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Parlamento Europeu cancela presença na Rio+20 devido aos «custos excessivos»


A cimeira Rio+20, que se realiza entre 20 e 22 de Junho no Rio de Janeiro, já não vai contar com a presença de eurodeputados. A medida foi anunciada pela Comissão do Ambiente do Parlamento Europeu. O argumento avançado foi o de que os gastos com a viagem e hotéis seriam injustificáveis, numa altura de crise e contenção de despesas na Europa.
«O Parlamento cancelou a viagem da sua delegação na Rio+20 pelos custos excessivos. O Brasil deveria realmente controlar os custos para evitar um grande fracasso», declarou no Twitter o eurodeputado holandês Gerben-Jan Gerbrandy.
Os altos preços praticados pelos hotéis cariocas têm sido alvo de muitas críticas, já que estão a cobrar cerca de 600 euros por noite. O eurodeputado holandês mostrou-se «decepcionado» e considerou que o governo brasileiro devia intervir na situação, principalmente com grandes eventos, como o Mundial de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016, a aproximarem-se.
O custo da presença na Rio+20 já tinha sido questionado pelo eurodeputado alemão, Matthias Groote, Num debate na Comissão do Ambiente, a 26 de Abril, Groote fez as contas ao colectivo e alertou que o preço da estadia da delegação de 11 deputados no Rio de Janeiro tinha passado dos 10 mil euros previstos para 100 mil euros.
Na altura, a Comissão decidido que só seria enviado um eurodeputado à conferência, mas ontem a presença do Parlamento Europeu na Rio+20 foi totalmente cancelada.
«Os organizadores mudam as condições constantemente» lamentou o eurodeputado alemão, explicando que os operadores turísticos brasileiros «pedem que as reservas sejam feitas por uma semana completa, apesar de não precisarmos deste tempo».
Matthias Groote afirmou ainda que a organização da conferência não acedeu sequer em disponibilizar uma sala de reuniões à delegação do Parlamento Europeu: «Quando se quer convidar o mundo inteiro é preciso tratar os convidados de outra maneira», sublinhou .


Embora a cimeira da ONU decorra de 20 a 22 de Junho, são esperadas 50 mil pessoas no Rio de Janeiro entre os dias 13 e 22 de Junho, isto porque a Rio+20 integra vários eventos paralelos, alguns dos quais com início logo na semana anterior. Mais de 100 chefes de Estado e governo já confirmaram presença. No entanto, as delegações europeias encolheram em 30 por cento, devido aos elevados preços de estadia.
«Os donos de hotéis sabem que vão para o Rio 50 mil pessoas, e que podem ganhar muito dinheiro com isso. Os participantes precisarão de quartos e os hotéis praticam preços loucos porque sabem que vai haver gente para pagar. Acontece que, por essa razão, muitas embaixadas resolveram reduzir o número de pessoas das suas delegações», afirmou à BBC o responsável pelas reservas das delegações da União Europeia, Jérôme Poussielgue.
Fora da Europa, o Japão também já anunciou que vai diminuir a sua delegação de 500 para 400 membros.
De acordo com a Associação Brasileira da Indústria de Hotéis, o Rio de Janeiro tem 33 mil quartos, que vão desde pensões a hotéis de 5 estrelas. No caso de muitas delegações, a preferência incide nas unidades de 4 ou 5 estrelas, o que tem contribuído para inflacionar igualmente a hospedagem noutras cidades próximas ao Rio de Janeiro.

No Brasil confirma-se o cancelamento...

O secretário estadual do Ambiente do RJ, Carlos Minc, já confirmou a posição de deputados do Parlamento Europeu. Ex-ministro do Meio Ambiente e actual coordenador das actividades relacionadas à conferência da ONU no Governo do Rio, Minc considerou a decisão dos deputados europeus  «justificável» e acrescentou que «não faz sentido o Rio estar mais caro do que capitais europeias, onde a mão de obra é muito mais cara. (...) Eu concordo e acho que esse gesto dos deputados do Parlamento Europeu deveria servir para fazer com o sector hoteleiro o que a presidente Dilma  fez com o sector bancário em relação aos juros. São outros mecanismos, é claro, mas precisa dar uma sacudida». Minc afirmou que fez muitas amizades na Europa no período de quase dois anos em que ocupou o cargo de ministro e que já recebeu várias queixas de pessoas «horrorizadas» com os preços cobrados na cidade.

... mas também se desmente ou critica

O economista Sérgio Besserman, que coordena o Grupo de Trabalho da prefeitura para a Rio+20, comentou a notícia, embora sublinhando que falava na qualidade de «cidadão carioca» e não em nome do município. «Há um entrave (na questão dos hotéis), mas nem tanto. Se (os eurodeputados) precisavam de um pretexto para fugir da raia na Rio+20, seria preferível arranjar um melhor», disparou.
Por seu lado, a Associação Brasileira de Hotéis (ABIH) do Rio informou, por meio de nota, que "não há informações que confirmem a desistência de uma delegação europeia em participar da Rio+20 em função do preço das diárias dos hotéis" e garantiu que "Até o momento, nada foi informado nesse sentido". De acordo com a ABIH, a hotelaria carioca "vem se reunindo regularmente com os ministérios do Turismo e das Relações Exteriores para viabilizar a melhor receptividade a todas as demandas de hospedagem de delegações internacionais e representantes da ONU".
Recorde-se que, em Março, o Ministério da Justiça anunciou a abertura de uma investigação para apurar denúncias de que hotéis do Rio estariam a cobrar preços considerados abusivos nas reservas para o período da Rio+20.

Cf. também:


[ACTUALIZAÇÃO]

Contrastando com as semanas de silêncio sepulcral sobre a Rio+20, a imprensa portuguesa online, interessou-se por este detalhe e fez eco da ausência do Parlamento Europeu na cimeira. É interessante notar que, alguma mídia aproveita para compensar a pouca atenção dispensada à Rio+20 com uma tentativa de resumo dos últimos acontecimentos relevantes. É ainda mais interessante observar que, ao fazê-lo, passa ao lado das discussões e conteúdos programáticos, optando por enfatizar falhas ou detalhes de organização mais polémicos. A pretexto deste cancelamento, a Rio+20 foi noticiada sob um certo ângulo que lhe augura o fracasso antes mesmo de acontecer, com a mídia a destacar que Obama, Cameron e Merkel não vão comparecer ao evento e a dificuldade em fechar texto do documento comum a ser votado em Junho.

Leio no Público:
O Parlamento Europeu decidiu cancelar a sua participação na conferência Rio+20, lançando mais um ponto de interrogação rumo ao mega-evento das Nações Unidas sobre o desenvolvimento sustentável. Líderes de países centrais para as negociações – como os Estados Unidos, Reino Unido e Alemanha – também não vão estar presentes.


Para os eurodeputados, o principal problema são os custos. O preço dos hotéis disparou para valores que chegam a 600 euros por noite. Além disso, apesar de a conferência oficial decorrer apenas entre 20 e 22 de Junho, os hotéis só estão a aceitar reservas para períodos mais alargados, dado que os eventos paralelos começam dia 13. “A Rio+20 oficial tem apenas três dias. Alguns membros do Parlamento planeavam reservar apenas duas noites, mas teriam de pagar sete a dez noites”, justificou ao Público o eurodeputado holandês Gerben-Jan Gerbrandy, que lideraria a delegação. O custo total rondaria os 200 mil euros, dos quais cerca de 50 mil euros seriam para pagar noites de hotéis que não seriam utilizadas. “Não deveria ser assim. O Governo brasileiro deveria ter cuidado melhor disso”, diz o eurodeputado. Resultado: o Parlamento não terá uma delegação formal na Rio+20. “Infelizmente é a nossa decisão final”, afirma Gerbrandy, que tentará ir, mesmo assim, com o seu próprio orçamento pessoal como eurodeputado. Os elevados custos da participação na Rio+20 têm vindo a ser criticados tanto por delegações de países com menores recursos, como por organizações não-governamentais. Várias pediram à Comissão Europeia para utilizar saldos de projectos seus financiados por Bruxelas para poderem estar presentes no Rio. Mas não tiveram sucesso. “Há uma demissão da União Europeia em relação ao Rio”, afirma João José Fernandes, presidente da associação humanitária portuguesa Oikos, que também recebeu um “não” de Bruxelas e aguarda financiamento para poder ir à conferência. A própria Comissão Europeia irá reduzir a sua delegação à Rio+20, segundo Gerben-Jan Gerbrandy. Para o eurodeputado, estas dificuldades acrescem aos obstáculos nas próprias negociações do que será aprovado no Rio. “Há também o problema do conteúdo da conferência”, diz Gerbrandy.
A cimeira da ONU pretende dar um rumo concreto a planos anteriores para o desenvolvimento sustentável, delineados há duas décadas na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, a Eco-92. Mas o discussão sobre o documento central a aprovar em Junho arrasta-se sem grandes resultados, com grandes divergências sobre o estabelecimento de metas para a sustentabilidade e sobre a aposta na economia verde como solução dos problemas do planeta. “As negociações não estão a ir na direcção certa”, lamenta Gerbrandy.
Mais de uma centena de chefes de Estado ou de governo – incluindo o primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho – confirmaram a sua participação na Rio+20. Mas alguns líderes das principais economias mundiais não estarão presentes. O presidente norte-americano Barack Obama e o primeiro-ministro britânico David Cameron já tinham anunciado que não iriam. Na semana passada, foi a vez da chanceler alemã Angela Merkel, que comunicou por telefone à Presidente do Brasil, Dilma Roussef, que não poderá participar, devido à votação do orçamento alemão. Por outro lado, o novo Presidente francês, François Hollande, confirmou nesta quarta-feira que irá ao Rio, assim como o Presidente russo, Vladimir Putin. Do lado das maiores economias emergentes, está para já garantida a participação dos primeiros-ministros da China, Wen Jiabao, e da Índia, Manmohan Singh.

Posted by por AMC on 11:23. Filed under , , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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