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Delegações europeias na Rio+20 reduzidas em 30% devido ao alto custo dos hotéis brasileiros


Os preços cobrados por hotéis durante a Rio+20, que acontece no próximo mês de Junho, fizeram com que as delegações europeias que vêm ao país para o evento encolhessem em média 30%, de acordo com o chefe da Secção de Cooperação da Delegação da União Europeia no Brasil.
Segundo Jérôme Poussielgue, responsável pelas reservas da delegação da UE durante a Conferência, os preços altos e a política de vender pacotes para o período completo estão levando países europeus a reverem o número de pessoas que vão mandar para o Rio.
"Acho que os donos de hotéis sabem que 50 mil pessoas vão para o Rio e que vão ganhar muito dinheiro com isso. As pessoas vão precisar de quartos e eles põem preços loucos porque sabem que vai ter gente para pagar. Mas muitas embaixadas resolveram reduzir o número de pessoas em suas delegações", diz.
Poussielgue afirma que a redução vem sendo detectada em reuniões realizadas com embaixadas europeias em Brasília e que países de outras regiões também estão sendo afectados, como o Japão, que reduziu sua delegação de 500 para 400 pessoas, afirma.
"Para nós, essa Conferência é muito importante e queremos que tenha resultados concretos. Estamos fazendo o necessário para poder ir, mas é um preço muito alto. Isso tem um impacto sobre o número de gente e sobre os diálogos que se podem ter", considera ele.
Na última sexta-feira, a Delegação da UE informou ao Itamaraty oficialmente que os preços altos iriam diminuir o nível de participação europeia.

Delegações estrangeiras temem censura nacional à factura

As reservas feitas pela Delegação da UE variam entre R$ 1.300 e R$ 1.880. A mais alta é no Fasano, hotel cinco estrelas na praia do Arpoador. As estadias em faixa mais baixa são em hotéis que, mesmo assim, não oferecem instalações e serviços condizentes com o valor, queixa-se o responsável pelas reservas da delegação. Poussielgue acrescenta ainda que o problema principal é o preço alto cobrado por hotéis medianos, agravado pela prática de obrigar à aquisição de pacotes completos, fazendo com que as delegações tenham que pagar por um período longo, ainda que não tencionem ficar mais que dois ou três dias. No entanto, apressa-se a esclarecer que "Não é um problema da organização, é referente ao custo Brasil e à maneira de se trabalhar no Brasil", não deixando de tecer elogios à actuação do CNO e ao trabalho que vem sendo feito para ajudar as delegações.
A crítica aos elevados preços praticados é generalizada. Em reservas para mais de 100 pessoas na Rio+20, uma fonte de um consulado europeu no Rio, cujo país prefere que não seja revelado, admite que a sua delegação terá que pagar entre R$ 800 e R$ 1.400 por diária.
Os preços altos causam consternação relativamente à imagem que passa aos contribuintes nos países de origem e as delegações temem ser cobradas pelos altos custos implícitos na deslocação à Rio+20.
"É um evento voltado para a sustentabilidade. Se os jornalistas ficam sabendo que estão sendo pagos preços de 500 ou 600 euros por noite (em hotéis), isso passa uma má imagem. Não temos muita escolha, temos que aceitar as propostas das agências e dos organizadores brasileiros, mas será difícil explicar isso aos nossos cidadãos, na Europa", afirma.
Em Março, um levantamento do site Hoteis.com, que trabalha com reservas de hospedagem, mostrou que os hotéis cinco estrelas do Rio registaram os preços mais altos no mundo, em 2011. A tarifa diária média é de R$ 1.178, contra R$ 970 em Nova York, a segunda no ranking.
Alfredo Lopes, da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH), afirma que a entidade vem fazendo campanha para que os hotéis não subam demais os seus preços, defendendo que os abusos transmitem uma má impressão ao público em geral.
"É o primeiro mega-evento de uma série que teremos no Rio e não podemos passar a ideia de que todo mundo quer tirar vantagem ali, em cima da hora. Não vai acontecer, estamos trabalhando com os três níveis de governo para isso", diz.

Demasiada procura para o alojamento existente

Vinte anos após a Rio-92, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável espera receber 50 mil pessoas entre 13 e 22 de Junho. O encontro vai ser focado em dois temas principais: economia verde baseada em desenvolvimento sustentável com erradicação da pobreza e a criação de uma matriz global de desenvolvimento sustentável.
Na última edição da conferência do clima, realizada em Durban, na África do Sul, em Dezembro do ano passado, já se estimava que cerca de 20 mil pessoas compareceriam ao evento, sendo mais de 6 mil representantes de delegações oficiais, quase 2 mil jornalistas e milhares de activistas de diversas ONGs e entidades de lobby. Estes números, como o tempo mostrou, acabou aumentando em muito.
De acordo com a ABIH, a cidade do Rio de Janeiro conta com um total de 33 mil quartos. Isso inclui desde albergues a hotéis cinco estrelas, não obstante as delegações que virão para a Rio+20 procurarem sobretudo unidades de 4 a 5 estrelas.
A demanda maior do que a oferta está a levar a agência de turismo licitada para tratar das hospedagens, Terramar, a fazer reservas em hotéis fora do Rio, em cidades como Petrópolis e Mangaratiba, de modo a assegurar que não faltarão vagas para as delegações.
"Temos que garantir hospedagem prioritária para os países que virão. Como país anfitrião, temos que receber bem", diz o secretário do Comitê Nacional de Organização (CNO) da Rio+20, Laudemar Aguiar, lembrando que, além das 193 nações convidadas, o Rio funcionará como sede temporária da ONU durante o evento.
De acordo com Aguiar, o comitê conseguiu negociar com os hotéis um desconto de 10% sobre as reservas oficiais para o período, mas não tem influência sobre os preços praticados, que sobem por causa da dimensão do evento.
"Não estou querendo justificar, mas existe uma prática de mercado. Os valores em grandes eventos são diferenciados", afirma. "Em relação a eventuais abusos, o Ministério da Justiça foi accionado e isso está correndo entre as partes interessadas. O que nós não queremos é que se verifiquem abusos."
  
Denúncias de preços inflacionados sob investigação

Na sexta-feira passada, o Ministério da Justiça e o CNO receberam representantes da ABIH e de outras entidades de hotelaria para tratar de denúncias recebidas, sobre o "possível aumento abusivo dos preços cobrados pela rede hoteleira" durante a Rio +20.
De acordo com o Ministério da Justiça, as associações se comprometeram a dialogar com seus representados sobre as preocupações do Governo, e uma nova reunião deverá ser feita na próxima semana no Rio de Jaeiro.
Segundo Alfredo Lopes, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, o problema não começou nesta reunião e nem terminará com ela. "O assunto vem sendo tratado desde o primeiro dia. Mas a ABIH não tem nenhuma ingerência nem mando sobre a parte comercial dos hotéis", destaca.
Lopes afirma que casos de abuso existem ("sempre existe a laranja podre no cesto"), mas que são excepção, estando a maioria dos hotéis trabalhando como manda o protocolo, com a agência oficial encarregada das reservas, e com contratos assinados.
Por enquanto, foram efectuadas 12 mil reservas para as delegações oficiais através da agência Terramar. Segundo Lopes, o evento fez com que o mês de Junho passasse a seguir padrões de uma alta temporada. A ocupação estimada para o período é de 95%, sendo que, deste total, 80% será usado por delegações oficiais de mais de 100 países.

para G1 com BBC

Cf. também:

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