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Da série: 'coisas que nos estragam os dias...'

foto: Bilt

Depois de um dia inteiro a ver, ler e ouvir a maioria dos media portugueses referirem-se ao Love Parade como um «festival gay», cumpre informar que se trata, isso sim, de um festival de música techno. Dos maiores (senão mesmo o maior) do mundo, na verdade.
Só para situar o Love Parade chama-se assim, muito por conta do espírito que presidiu à sua 1ª edição, realizada em 1989, para celebrar a queda do Muro de Berlim.É ler aqui.
Esta imprecisão – que, aliás, não vi em outros media internacionais – trouxe-me por todo o dia incomodada por uma ordem vária de razões. A começar no facto de não ser aceitável informar sem se ter um conhecimento mínimo e correcto sobre as coisas, passando pela ignorância extrema que evidencia do panorama cultural mundial (no caso: musical, em geral; e de festivais, em particular), até à suspeita incómoda e desconcertante de que o desleixo da tradução e o nenhum cuidado no seu uso possam não ser de todo em todo alheias ao facto de se tratar de uma tragédia humana que, a cada hora que passa, vai somando mais vítimas.
As causas que estão na origem da tragédia no túnel de acesso ao recinto do festival merecem ser apuradas e não se aplacam com a leviana insinuação a um estado de espírito gay, seja lá isso o que for.
Por muito que a alguns, em Portugal, ainda possa parecer estranho, existem (sim!) festivais de música com tradição de reunir dois milhões de espectadores na audiência. O milhão e quatrocentas pessoas que já se encontrava no recinto da cidade alemã de Duisburg, por muito estranho que pareça, não estava ali por ser gay, mas por gostar de música techno. Mais: embora não se siga que todos os que gostam de tecno sejam gays, não é de crer, todavia, que muitos o não fossem. Em qualquer sociedade não discriminatória, a heterogeneidade da preferência sexual de cada um estará sempre pressuposta nos aglomerados humanos que promove. Portanto, não, não eram um milhão e quatrocentos mil gays. Se se tratasse de um evento só de gays, provavelmente seriam muito mais. Como ainda no outro dia em São Paulo, por exemplo. Até porque ainda está para ser inventado o género musical que reúna um consenso maior do que qualquer uma das duas metades que ficam sobre a face da terra se a dividirmos entre homo e heterossexuais.


P.S – fazendo scroll, no final do artigo linkado, há mais uns 'linkezinhos' que contam a história do festival. Ideal para elucidar quem não sabe do que fala. Comentadores, bloggers, editores e jornalistas de TV, rádio e imprensa incluídos.

Posted by por AMC on 22:30. Filed under , , , , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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