«Isto não bate certo, pois não?»
por Camilo Lourenço
Há notícias que nos deviam fazer pensar. Ontem ficámos a saber que Portugal registou, de Janeiro a Junho, o maior crescimento (57,7%) na venda de automóveis em toda a União. Dados da Associação de Construtores Europeus de Automóveis, fonte oficial do sector.
À primeira vista, estes números sugerem uma pergunta: como explicar que num país onde a economia cresce a uma média de 0,5% há dez anos, e ainda a sair de uma recessão profunda, se vendam tantos carros? Na Alemanha, onde a recuperação económica é mais sólida, as vendas caíram 28,7%, em Itália subiram 2,9% e em França 5,4%%...! Há notícias que nos deviam fazer pensar. Ontem ficámos a saber que Portugal registou, de Janeiro a Junho, o maior crescimento (57,7%) na venda de automóveis em toda a União. Dados da Associação de Construtores Europeus de Automóveis, fonte oficial do sector.
Mas nada de precipitações: os números do primeiro semestre de 2010 estão "empolados". Porque o primeiro semestre de 2009 foi muito mau e porque o mercado beneficiou muito dos (generosos) incentivos ao abate de automóveis.
Isto explica tudo? Não. Mesmo descontando aqueles factores, as vendas não deviam crescer tanto. Até porque a maioria delas é feita com recurso a crédito (sob várias formas). O que leva a duas outras perguntas. Inquietantes: o que leva as instituições financeiras, numa época de escassez de crédito, a "apoiarem" este crescimento de vendas? E o que leva empresas e particulares a comprarem tanto automóvel, sabendo que o dinheiro está a ficar mais caro e que o futuro (recuperação económica) ainda é incerto?
Se o leitor contar esta história a alguém que tenha começado a vida profissional antes de 1990, o mais provável é ouvir algo parecido com: "não bate certo." Mas se calhar sou eu que estou enganado e não percebo nada de Economia. Pelo sim pelo não, vou esperar mais um pouco antes de trocar o meu carro (de cinco anos) por um novo...
