Cheias no Amazonas: um fenómeno natural que ameaça extremos mais frequentes
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| Careiro da Várzea, no Amazonas | 
Dando notícias de Manaus, o Conexão vem reportando sobre as cheias imensas que vêm tomando conta da cidade e que, aliás, começaram no início do ano no Acre e se estenderam depois por todo o Amazonas, antes de atingirem a capital do Estado. 
Falemos, então, um pouco do assunto, para esclarecer a situação. 
Convém lembrar que a região da Amazônia é uma zona de alagamento, onde os rios se comportam um pouco como sucede com o Nilo. Grosso modo, em metade do ano, durante o período das chuvas, os rios enchem e cobrem as várzeas e praias fluviais; na outra metade, eles entram na vazante e descobrem as áreas. Esse é um movimento normal, responsável, aliás, pela elevada fertilização dos solos e pela renovação da vida na floresta. 
Aquilo que merece alarme não é apenas quando o fenómeno ocorre numa escala extrema, mas o encurtamento da cadência a que isso se tem verificado ultimamente.
No  Amazonas, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em  parceria com o Instituto Max Plant de Química, da Alemanha, traz em campo um dos raros estudos sobre as cheias. O objectivo  é recuar no tempo e traçar a cronologia das maiores enchentes, por  forma a averiguar as ocorrências de picos extremos e retirar  conclusões que permitam perceber se a maior regularidade com que estão a acontecer se deve a uma resposta da  natureza, se é consequência da acção humana, ou se resulta da conjugação de ambas. 
Em resultado dessa investigação do Inpa, sabe-se que no final do século XIX, a bacia amazônica registou um período de enchente pronunciada. Algures entre  os anos de 1850 e 1880, os rios Solimões e Negro atingiram cotas  elevadas para a média do período. A  cheia recorde viria a acontecer já no século passado, por volta dos anos 50, e só seria batida quase 60 anos depois, com a célebre cheia de 2009. 
Acontece que este ano, o fenómeno aproxima-se novamente desses máximos, encontrando-se a escassos centímetros de vir a superá-la desde Março, sendo que por norma o auge do período das chuvas e alagamento só costuma ser atingido no mês de Junho. O que perturba a comunidade científica, é este curto intervalo que decorreu até se atingirem cotas tão elevadas. As equipas estão na área tentando perceber, justamente, a razão da repetição do fenómeno em tão larga escala, apenas três anos volvidos sobre a cheia de 2009, considerada a maior dos últimos 100 anos. 
Para já, uma nota a reter é que as explicações associam os extremos – vazante e enchente – na bacia amazônica aos  fenómenos La Niña (resfriamento do Oceano Atlântico) e El Niño  (aquecimento do Oceano Atlântico).
Cientistas desconhecem dimensão da cheia no Amazonas
A comunidade científica está “perplexa”  com um evento climático extremo que vem se repetido em tão pouco tempo  na bacia amazônica. A avaliação é do hidrólogo e pesquisador Javier  Tomasella, conhecido por seus estudos sobre a seca na Amazônia,  desenvolvidos pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) em  parceria com José A. Marengo.
Se uma  vazante pronunciada na bacia amazônica causa impacto na sociedade,  incluindo a comunidade acadêmica, somente a partir de agora é que a  maioria das pesquisas deverá direcionar esforços para compreender o que  está resultando na ocorrência de uma cheia de grande magnitude apenas  três anos após a de 2009 (a maior em cem anos), segundo Tomasella.
“A  cheia recorde aconteceu nos anos 50 e foi batida quase 60 anos depois.  Se bater novamente, será um evento extremo. É preciso aprender mais com  extremos. A gente não sabe se o que ocorre é uma resposta da natureza à  ação humana, mas, independente disso, vai exigir um esforço de todas as  esferas do governo para responder a isso”, comentou.
No  Amazonas, um dos raros estudos que tem a cheia como recorte vem sendo  desenvolvido pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em  parceria com o Instituto Max Plant de Química, da Alemanha.
O  modelo que pretende fazer uma reconstrução climática na Amazônia, de  400 anos, já apresentou alguns resultados. Um deles aponta que nos  últimos 25 anos aumentou a frequência e a intensidade dos eventos  extremos – vazante e enchente – na bacia amazônica e está associado aos  fenômenos La Niña (resfriamento do Oceano Atlântico) e El Niño  (aquecimento do Oceano Atlântico).
Outro  resultado indica que no final do século 19, a bacia amazônica já havia  registrado um período de enchente pronunciada. Segundo o estudo, entre  os anos 1850 e 1880, os rios Solimões e Negro também registraram cotas  elevadas para a média do período e também estava relacionado ao “La  Niña”.
O coordenador da pesquisa,  Jochen Schöngart, explica que o modelo cronológico dos cientistas  consiste em analisar as camadas de crescimento do ciclo de vida das  árvores das planícies alagadas (várzea e igapó) durante a fase não  alagada. “O ritmo das árvores é controlado pelo ciclo hidrológico. Isto é  registrado nos anéis de crescimento”. Como estes eventos extremos estão  se repetindo desde o final do século 20, os cientistas ainda batem a  cabeça para apontar as causas: isso seria consequência da variabilidade  natural do clima e do ciclo hidrológico ou resultado das mudanças  climáticas pelas interferências do homem? Ou as duas situações juntas?  “Seja qual for a resposta, isso já deveria estar incorporado ao  planejamento do poder público para evitar que, a cada situação extrema,  as ações sejam tomadas de forma improvisada e sempre em cima da hora”,  alerta Schöngart.
Enquanto o cenário  do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (mais conhecido  pela sua sigla em inglês, IPCC) aponta que eventos extremos climáticos  vão aumentar, a comunidade científica reconhece que é preciso criar  modelos mais avançados para prever situações como a cheia pronunciada de  2012 da bacia amazônica. Estas pesquisas são necessárias, sobretudo,  para que as políticas públicas tomem decisões a tempo de preparar a  população.
“Precisamos de mais  pesquisa para responder de forma mais evidente. É preciso criar modelos  para prever para cada ano. Todos sabem, por exemplo, que os bairros de  Manaus vão sofrer com a cheia. Se já se sabe, a partir de março, já se  pode começar a atuar. Não precisa esperar o rio atingir o nível crítico.  É preciso começar muito mais cedo, já que a burocracia dificulta as  ações emergenciais”, diz Schöngart.
O  cientista sugere a criação de uma plataforma ou um fórum no qual se  discuta os prognósticos e os tomadores de decisão planejem ações  antecipadas. “O conhecimento é importante para se fazer previsões. Sem  isso, os modelos de cenários futuros são fracos. Por isso que nossa meta  é chegar a 400 anos atrás. A medição de cem anos da cota é importante e  algo excepcional, mas não é suficiente”, disse.
Prejuízos com fenômenos das águas
A previsão do Inpa/Max Plant para a cheia do rio Negro este ano será de 29,67m (margem de erro de 29,29m-30,05m).
Mais do que a seca, é a cheia que realmente preocupa a população amazônica
Além dos problemas de moradias, a cheia causa prejuízo na atividade econômica: agricultura, pecuária e pesca´.
A única atividade beneficiada é a extração de madeira, porque as toras são arrastadas na água.
Cheia e seca afetam os serviços públicos, sobretudo escolas e hospitais.
A  cheia de 2012 se distingue da de 2009 pelo período em que começou a  ficar mais pronunciada. Schöngart diz que a de 2012 começou “de um nível  normal”, mas já em março, passou as marcas de 2009. Em 12 de março, o  Inpa/Max Plant divulgou nota afirmando essa tendência,.
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