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Campanha "Veta Tudo, Dilma!" ganha escala mundial


Três das maiores organizações internacionais de conservação lançam hoje uma campanha para pedir aos seus 22 milhões de seguidores que exijam à Presidente do Brasil o veto total do Código Florestal, que consideram condenar o futuro da Amazónia.
A WWF (Internacional e Brasil), a Greenpeace (Internacional e Brasil) e a Avaaz (inglês e português) consideram que as mudanças previstas no Código Florestal, aprovado a 25 de Abril pelo Congresso dos Deputados, representam um duro revés nos avanços alcançados até agora para travar a desflorestação da Amazónia e lançam por terra os esforços realizados para combater a corrupção na região.
Num comunicado divulgado hoje, a WWF informa que, até agora, mais de 1,5 milhões de pessoas de todo o mundo assinaram uma petição lançada pela Avaaz a exigir à Presidente brasileira, Dilma Rousseff, o veto do Código Florestal e as organizações estimam que este número aumente exponencialmente nos próximos dias.
Além disso, acrescenta, centenas de milhares de seguidores da WWF e da Greenpeace têm aderido a uma campanha de mobilização através das redes sociais, utilizando #SOSBrazil e #DilmaVetaTudo (actualização do #VetaTudoDilma) no Twitter e colocando mensagens directamente na página do Facebook do Partido dos Trabalhadores, de Dilma Rousseff.
A petição será difundida através dos milhões de seguidores das organizações, que farão chegar às embaixadas brasileiras nos respectivos países a sua frontal oposição a esta lei, que acusam de pôr em causa o futuro da Amazónia.

Até agora, a Presidente não fez qualquer declaração pública sobre qual a sua posição sobre o texto aprovado a 25 de Abril, mas as organizações ambientalistas defendem que só o veto total poderá salvar as florestas brasileiras e o clima mundial.
Dilma Rousseff recebeu esta semana o diploma e tem até 25 de Maio para decidir se veta total ou parcialmente a lei ou se a promulga. As organizações ambientalistas esperam que na sua decisão pese o facto de, dentro de semanas, o Brasil acolher a maior cimeira ambiental do mundo: "Só o veto integral do novo Código Florestal pode garantir a credibilidade do Brasil como anfitrião da cimeira do Rio+20", diz a Greenpeace.
“Na última década, o Brasil tem realizado um progresso exemplar na redução da desflorestação da Amazónia. Sabemos que a presidente Rousseff está a ser muito pressionada pelos que procuram retirar benefícios de curto prazo das florestas, mas exigimos que defenda a protecção dos recursos florestais, que são de importância vital para o futuro da população brasileira e para o resto do mundo”, afirma Jim Leape, director geral da WWF Internacional.
O Instituto Brasileiro de Investigação Económica Aplicada (IPEA) estimou que a nova lei poderá representar uma perda de 76,5 milhões de hectares de floresta, permitindo libertar para a atmosfera 28.000 milhões de toneladas de CO2. Isto impediria que o Brasil cumprisse os seus objectivos de reduzir as emissões de gases com efeitos de estufa.
A lei prevê ainda uma amnistia para quem destruiu ilegalmente a floresta até 2008, o que se traduz numa perda de 4.800 milhões de dólares (3.700 milhões de euros) em sanções.
Segundo as organizações, cerca de 80 por cento da população brasileira está contra a lei e mais de um milhão de pessoas em todo o mundo já se juntaram à campanha.
Manifestações sob o lema "Veta Tudo, Dilma!", organizada por organizações ambientalistas, têm decorrido no Brasil, prevendo-se para sábado mais uma concentração no Rio de Janeiro


Durante a campanha às Presidenciais, em 2010, Dilma Rousseff prometeu assumir um compromisso ambiental de irredutível defesa da 'floresta em pé' e de combate ao desmatamento. Em entrevista à imprensa no dia 25 de Maio do ano passado, comentando a aprovação do relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) sobre o Código Florestal, a presidente Dilma Rousseff assumia-se contra as alterações, lembrando: «eu tenho ainda o direito do veto». É justamente isso que se espera e exige agora: que o exerça e VETE na íntegra as emendas introduzidas no documento.

Cf. também:

NOTA: para compensar algumas deficiências de som, segue a transcrição, clicando no link em baixo.


Transcrição da entrevista

Dilma Rousseff: [...]A segunda questão diz respeito à votação do Código Florestal. Eu quero reiterar, aqui, a minha posição a respeito dessa questão. Eu não concordo que o Brasil seja um país que não tenha condição de combinar a situação de grande potência agrícola que ele é com a grande potência ambiental que ele também é. Nós temos, sim, condições de fazer isso. Por isso, eu não sou a favor da consolidação dos desmatamentos, da anistia aos desmatamentos. Eu acho que no Brasil houve uma prática que a gente não pode deixar que se repita. Muitas vezes se anistiava, por exemplo, dívidas, e novamente se anistiava dívidas, e as dívidas eram novamente anistiadas. O desmatamento não pode ser anistiado, não por nenhuma vingança, mas porque as pessoas têm de perceber que o meio ambiente é algo muito valioso que nós temos de preservar, e que é possível preservar meio ambiente -- extremamente possível --, produzir os nossos alimentos, sermos a maior... uma das maiores... Eu não vou dizer a maior porque podia parecer muita pretensão, mas nós estamos, sem sombra de dúvida, entre os maiores produtores de alimentos do mundo, e acho que seremos, nas próximas décadas, o maior produtor de alimentos. Nós podemos fazer isso perfeitamente, preservando o meio ambiente, como temos feito sistematicamente um esforço nessa direção. Não sou a favor, não sou a favor da emenda, fui contra a aprovação da emenda e, obviamente, respeitando a posição de todos aqueles que divergem de mim, continuarei firme, defendendo a mudança dessa emenda no Senado.

Jornalista: A senhora pode vetar a emenda?

Dilma Rousseff: Eu, primeiro, tentarei construir uma solução que não leve a essa situação de impasse que ocorreu na Câmara, lá no Senado. Agora, quero dizer a vocês que eu tenho compromisso com o Brasil. Eu não abrirei mão de compromisso com o Brasil. Nós temos obrigações diferentes e prerrogativas diferentes. Somos Poderes e temos de nos respeitar: Judiciário, Legislativo e Executivo. Eu tenho a prerrogativa do veto. Se eu julgar que qualquer coisa prejudica o país, eu vetarei. A Câmara pode derrubar o veto, não é? Você tem ainda as instâncias judiciais. O que eu quero dizer é que eu sou a favor do caminho da compreensão e do entendimento, eu sou a favor deste caminho. O governo tem uma posição, espero que a base siga a posição do governo. Não tem dois governos, tem um governo.[...]"

Posted by por AMC on 13:28. Filed under , , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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