 1556]. Isso depois do naufrágio de seu navio nas costas do actual estado de Alagoas. Ele estava vivo, jogado pelo mar, todo vestido com seus paramentos de tafetá e seda, num recife. Os índios o descascaram e comeram. Aí começou a real história do que chamam Brasil. Lula, nosso já quase ex-presidente, é de uma cidade chamada Caêtes, da mesma tribo destes índios [em Pernambuco]. Foi o nosso primeiro presidente antropófago. Comeu de Tudo! Oswald de Andrade, um grande poeta modernista da geração de 1922, em 1928, comendo uma rã, compreendeu que viemos do deus animal, e declarou: "Não sou mais moderno, sou o primeiro pós-moderno do mundo. Sou antropófago." E com isso fez retornar a cultura dos índios, dos afro-brasileiros, dos imigrantes pobres, ao que ele chama o "BÁRBARO TECNIZADO", arraigado à sua origem animal, vegetal, terrena mas com as antenas "plugadas" na Ciência das Tecnologias à disposição dos mortais, como hoje a Tecnologia Digital e a BioGenética. A Antropofagia foi um elo perdido, reencontrado primeiro por Oswald de Andrade. Termos montado em 1967 "O Rei da Vela", peça até então inédita dele, que estava no mais absoluto ostracismo, trouxe pela segunda vez à minha geração o contacto com este elo perdido. Isto deu o MOVIMENTO DA TROPICÁLIA. Glauber Rocha que captava a "Terra em Transe". Hélio Oiticica que criou a obra de Arte Plástica Ambiental "Tropicália", ao mesmo tempo que tirou a pintura da parede e a vestiu para dançar nos PARANGOLÉS [capas ou estandartes que só mostram as suas formas e cores quando as pessoas os movimentam]. Caetano Veloso, que antes de ter visto "O Rei da Vela" compôs a música "Tropicália". José Vicente, um autor de peças de teatro que escreveu "Santidade", uma revolução teológica em que sagrou a divindade da sexualidade... Gilberto Gil e muitos outros... Sismografaram a revolucão cultural de descolonização brasileira. Todos os grandes mestres até 1967 diziam que a origem da cultura e do teatro brasileiro estava no padre jesuíta português Anchieta, que fazia a lavagem cerebral dos índios que viviam no Brasil. Com a Antropofagia e a Tropicália, retornamos a nossa origem remota, ao mesmo tempo próxima, pois o povo brasileiro é antropófago. Como os índios, somos "animistas", acreditávamos na origem animal do deus, e passámos a devorar toda a cultura branca, ocidental, cristã, que nos colonizava. Esta atitude vem do proprio índio, do negro, em cruzamento com os brancos, que não somente acriolaram nossa língua, como diz o grande sambista Noel Rosa: "Tudo aquilo que o malandro pronuncia com voz macia é brasileiro, já passou de português." 2011 nasce como um ano muito marcado pelas reacções à atitude libertária do mundo desde 1968. Todas as conquistas da mulher, do homem hoje no mundo são marcadas pelas fobias racistas, sexuais, culturais, o horror aos emigrantes que retornam aos países colonialistas, o Tea Party nos EUA, os fundamentalismos no Oriente, e lá vai etc... A Antropofagia trouxe a atitude cultural do povo brasileiro mestiço à tona: a antropófaga, carnavalesca, inversora de valores, transformadora dos Tabus em TOTENS. Esta cultura tem o poder de excitar os multiculturalismos que não se misturam pelo belo lema da Antropofagia: "Só a Antropofagia nos une."
Ao longo de 2010, andou pelo Brasil a celebrar uma orgia que culminou em São Paulo com milhares de espectadores e uma conquista territorial. O Teatro Oficina está mais forte do que nunca.
1. Começo
O quê, ainda mexem? E ainda se despem? Quem pergunta assim ficou para trás: não só o Teatro Oficina está bem vivo na véspera de 2011, como passou 2010 a devorar e a ser devorado por aqueles que têm idade para serem seus netos, milhares deles, Brasil fora. Agora são oito da noite em São Paulo, Sampa, grande caldeirão da antropofagia brasileira. O que é a antropofagia? Quando os diferentes se comem e ficam mais fortes. No velho bairro do Bixiga, uma rua desce entre o que parecem escombros. Mas há uma luz acesa: noite de ensaio no Oficina. Daqui a dois dias, estreia-se "Dionisíacas em Viagem", sequência de quatro peças que tem andado em digressão: Brasília, Salvador, Recife, Belém, Manaus, Inhotim/Belo Horizonte, Rio de Janeiro. Sampa, rebaptizada Sampã, vai ser o culminar, não só porque o Oficina mora aqui, como pela vitória inédita que acaba de obter. Fundado em 1958 por José Celso Martinez Corrêa, essa encarnação de Dionísio tropical por todos conhecida como Zé Celso, o Oficina criou um antes e um depois no Brasil ao encenar em 1967 "O Rei da Vela", de Oswald de Andrade, autor do "Manifesto Antropofágico." Foi o arranque do Tropicalismo. E desde então o Oficina marca a cena brasileira, reescrevendo Shakespeare e a Tragédia Grega, Genet, Brecht, Nelson Rodrigues ou Euclides da Cunha, transformando-os em musicais catárticos com texto próprio, aos quais gerações de actores se entregaram sem limites. A sombra, nos últimos 30 anos, chamou-se Sílvio Santos. Ícone da TV brasileira tornado grande empresário, ele queria fazer um "shopping" ao lado do teatro, eventualmente com o teatro dentro. O Oficina correu o risco de ser engolido pelo arqui-inimigo. Mas afinal foi o contrário. Um rombo de 2,5 mil milhões de reais no Banco PanAmericano, do Grupo Sílvio Santos, forçou o empresário a dar o seu património como garantia, e buscar a paz com o Oficina. Para mais, o edifício do teatro acabava de ser enfim classificado como património, o que tornou o terreno ao lado dificilmente compatível com um "shopping". Então, Sílvio Santos cedeu o terreno para uma tenda onde cabem 1500 pessoas, primeiro passo do Teatro de Estádio, ambicionado por Zé Celso. Ei-la, a reluzir na noite, toda branca. É nela que acontecerão as "Dionisíacas". Mas o ensaio está a acontecer ao lado, no teatro. "Ah, só começou há uma hora", diz o moço da recepção. Uma hora no Oficina é para aquecer. A porta dos artistas conduz a uma escada em caracol que conduz a um "open space" semi-obscuro, com "chariots" cheios de roupa, espelhos, máscaras, ao fundo um rumor de vozes e andaimes. Avançamos: lá em baixo uma rampa com actores; lá em cima, mais andaimes até ao tecto. Isto é o Oficina. O que parecem andaimes é a plateia. O que parece uma rampa é o palco. A actuação corre por todo o espaço, ao longo da rampa, como num sambódromo, e por entre os andaimes, sempre que os actores trepam pelos ferros. A parte de cima das paredes é de vidro, com plantas e um tecto retráctil que se pode abrir para a lua. Eis o encontro de um colectivo extraordinário com uma arquitecta extraordinária, Lina Bo Bardi.
2. Ensaio
O nome está certo: Oficina. Esta é uma história de sexo, drogas e MPB. Uma história do teatro, do cinema, da poesia, da música, da tecnologia, mas sobretudo uma história de trabalho colectivo, ou seja de amor, ou seja de poder. E isso é o mais assombroso na primeira experiência de assistir a um ensaio do Oficina. Não os sexos expostos, mas o trabalho que é um teatro total: muito texto, muitas canções, muita música, muita acção, muita acrobacia, muita projecção fotográfica e de vídeo, muita gente a filmar, sempre em movimento. Electricidade. Ao todo, o Oficina não são menos de 60 pessoas continuamente ocupadas, e as peças podem durar cinco, seis, sete horas. É por isso que o nome está certo. Aqui não se pára de trabalhar. Será o contrário do caos: criação. Cada um implica o outro, vida replica vida. E fixem este nome: Anna Guilhermina. Pouco mais do que um metro e meio de gente, um caule delicado. Mas quando entra em cena devora o teatro até ao tecto. Ela é "Estrela Brazyleira a Vagar: Cacilda!!", a peça que Zé Celso escreveu num internamento hospitalar, como se fosse normal alguém numa cama de hospital pôr-se na cabeça da diva do teatro brasileiro nos anos 40-50-60, Cacilda Becker, e na alta sair com uma história do mundo no século XX, vista a partir dos palcos do Brasil, fase Getúlio Vargas, entre o Casino da Urca e o deslumbre pela cultura americana. "Nada se perderá, nem se perdeu, mas o mundo agora é meu!", canta o coro. Eles cantam, dançam, correm, dizem nacos de texto sem perdermos uma palavra, trocam mil vezes de figurino, estão em cima e em baixo e em toda a parte, mudam adereços, e cenário, e tudo isto se articula sempre com a banda ao vivo, piano, bateria, baixo, guitarra, sopros, e projecções em dois ecrãs. Anna Guilhermina está de pernas escancaradas, num frenesim. É a defloração de Cacilda, aliás, a floração. O Oficina convida os espectadores a trazerem flores para este momento. A Origem do Mundo devorada pelo Oficina. Até ela se erguer, vital, triunfante. A repórter pensa que não é possível ter corpo e voz para mais texto, mais canção, mais acção, mais defloração e floração, e ainda só viu um terço do ensaio de uma das peças. Quando este texto acabar terá visto 16 horas de actuação, fora bastidores, e Anna Guilhermina nunca deixou de ser protagonista. Mas reparem bem, o projecto anterior, "Os Sertões", a partir de Euclides da Cunha, tem 27 horas de duração.
3. A estreia
É hoje. A sequência das "Dionisíacas" abre com "Taniko", prossegue com "Cacilda!!", a seguir "Bacantes" e a fechar "Banquete". Vai assim do teatro nô à filosofia platónica, passando pelo mais orgiástico espectáculo do Oficina. Esta noite é "Taniko", peça invulgarmente curta. Está marcada para as oito e a fila já tem mais de mil pessoas, através dos escombros do que foi demolido no terreno, até às barraquinhas de cerveja, maçarocas, pipocas, sopas, açaí. Em geral, uma noite de Oficina tem intervalo para comer mais do que uma vez. A fila já mexe. Toda a gente avança de forma fluida, sem atropelos. Cara branca e quimono, Zé Celso está com alguns dos seus samurais a receber o público. Dançam e cantam num sussurro sorridente: "Nô Bossa Nova Trans Zen Iku... Nô Bossa Nova Trans Zen Iku..." Uma evocação da saga que foi a emigração japonesa para o Brasil. Lá dentro, o palco tem bancadas alcatifadas de cada lado. Os espectadores alastram rapidamente. O velho senador Eduardo Suplicy, que ajudou a intermediar o caso Sílvio Santos, é aplaudido. Uma actriz vem proclamar avisos e agradecimentos, incluindo o ministro da Cultura Juca Ferreira. É dia 17 de Dezembro e ainda não foi anunciado que será Ana de Hollanda, irmã de Chico Buarque, a ficar com essa pasta. Zé Celso agarra no microfone para pedir que Juca fique. E palmas para Lula, "o nosso querido presidente". A dedicatória final é para a directora de vídeo do Oficina, Elaine César, hospitalizada depois de perder a guarda do filho de três anos. Os advogados do ex-marido argumentaram que a criança estava exposta a cenas pornográficas no convívio com o Oficina. O caso, defende o Oficina, é um atentado aos direitos humanos. Luzes. Acção. Caligrafia ao vivo. Uma mãe despede-se do filho que vai partir. Actrizes que deslizam como gueixas e rodopiam como derviches. Tempestades no mar e Bomba de Hiroxima. Uma tábua com facas que servirão para esfaquear um homem talvez 104 vezes (ver entrevista). Velas, bossa-nova, uma sereia. Depois uma corda dourada puxa os espectadores para a saída, até todos contornarmos a tenda, e voltarmos a entrar. Os actores olham-nos em êxtase, com um sorriso inumano. O nosso destino é sermos engolidos pelo teatro no fim, quando toda a gente se mistura a dançar. "Você veio da China?", pergunta uma menina de cinco anos a Zé Celso e seu quimono. Os abraços não param, ele está radiante. A repórter apresenta-se, como combinado. Ele agarra-a e atravessa com ela mais abraços e beijos até aos camarins, por baixo das bancadas. Mal entramos, temos um nu masculino a secar a cabeça com uma toalha, num esplendor de estátua, mas cor de canela. Zé Celso corre para o sexo e pega-lhe. "Isso é pau do Brasil!", diz para a repórter. E ri como um sátiro. A seguir senta-se frente a um espelho, para tirar o branco da cara. Tem 73 anos e esta memória: "Estive em Portugal do dia 18 de Setembro ao dia 25 de Novembro." De 1975, claro. "Ocupámos uma casa da PIDE e juntámos gente do mundo inteiro." Pede um bocadinho de creme aqui, outro ali, espalma as mãos na cara. "Ah, isto arde!" E, já nas mãos de uma profissional, continua a falar do PREC, e como depois o Oficina foi para Moçambique. Quando lhe vêm dar parabéns pelo espectáculo, lamenta um problema na luz. "Sofre, Zé, sofre!", ri-se alguém. "Eu sofro...", sorri ele. "E em Belo Horizonte, quando o morro invadiu?", pergunta a uma das actrizes. "Nossa! Belo Horizonte foi o melhor! Eles tomaram tudo!", responde ela. É Mariana, uma jovem violoncelista. Zé Celso viu-a uma vez e pronto. No espectáculo seguinte ela já era uma bacante. Desgrenhados, suados, alegres, os actores cirandam nus. Fora Zé Celso, o mais velho será o cubano Hector Othon, barbas grisalhas. E depois há o protagonista masculino Marcelo Drummond, que tem tantos anos de Oficina como o belo Roderick, namorado do fundador, tem de idade: 24 anos. Liberto do pó branco, Zé Celso põe baton vermelho e agarra a mão da repórter: "Vamos ver o 'show'." É que, aproveitando o Oficina estar a actuar na tenda, a cantora Iara Rennó faz esta noite no edifício do teatro o seu concerto de estreia, inspirado no "Macunaíma" de Mário de Andrade. Repórter numa mão, namorado na outra, Zé Celso atravessa os escombros até à boca de cena. Os técnicos sussurram que estavam à espera dele. Avançamos pelo centro da rampa, na obscuridade. Os andaimes transbordam de gente até ao tecto, olhos postos em nós. A banda aguarda, segurando baquetas e baixos. A orquestra aguarda, segurando violinos e violoncelos. Somos um cortejo de três. E só quando Zé Celso se senta, ao fundo, um ecrã se acende e aparece Mário de Andrade. Depois, de trás do ecrã irrompe Iara, num tantan de pés descalços, cabelo afro, voz de menina, poderosa: "No fundo do mato virgem / nasceu Macunaíma / era preto retinto / e filho do medo da noite..." Daqui a nada Zé Celso está deitado no chão a ouvir. E depois, sempre agarrando a repórter, sobe os andaimes. Pendura-se do primeiro andar, até que Iara volte a cabeça e cante para ele. Volta a agarrar a repórter e sobe mais um andar: "Aqui! Aqui!" Iara levanta a cabeça, à procura. "Olha para mim, meu amor!", grita ele. Quer que ela domine todo o espaço até ao tecto. Que nos devore.
4. O almoço
No dia seguinte a repórter toca à campainha de Zé Celso pelas 14h. Atende Marcelo: "Vou já descer." Desce com o seu rabo de cavalo e um pequeno cão, mas como está a chover e o cão tem medo volta para o elevador. Subimos juntos. Livros em modestas estantes de ferro. Livros muito lidos. E mobília desirmanada. Luxo nenhum. Roderick roda os braços para trabalhar a respiração. Marcelo vai buscar um baseado, ou seja um charro, e oferece. No Oficina fumam-se mais baseados do que cigarros. Aparentemente moram os três nesta casa. Zé Celso atravessa a sala concentrado à procura de algo. Marcelo explica porque é difícil viajar com o Oficina. "Cena contemporânea quer dizer pobre: quatro actores e duas cadeiras. Quem consegue pagar 60 pessoas de um lado para o outro, alimentação e hospedagem?" Falamos na duração dos espectáculos. "Mas o 'Mahabharata' [encenação de Peter Brook] tinha nove horas", diz ele. "O problema é que o teatro europeu é chato. E o Zé é alegre." "Vamos almoçar?", pergunta Zé, já pronto, malinha de rodas, fato de treino e colar de penas. Desce a rua como se não chovesse. Marcelo ficou em casa, mas Roderick vem, trazendo um chifre de boi que comprou. E enquanto Zé Celso pára na farmácia, Roderick conta como se conheceram. Ele era estudante de Química em Florianópolis. Há um ano foi ver o "Banquete". "O Zé olhou para mim e se apaixonou na hora. E no fim disse: vem ser actor connosco." Roderick hesitou meses e depois foi. Largou tudo e veio para São Paulo. Zé volta com os remédios, seguimos para o restaurante, três saladas, dois sucos de melancia, e ala para o teatro. "O PT tem uma política cultural estalinista", diz Zé Celso no táxi. "Utiliza a arte para conscientizar as pessoas. Gosta muito do Teatro do Oprimido. É a cultura para fins políticos. É ismo, também, colonizado pelo marxismo. Mas o Gil, o Caetano, o Hélio Oiticica, o Glauber Rocha, o Oficina, nós vimos a arte como um poder em si. A arte como carnaval, africano, tropical, dos imigrantes, a partir do lugar onde estamos. E o Gil trouxe essa cultura orgiástica, popular, carnavalesca, mas usando a revolução tecnológica [para o governo de Lula]. O Juca [Ferreira] foi assessor do Gil. Então o Gil saindo, sucedeu o Juca, que foi maravilhoso. Aumentou o orçamento e estabeleceu concursos, porque antes era só celebridades. Essa política deu lugar aos novos, estabelecendo pontos de cultura por todo o país, ligados à Internet. Nunca tivemos um ministério da Cultura assim no Brasil nem talvez no mundo. Lang e Malraux também eram colonialistas. E essa cultura da Tropicália é completamente descolonizada." Mas sendo crítico do PT, Zé Celso não só é fã de Lula como de Dilma. "Naquela crise enorme do PT [o Mensalão, mesadas dadas aos deputados] ela se mostrou muito firme." Roderick fala sobre a sua ascendência, de olho azul misturado com índio. "Essa é que é a cultura da antropofagia", remata Zé Celso. É que aqui a gente se come, se mistura, então é mais fácil a gente se aceitar." E daqui vai lançado: "O marxismo só considera o oprimido e o opressor. O capitalismo está-se desmoronando." O que aconteceu entre o Oficina e Sílvio Santos prova isso: "Uma vitória sobre o capitalismo e a especulação imobiliária." E como uma criança, vendo o táxi aproximar-se do teatro: "Ai chegámos! Que bom!"
5. Bastidores
Quase quatro e "Cacilda!!" começa às seis. Não temos muito tempo para concluir a conversa. Um bocadinho no camarim, antes de Zé Celso fazer alongamentos. Marcelo enrola um baseado em cima de uma Bíblia. "Eu fumei uma Bíblia inteira já", diz Zé Celso. "Às vezes eu lia, depois eu viajava...." E ri. A maravilhosa Cacilda está a ser já maquilhada. As outras actrizes circulam nuas. Mariana, a violoncelista, mostra o joelho esfolado na véspera. Como é que Zé Celso escolhe as pessoas assim, olhando uma vez? "É um mistério", diz ele, roubando o baseado que ficou pronto. "Eu sei que existe uma 'oficinofobia' ou uma dionisiofobia. As pessoas têm medo de trabalhar aqui porque há uma ligação total entre arte e vida. Mas tem de haver uma morte iniciática do ego para chegar no 'em mim'. Quando você está entregue, tem muito mais individualidade. O ego é um espectáculo para o outro, não é você. Então tem de ter um desmembramento, um amassar as uvas para virar vinho. É um processo muito diferente da vida patriarcal, convencional, do sistema. Para fazer uma grande peça, um Shakespeare, um Nelson Rodrigues, você tem de se entregar. O deus Dionísio está totalmente em mim. Quando você se perde no carnaval está mais em você que nunca, ligado aos minerais, aos vegetais, aos objectos, ao cosmos. Para ter essa ligação, tem de matar a sua anatomia antiga, a colonização do corpo. Tem de encontrar a vocação das pessoas que querem retornar aos rituais dionisíacos do teatro. O teatro faz parte da natureza. É uma arte parte da ecologia humana. Os actores experimentam todos os delírios e loucuras, para além do bem e do mal." Nietzsche é um dos autores de Zé Celso. "Essa vocação bate. É como você se apaixonar." Roderick, por exemplo: "No 'Banquete', ele derrubou a cena. A tendência é o espectador cada vez assistir menos e e receber a incorporação do actor." O Oficina faz oficinas, as Uzynas Uzonas, e ensaios abertos. Foi assim que encontrou Anna Guilhermina. "Ela apareceu num ensaio aberto dos 'Sertões'. É de uma família de actores, menina judia, fez 'kibbutz' em Israel. E na 'Cacilda' faz o papel da melhor actriz do Brasil, uma mulher que captava a energia toda da sala. Tem de imaginar João Gilberto actriz." Ri, com a cabeça para trás. Se João Gilberto aqui estivesse ia pegar nesse baseado e dar uma tragada. "Somos muito amigos. Ele me chama de Minotauro. Uma vez deixou de fazer 'show' em Nova Iorque para ficar tomando cogumelos comigo, 'peyote'." Foi no mesmo ano do PREC, 1975. "Me convidou para ir na casa dele. Eu ia ver um 'show' e ele disse: 'Isso é porcaria, venha cá já. Ele é um iogui rebolado. De bossa nova. 'Taniko' é isso: o João Gilberto." O baseado está quase no fim. "Experimentei todas as drogas e não me arrependo, fez muito bem. Só não posso cheirar porque sou cardíaco. E sou favorável ao fim da guerra do tráfico pela legalização." Alguém toca Gershwin numa trompete, umas costas nuas dobram-se como num Renoir, Cacilda/Guilhermina relaxa numa bola de pilates. "É preciso um trabalho que chamo de atletismo afectivo, de respiração, de voz, de acrobacia, de resistência, de leitura", diz Zé Celso, fechando os olhos. "Ler Nietzsche ou Oswald de Andrade para o corpo dar o que quer. Fazemos uma coisa próxima da macumba. Não é macumba, é teatro com essa religião de inversão dos valores. O cristianismo é a sublimação dessa religião. Dionísio é filho de um imortal e de uma mortal. Tem o poder intermediário, põe-nos em contacto com o divino, do dar valor à vida, a um banho de cachoeira, a tudo." O baseado actua. Zé Celso deita-se no chão para alongar. Saindo dos camarins, a banda ensaia, acertam-se vídeos, há bombeiros a passar, cortinas içadas: o Oficina é tudo isto. Cada um sabe o que tem a fazer para que a beleza emerja e atinja o seu clímax.
6. Orgia
Quatro e meia e lá fora já há fila. As pessoas trazem flores para Cacilda. Rapazes com acne e brinco discutem deuses gregos. Um problema técnico vai atrasar o início. Em círculo, no palco, os actores aquecem a voz. Zé Celso, t-shirt às riscas e suspensórios dá instruções: "Soltem as falas, liberem, liberem, e vamos dar ritmo, velocidade!" Roderick faz de anjo negro de Cacilda: Satanás. MERDA!!!!, gritam todos. E a tenda abre-se aos espectadores. Durante todo o espectáculo Zé Celso anda pela cena. Anna Guilhermina vai em crescendo até à apoteose das flores sobre o seu sexo aberto. Ela é a Nina da "Gaivota", Madame Butterfly e Desdémona. Ela bebe vinho. Não. Ela bebe absinto. Ela é o Brasil do Candomblé. "E a vida é ma-ra-vi-lho-sa", diz ela, a rodopiar. No intervalo, entre ruínas, fila para comer e beber. Depois a campainha chama. Assim será duas vezes. De cada vez a sala vai ficando com mais clareiras. A passagem do tempo filtra. Má sorte de quem saiu: o último acto é já o mergulho na orgia que serão as "Bacantes". E no dia seguinte não se consegue avistar sequer o fim da fila, compacta, fervilhante. A repórter entra pelos camarins. Zé Celso caminha de túnica vermelha e bordão. Às seis e meia o público entra, lotando as bancadas. Está tanto calor que toda a gente usa o programa - com as canções de cada espectáculo - para se abanar. Bancada diante de bancada, é como ver o nosso gesto ao espelho. Mas ali naquela fila, são mesmo espectadores nus? Sim, tiraram a roupa e estão ali sentados, com tufos de pêlos, barriguinha pendendo sobre o pénis, nuinhos. Zé Celso grita por Lezama Lima e por "Cuba Libre!" Roderick entra soprando o chifre. Acende-se fogo em cena. Cheira a maconha. Os bandos de jovens que colaboram com o Oficina bordejam a arena, como um cordão em transe, já semi-despidos. "Bacantes" tem todos os ritmos: samba, rock, batuque, malhão malhão, ópera, missa de Bach. Eles trazem a Bruxa Má para dar a maçã a Eva. Eles misturam Fidel Castro com Zeus e a revolução. Eles usam coroas de hera e não deixam que o fogo se apague. Eles devoram uvas como se fossem carne humana. Eles viram o rabo para nós, incluindo Zé Celso/Tirésias. Eles fazem que copulam em série. Eles esfregam o pénis nos cabelos delas. Mas não há um sexo erecto. O vinho jorra, partem-se copos, há que apanhar os cacos no meio de acção sem que ninguém se magoe. A arena enche-se, tudo a descer das bancadas para vir dançar, rebolado. Tiroteio, fumo, tropa de elite, ditadura militar, Guernica. E de novo tudo a cantar. O último solo é de Zé Celso: "É impossível ser feliz sozinho..." Marcelo beija-o na boca. O minotauro coloca a sua cabeça. Os corpos das bacantes estão sujos de terra, brilhantes de purpurina. As bacantes escancaram as pernas. No intervalo, um fã com acne diz: "Eu gostava de andar assim pelado, mas sou tão magrinho..." O último acto recomeça com "Simpathy for the devil", dos Stones: "Pleased to meet you..." Um pénis dourado de quatro metros entra em cena, como um aríete, seguido por Marcelo, de máscara e chicote, todo de couro, saltos altos e sexo de fora. Na grande orgia final as bacantes atiram-nos uvas. E todo o mundo acaba a dançar samba. O Brasil comeu tudo e ficou forte.
por Alexandra Lucas Coelho publicado na revista Ypsílon de 29.12.2010
Legenda que acompanha: See how the World Searched with Google's 2010 Zeitgeist: http://google.com/zeitgeist2010 Re-live top events and moments from 2010 from around the globe through search, images, and video. Music: GoodLife by OneRepublic Produced by Whirled Creative
A libertação em Londres, sob fiança, do fundador do WikiLeaks foi mais um dramático capítulo na saga envolvendo o polêmico site de vazamento de informações. Três semanas depois do início da divulgação de milhares de mensagens sigilosas da diplomacia dos Estados Unidos pelo site de Julian Assange, apenas uma coisa é certa: o WikiLeaks, ou pelo menos a atividade à qual ele se dedica, veio para ficar. Segredos de Estado nunca mais estarão tão seguros quanto antes, diplomatas aumentarão o cuidado com o que dizem e/ou escrevem, e governos se prepararão melhor para reagir à exposição de suas verdades. Hackers protestaram contra a prisão de Assange entrando em áreas sigilosas de sites de empresas financeiras que o abandonaram, numa mostra da fragilidade do mundo virtual. A tecnologia digital criou uma nova realidade, de espionagem e contra-espionagem, invasões de sistemas e bancos de dados, da qual parece ser impossível escapar. O vazamento das mensagens diplomáticas americanas, sobre os mais diversos assuntos, foi chamado por alguns de 11 de Setembro da diplomacia, um episódio de implicações imediatas gigantescas e consequências futuras incertas. A dura reação de políticos após o vazamento, com o WikiLeaks perdendo apoio logístico de empresas (Amazon, Mastercard, VISA) e a polêmica prisão de Assange sob suspeita de abuso sexual mostraram que muita coisa estava em jogo. O fundador do WikiLeaks diz que seu objetivo não é apenas revelar segredos dos Estados Unidos. Sua luta, afirma, é pela liberdade de informação quando segredos protegem grandes interesses, políticos ou econômicos. Mas seus críticos dizem que a exposição de segredos de forma pouco criteriosa, sem uma clara justificativa editorial, ameaça a segurança de nações e indivíduos. Por enquanto, o debate parece estar dividido entre os que combatem os grandes poderes e aqueles que os defendem. A força do status quo contra uma nova geração de revolucionários virtuais. Desse ponto de vista, é fácil para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defender publicamente Julian Assange e a liberdade de informação. O Brasil é um ator em ascensão que tem pouco a perder com a revelação de documentos secretos americanos. Mas o poder e a responsabilidade brasileiros aumentam a cada dia, e o interesse nacional falará mais alto se o Brasil for um dia confrontado com revelações indesejáveis feitas por algum hacker intrometido. Quem tem pouco a perder com as ações do WikiLeaks hoje pode ser seu inimigo amanhã. Como em qualquer outra atividade humana, no atual conflito entre o site de Julian Assange e o poder tradicional alianças são feitas e desfeitas, laços se rompem com a mesma rapidez com que são formados. Um porta-voz do WikiLeaks, Daniel Domscheit-Berg, decidiu deixar o site por divergências com seu chefe famoso e criar o OpenLeaks, a ser lançado em breve. Domscheit-Berg afirmou não concordar com as direções tomadas pelo site de Assange afirmando, ironicamente, que no WikiLeaks há "muita concentração de poder". Depois de enfrentar o poder de superpotências mundo afora, Julian Assange parece ter encontrado resistência ao seu próprio, o que só prova que a transformação trazida pelo WikiLeaks é muito maior do que ele mesmo. Outros sites, outros questionadores do status quo estão chegando, prometendo formas ainda mais eficazes de quebrar estruturas tradicionais, romper barreiras erguidas pelo poder e disseminar questionamentos e incertezas. Assange pode ser condenado por um suposto crime sexual ou mesmo eventualmente responder a acusações de espionagem nos Estados Unidos, como se especula. Seu site pode inclusive fechar as portas devido a pressões ou falta de recursos. Não interessa muito. O WikiLeaks, como fenômeno, como ferramenta inspiradora de abalo do poder, veio para ficar. Sua forma de atuação, adotada por outros, será uma realidade inerente às tecnologias abraçadas pela humanidade neste século. Os muros de Roma já foram derrubados, resta agora ao poder tradicional aprender a conviver com os bárbaros.
Eis, segundo Walt Mossberg que assina desde 1991 a coluna Personal Technology no The Wall Street Journal, a lista dos melhores e piores produtos tecnológicos deste ano:
Para serem mais honestos do que eu têm que nascer duas vezes.
– Cavaco Silva, Presidente da República e candidato a Belém, em resposta às acusações do candidato Defensor Moura em relação ao caso BPN, no frente-a-frente televisivo desta noite
Yacouba Sawadogo é o protagonista de um documentário acerca da agricultura em solo africano e do percurso desde agricultor iletrado, que já fez mais pela conservação dos solos na região de Sahel, na África, do que todos os peritos nacionais e internacionais juntos. O filme, inspirado na vida de Sawadogo, apresenta uma representação do seu percurso, desde a sua educação até à sua recente viagem aos EUA, onde participou num debate organizado pela Oxfam, para discutir medidas de replantação do Sahel. Segundo o site Tree Hugger, o documentário dá ainda a conhecer as técnicas pioneiras do agricultor, que se baseou, e acabou por melhorar, nas tradicionais técnicas “zai”, ou seja, a plantação de sementes directamente em poços, que haviam sido preparados com pequenas quantidades de adubo biológico. O objectivo é reverter a desertificação dos solos e restaurar a terra degradada. Yacouba Sawadogo começou, há cerca de 25 anos, a fazer experiências nas suas próprias terras e, depois de ter enfrentado os cépticos, acabou por ganhar a aprovação do seu sistema, ensinando os seus colegas agricultores. As novas técnicas reabilitaram os solos cultiváveis e motivaram o crescimento de florestas, fazendo com que aquela região africana fosse restaurada e reaproveitada para agricultura. A jornada do agricultor suscitou a atenção da imprensa internacional e de várias organizações sem fins lucrativos, que mostraram interesse em conhecer melhor as técnicas de Sawadogo. O documentário foi realizado para que o conhecimento do agricultor africano e a sua abordagem aos solos chegasse a uma audiência mais vasta.
«Yacouba single-handedly has had more impact on conservation than all the national and international researchers put together.
(...) Iin this region tens of thousands of hectares of land that was completely unproductive has been made productive again thanks to the techniques of Yacouba.»
Dr Chris Reij *
* é um dos especialistas em desertificação mais conceituados do mundo
The Man Who Stopped the Desert is a full HD, one hour feature documentary telling the story of Yacouba Sawadogo, an illiterate African peasant farmer who has transformed the lives of thousands of people across the Sahel.
Soil is essential to life on earth. But much of the world's soil has become degraded and useless. As the global demand for food grows, millions of pounds and the latest technological advances have been invested in attempts to improve soil quality. Leading scientists and agriculturalists from around the world strive against growing world hunger to find the means to bring exhausted soils back into production, but it seems that a peasant farmer from one of the poorest countries on earth has finally achieved what these experts dreamt of; halting the desert. During the 1970's and early 80's this vast region was hit with drought after drought. Families abandoned their villages in search of food and water, but Yacouba Sawadogo remained and pioneered a technique that battled the approaching desert. This is not simply an agricultural story. Yacouba Sawadogo's twenty year struggle is pure drama. It is about one man's conviction that now has the potential to benefit many thousands living in the Sahel region of Africa . Through cinematic reconstruction, Yacouba narrates his own back-story; how as a small child he was sent away to a Koranic school in Mali where he endured an endless regime of physical labour and the arduous task of memorising the Koran. Then, as a young man he fights the accepted wisdom of the traditional land chiefs who are opposed to his new farming techniques. Opposition turns to anger when jealous neighbours burn down Yacouba's newly planted forest and millet fields. But Yacouba is undaunted. He perfects his technique, and today his name is synonymous with reversing the process of desertification. So much so that in November 2009 he was invited to Washington DC to share his story with policy-makers on Capitol Hill. It is an incredible climax to a gripping and timely story. In late 2009 the Bill and Melinda Gates Foundation declared small farmers (like Yacouba) as key to helping alleviate famine and poverty amongst the world's poorest, launching a multi-million dollar research and investment programme into local solutions for Africa. Dr Chris Reij of Vrij University Amsterdam who has followed Yacouba's work over the past 25 years had this to say of his achievements:
Yacouba single-handedly has had more impact on…conservation than all the national and international researchers put together..In this region tens of thousands of hectares of land that was completely unproductive has been made productive again thanks to the techniques of Yacouba
DianaEl-Osta, Development & Production National Geographic Channels, International:
I think Yacouba's story is both incredibly timely and important given the current crisis in many parts of the world with desertification. It is also rare to find a conservation story with such an upbeat and inspirational ending.
Vale a pena ler o artigo “Uma evolução silenciosa” escrito por Marina Silva para o suplemento especial da revista Veja, editado este mês de Dezembro, e que reúne uma série de reportagens focadas na resposta positiva à questão: “O Brasil pode crescer em ritmo chinês sem agredir o ambiente?“ Uma nova consciência ambiental no país é o mote do artigo de Marina, que lança mão de dados do Ministério do Meio Ambiente, do Guia Exame de Sustentabilidade 2010 e da força alcançada pela sua candidatura nas últimas eleições presidenciais (com 20% dos votos), para demonstrar como a sociedade civil brasileira vem colocando em pauta o desafio político da sustentabilidade.
Ficará disponível, a partir de hoje, a edição nº 32 da revista 365: para ler AQUI e, lá para o mês que vem (caso alguém se volte a lembrar de colocar os pdf online), tentar o downloadaqui. Desta vez, inclui textos e contos de Fernando Pessoa, Miguel Esteves Cardoso, Gonçalo Cadilhe, Fernando Miguel Santos, fotografias de Zuhal Koçan, Philip Flesh e Sara W. «entre outros cúmplices».
A festa de lançamento acontece mais logo, no Bar Bicaense. Fica o convite:
A grande festa de lançamento será pois no Bar Bicaense juntando-se assim, aos ShortCutz Lisboa que decorre todas as terças-feiras pelas 22h no já referido e incontornável bar do Bairro da Bica. Para quem não sabe o ShortCutz é um movimento internacional de curtas-metragens. Em cada sessão participam duas curtas a concurso e uma curta convidada. Semanalmente conta também com a presença dos mais diversos e distintos convidados ligados ao cinema e às artes visuais. Apontem na agenda que têm só para acontecimentos de gabarito e venham daí ver boas curtas-metragens, beber um ou outro digestivo, conviver, folhear (e claro está, levar para casa) a nova Revista 365.
Trabalho oficial cumprido, trabalho de casa terminado. Deixo, então, tudo o que foi sendo recolhido ao longo do 'Research Dissemination Workshop' organizado pelo Banco Mundial – Indigenous Peoples, Poverty and Development – que ontem decorreu em Washington e a que o Conexão já aqui havia feito menção. Chamo a atenção para um detalhe interessante, que pode passar despercebido no conjunto dos materiais aqui deixados: os vídeos do evento. Estão disponíveis na íntegra, pelo que é possível assistir ao que foi dito pelos diversos 'speakers' intervenientes em cada uma das 5 sessões incluídas no Programa. Idem para a sessão inaugural e o debate final.
Indigenous Peoples worldwide continue to be among the poorest of the poor and continue to suffer from higher poverty, lower education, and a greater incidence of disease and discrimination than other groups. This is the main finding of the study Indigenous Peoples, Poverty, and Developmentsupported by The Trust Fund for Environmentally & Socially Sustainable Development (TFESSD). The study offers a "global snapshot" of a set of indicators for Indigenous Peoples vis-à-vis national demographic averages. It also considers in detail how social conditions have evolved in seven countries around the world (Central African Republic, China, Congo, Gabon, India, Laos and Vietnam) during 2005-2010, the first half of the UN's Second International Decade of the World’s Indigenous Peoples. The report attempts to systematically document poverty for Indigenous Peoples outside of the Americas, New Zealand and Australia. The most encouraging news from the study is that some countries are making progress in poverty reduction for Indigenous Peoples. We now know that poverty rates have declined substantially among Indigenous Peoples in Asia. To disseminate the main findings of the above report this workshop brought together the authors of the various studies to share their findings and engage in a dialogue with researchers and Bank staff about how to operationalize the findings. The event also brought together researchers studying Indigenous Peoples' issues in other parts of the world and involved in innovative projects. In addition, the event included a policy discussion with representatives of other multilateral organizations.
Bolivia: Ricardo Godoy, Professor, Heller School for Social Policy and Management, Brandeis University; Eduardo Undarraga, PhD Candidate, Heller School for Social Policy and Management, Brandeis University
Mexico: Vicente Garcia-Moreno, PhD Candidate in Economics and Education, Columbia University
Chair: Elisabeth Huybens, Sector Manager, Social Development Department
Chile: David Ader, PhD Candidate in Rural Sociology and Demography, Pennsylvania State University
Canada: Daniel Wilson, Independent Consultant, Aboriginal Rights, Human Rights and Strategic Planning; David Macdonald, Economist and Research Associate, Canadian Center for Policy Alternatives
Chair: Robin Horn, Sector Manager, Human Development Network - Education
Authors Gillette Hall and Harry Patrinos discuss the findings of the report: Harry Patrinos, Lead Education Economist, Human Development Network, The World Bank Gillette Hall, Visiting Associate Professor, Georgetown University Cyprian Fisiy on Bank's Engagement with Indigenous Peoples: Cyprian Fisiy, World Bank Director for Social Development
David Ader is a PhD Candidate in Rural Sociology and Demography at Penn State University. His research focuses on social and economic inequality, more specifically he researches the socio-demographic, economic, and spatial factors that affect the poverty status of indigenous people. David has worked on rural development projects in Latin America and Sub-Saharan Africa with non-profit organizations, government agencies and the UN, as well as holding multiple consultant and research positions.
Hai-Anh Dang, Ph.D. University of Minnesota, is currently working as a post-doctorate consultant with the World Bank in Washington DC. His main research interest is development economics, education economics, and household and school survey design. He has (co)-authored papers in a number of journals such as Economic Development and Cultural Change, Economics of Education Review, Research in Labor Economics, the World Bank Economic Review, as well as a book on private tutoring in Vietnam with VDM Verlag Dr. Mueller Publishing House.
Maitreyi Bordia Dasworks on social protection in the South Asia Human Development Department in Washington DC. Her work is both operational and analytical, covering overarching human development issues. More specifically, she works on employment, social inclusion, safety nets and related policy and institutional reform primarily in India, Bangladesh and Nepal. Maitreyi has a PhD in Demography from the University of Maryland and has published extensively on issues of ethnic and gender inequality. Most recently she has led a major report on social exclusion in India and another on safety nets in Nepal. Maitreyi started her career as a lecturer in St Stephen's College, University of Delhi and has been a MacArthur Fellow at the Harvard Center of Population and Development Studies. Before joining the World Bank Maitreyi was in the Maharashtra cadre of the Indian Administrative Service. She has also worked in the Caribbean as advisor to the UNDP.
Anne Deruytterehas over 30 years of experience on indigenous peoples, community development and social safeguards, mostly at the Inter-American Development Bank where she was Chief of the Indigenous Peoples and Community Development Unit. She authored and coordinated the preparation of IDB’s policies on involuntary resettlement and on indigenous issues and spearheaded innovative projects at the intersection of culture and development. She currently is one of the three members of the Asian Development Bank's independent Compliance Review Panel and has been consulting with the World Bank, IFC, IFAD, GTZ, private sector companies and several universities. She holds graduate degrees from the Catholic University of Leuven (Belgium) and the University of Edinburgh (UK).
Dalee Sambo Dorough (Inuit-Alaska) holds a Ph.D. from the University of British Columbia, Faculty of Law (2002) and a Master of Arts in Law & Diplomacy from The Fletcher School at Tufts University (1991). Dr. Dorough is an Assistant Professor of Political Science at University of Alaska Anchorage; Alaska Member of the Inuit Circumpolar Council Advisory Committee on UN Issues; Member of the Board of Trustees of UN Voluntary Fund for Indigenous Populations; and Member of the International Law Association Committee on Rights of Indigenous Peoples. On behalf of the Arctic region, Dr. Dorough was appointed to the UN Permanent Forum on Indigenous Issues. She has a long history of involvement in development of indigenous human rights standards at the UN, OAS, ILO and other international fora. Recent publications include the human rights chapter of the UN publication State of the World’s Indigenous Peoples.
Cyprian Fisiyis the Director Social Development Department of the World Bank’s Sustainable Development Network (SDN). The Social Development Department offers advisory and operational support, research and innovative thinking in diverse areas at policy, program and project levels. The Department provides guidance on social development considerations in both the Bank’s lending and non-lending programs; and supply technical support to ensure social safeguard compliance of Bank-financed operations. Mr. Fisiy joined the Bank in 1994 as a Social Scientist in the Africa Environment Sustainable Development Department (AFTES) and has since held various positions, including that of Lead Social Scientist Africa Poverty Reduction and Social Development, and Sector Manager in the East Asia and Pacific Sustainable Development Department (EASSO). Mr. Fisiy, a Cameroonian national and has a Ph.D in Social Sciences (Socio-Legal Studies) from the University of Leiden.
Vicente Garcia-Morenois currently pursuing his PhD in Economics and Education at Teachers College, Columbia University. His research interests include Education, Indigenous Education, Poverty, Social Capital, and Economic Growth. Mr. Garcia-Moreno has worked as a consultant to both the Human Development Department at the World Bank in Mexico, and at the Education Department of the Human Development Network (HDNED) at its headquarters in Washington, DC. Prior to that, Mr. Garcia-Moreno worked for Mexico's Ministry of Education on the project "Educational Performance with Technology" for basic education.
Ricardo Godoyis Professor at the Heller School for Social Policy and Management. His major research focus is the collection of panel data among a native Amazonian society of foragers-farmers in Bolivia to estimate the effects of globalization, market exposure, and acculturation on a wide range of indicators of well-being. The work is done with a multidiscipline team. As part of the panel study, he and his team have done several evaluations using an experimental research design. He has a PhD in cultural anthropology, but is a closet econometrician.
Gillette Hall is on leave from the World Bank at the Georgetown University Public Policy Institute. As Visiting Associate Professor she co-manages the Global Indigenous research program and teaches graduate courses in Economic Development, and is the 2010 recipient of the Outstanding Faculty award. She holds a Ph.D in Economics from the University of Cambridge, England, and has held previous teaching positions at the University of Oregon and Johns Hopkins School of Advanced International Studies.
Emily Hannumis an associate professor and chair of graduate studies in the Department of Sociology at the University of Pennsylvania. Her research focuses on education, child welfare and social inequality, particularly in China. In China, she has worked on gender, ethnic, and geographic disparities in education, changes in the impact of education on income and occupational attainment under market reforms, rural teachers and their links to student outcomes, and children’s and adolescents’ welfare under market reforms. She co-directs the Gansu Survey of Children and Families, a collaborative, longitudinal study of children in rural northwest China, and is co-editor of Comparative Education Review. She recently published Globalization, Changing Demographics, and Educational Challenges in East Asia.
Phil Hay Communications Adviser for the World Bank's Human Development Network, designing and leading global media and outreach campaigns to deepen the impact and profile of the World Bank’s work in education, health, social protection, and other human development priorities. A former BBC Special Correspondent, US Correspondent, and writer and commentator on international affairs, Mr. Hay is a frequent moderator of high-level development ministerial summits and conferences as the Accra High Level Forum on Aid Effectiveness. the International Health Partnership country meetings in Zambia, Mali, and Belgium, ECOSOC's 2010 Ministerial Roundtable on School Feeding; and ministerial panels on the Education for All: Fast Track Initiative.
Robin Hornis the Education Sector Manager of the World Bank's Human Development Network. He is responsible for leading the program and charged with developing the concepts and strategies for education sector policy at the World Bank and for supporting country programs and professional development in the areas of quality learning for all; skills and knowledge for competitiveness and growth; building competencies for lifelong learning, employment, productivity and innovation-led growth; and education systems for results. From 2002 until 2006, he was Lead Education Specialist in the World Bank’s Europe and Central Asia Region. Between 1992 and 2003, he was responsible for the Bank’s education program for Brazil, as well for other countries in the Latin American and the Caribbean region. His work with the Bank has involved collaboration with national governments, state governments, civil society organizations, and academics. Dr. Horn has a Ph.D. in Economics of Education from Columbia University in New York City.
Elisabeth Huybens is the Sector Manager for the Social Development Department of the World Bank’s Sustainable Development Network (SDN). The Social Development Department offers advisory and operational support, research and innovative thinking in social sustainability, focusing on what makes societies cohesive, inclusive, resilient and accountable. Ms. Huybens manages the overall department and leads research on successful public institutions in fragile and conflict-affected situations. She is the leader of the Bank's Global Expert Team on Fragile and Conflict-affected Situations. M. Huybens joined the Bank in 2000 as an Economist in the Africa Region and has since held various positions, including that of Country Economist for Chad, Country Manager for Timor-Leste and Lead Country Operations Officer for South East Europe. Ms. Huybens, a Belgian national, has a Ph.D in Economics from Cornell University.
Elisabeth Huybens, from the Philippines, has held a variety of positions as an economist and manager in the policy, research and operational units of the World Bank. Since early 2002, he has been Sector Director, Human Development, in the World Bank’s East Asia Region, where he is responsible for managing operational staff working on education, health and social protection issues. Prior to this, he held a similar position in the Bank’s South Asia Region. Before that he served for many years in the Bank’s Development Economics Staff, where he managed staff and also engaged in research on a variety of topics, including education and health finance, the private provision of social services, the economics of transfer programs and urban development. He recently took time off from his operational duties to lead the team that prepared Bank’s flagship publication, the World Development Report 2007: Development and the Next Generation. He also serves as the current editor of the journal, The World Bank Research Observer.
David Macdonald is an Ottawa-based economist and Research Associate with the Canadian Centre for Policy Alternatives. He heads the Centre’s Alternative Federal Budget project that takes a fresh look at how the federal government can build a better Canada. In addition, he has examined growing inequality in Canada and the detrimental effect that mortgage debt and the Canadian housing bubble is having on middle class Canadians. David is a frequent media commentator on public policy issues.
Tamar Manuelyan Atinc is Vice President for Human Development at the World Bank. Prior to her appointment in June 2010, Ms. Manuelyan Atinc was Director for Human Development in the Bank’s Europe and Central Asia region where she led its work in the areas of health, education, and social protection and labor, and served as a member of the Board of the Roma Education Fund (REF). REF was co-founded by the Bank and Open Society Institute in 2005 to reduce the education gap between Roma and non-Roma children. Since joining the Bank in 1984, she has worked extensively in countries across Africa, East Asia and the Pacific, and Europe and Central Asia, with positions such as Senior Economist on China, and Country Economist for Cameroon and Guinea. Ms. Manuelyan Atinc was also a co-author of the 2006 World Development Report on Equity and Development.
Harry Anthony Patrinos is Lead Education Economist at the World Bank. He specializes in all areas of education, especially school-based management, demand-side financing and public-private partnerships. He manages the Benchmarking Education Systems for Results program, and leads the Indigenous Peoples, Poverty and Development research program. He has many publications in the academic and policy literature, with more than 40 journal articles. He is co-author of the book Indigenous People and Poverty in Latin America: An Empirical Analysis with George Psacharopoulos. He has also worked in Africa, Asia, Europe, the Middle East and North America. He previously worked as an economist at the Economic Council of Canada. Mr. Patrinos received a doctorate from the University of Sussex.
Eduardo Undurraga is a PhD Candidate in Social Policy at the Heller School for Social Policy and Management at Brandeis University. His area of research specialization is on social stratification, poverty, and inequality in Latin America. He is currently working with Dr. Godoy on the Tsimane’ Amazonian Panel Study, TAPS, and has considerable experience working in shanty towns with non-profit organizations in Chile. Eduardo holds an Hydraulic Engineering degree and a Master in Latin-American Social and Political Studies.
Dominique Van De Walle is a Lead Economist in the World Bank's Gender and Development Group. She holds a Masters in Economics from the London School of Economics and a Ph. D. in economics from the Australian National University, and began her career at the Bank as a member of the core team that produced the 1990 World Development Report on Poverty. Her research interests are in the general area of poverty and public policy, encompassing rural development, infrastructure (rural roads, water, electricity), poverty and women's labor force participation, impact evaluation and safety nets. The bulk of her recent research has been on Vietnam.
Eduardo Velezhas a Ph.D. in Sociology from the University of Illinois. His field of study was Applied Social Statistics. His areas of interest include Sociology of Social and Economic Development, Sociology of Education, and Analysis and Evaluation of Development Programs. Dr. Velez has had a long trajectory at the World Bank in Washington D.C., Mexico City and in Beijing. He is currently Education Sector Manager for East Asia and the Pacific, and has been Education Sector Manager for Latin American and the Caribbean, Sector Coordinator (Human Development) for the China program, Sector Leader (Human and Social Development for Colombia, Mexico and Venezuela), and Human Development Cluster Leader for Uganda and Tanzania. He also served as Principal Education Specialist for Eastern and Southern Africa. Before joining the World Bank, Dr. Velez was Adjunct Director at Instituto Ser de Investigación in Bogotá, Colombia, his country of origin.
Daniel Wilsonis an independent consultant specializing in Aboriginal rights, human rights and strategic planning. Daniel holds degrees in philosophy from the University of Western Ontario and in law from the University of Victoria. He spent 10 years as a diplomat in Canada’s foreign service, working principally with refugees in Southeast Asia, Eastern and Central Africa and the Middle East. Daniel has also served as Director of Strategic Planning at Citizenship and Immigration Canada and as Senior Director of Strategic Policy and Planning with the Assembly of First Nations, Canada’s largest Indigenous representative political body. Most recently, he has acted as a consultant to the Canadian Human Rights Commission, various Indigenous organizations across Canada and the Canadian Centre for Policy Alternatives. Daniel is of Mi’kmaq, Acadian and Irish heritage.
Quentin Wodon is Adviser and Program Manager for the Development Dialogue on Values and Ethics at the World Bank. Upon completing business engineering studies, he worked first in Thailand as Laureate of the Prize of the Belgian Minister for Foreign Trade, and next for Procter and Gamble Benelux. In 1988, he decided to shift career to work on poverty and joined the International Movement ATD Fourth World, a grassroots and advocacy NGO working with the extreme poor. He later completed his PhD in Economics at American University, taught at the University of Namur, and came to the World Bank in 1998, where he worked first on Latin America and next on sub-Saharan Africa. Dr. Wodon has published more than a dozen books and close to 200 papers.
Susan Wongis a Lead Social Development Specialist in the Social Development Department at the World Bank. Susan specializes in monitoring and evaluation, community-based programs and operations, and social sustainability issues including social safeguards. Prior to joining the World Bank, she worked on development programs for the US Agency for International Development and the United Nations Development Program. She has lived and worked in Asia and Africa for the past 23 years.