Mistura de ritmos portugueses e brasileiros este domingo na Casa da Música
foto: Nelson Garrido
Há pessoas de todas as idades. Vê-se boa disposição e animação. No centro da sala, o maestro pede atenção às bandas e começa o "Turbilhão", a primeira canção a ser ensaiada. São os primeiros minutos de mais um ensaio para o quarto concerto Sonópolis que, no Domingo, a partir das 17h30, vai decorrer na praça da Casa da Música.
Guitarras, oboés, bateria, reco-recos fazem-se ouvir, num ritmo que o ouvido não rejeita. De repente, ouve-se a voz de Armindo Silva, membro de uma das bandas. Há sorrisos de cumplicidade nos elementos dos outros grupos. O maestro vai fazendo correcções, sem nunca interromper. No entanto, soa tudo impecável. No final, todos aplaudem.
A iniciativa, promovida pelo Serviço Educativo da instituição, vai fundir ritmos de Portugal e sonoridades do Brasil. Aos alunos do Curso de Formação de Animadores Musicais da Casa da Música, juntam-se os Som da Rua, o Coro Infantil do Bairro de S. Tomé e os ReTimbrar. São grupos constituídos por pessoas com problemas de instabilidade emocional, pobreza, exclusão social ou dependência.
No ensaio, "Menino Vadio" é a música que se segue. Mais uma vez, o ouvido não consegue dizer que não. Mas desta vez, o som é melancólico, nostálgico. É, novamente, Armindo Silva quem "empresta" a sua voz. "Menino vadio, tu és o produto da sociedade" é o início do refrão e reflecte o que estas pessoas pensam do Portugal em que vivem.
O "vocalista" Armindo já fez parte do grupo coral da Casa do Gaiato. "A música faz parte da minha vida". Sentir-se-ia "muito triste" se os Som da Rua fossem extintos. Armindo não esquece as pessoas que tornaram possível esta experiência. "São anjos-da-guarda... mais família do que a própria família".
E será, talvez, por causa destas palavras que Jorge Prendas, coordenador do grupo de Armindo, afirma que este projecto é "uma enorme responsabilidade" porque "as pessoas colocam a vida delas" nas suas mãos. Envolvido, há muito, em projectos sociais deste género, Jorge sente-se "pleno, em glória" e não consegue imaginar-se sem o Sonópolis. Se o projecto terminasse agora, "estava algures, entre a euforia e a depressão".
A terceira música é um fado. "Povo que lavas no rio". A voz de Armindo deu lugar à de Ana Teixeira, de 77 anos, acolhida por um Centro de Dia. "Gosto muito de cantar". As suas palavras são breves, mas ditas com paixão e com um sorriso no rosto.
Carlos Malta, o maestro, a trabalhar pela primeira vez com um grupo deste género, classifica de "grandes" todos os participantes que, "apesar de todos os problemas, não se devem sentir inferiores". E o maestro deixa-nos o seu desejo. Espera contribuir para que haja um "antes Sonópolis e um pós Sonópolis" para estas pessoas. Mas a sociedade também tem um papel a desempenhar.
O concerto é no Domingo, as 17h30. Antes da final do Mundial de futebol. Na Praça da Casa da Música. A entrada é gratuita.
publicado no Ípsilon
