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Agitem-se as águas: Soares e Alegre também não vão ao Parlamento celebrar o 25 de Abril

Na sequência disto:

Leio no Público:

Pela primeira vez em quase 40 anos de democracia, Mário Soares não vai às cerimónias oficiais do 25 de Abril, em solidariedade com os militares da Associação 25 de Abril. O antigo Presidente da República e fundador do Partido Socialista decidiu não ir à sessão oficial da Assembleia da República que comemora a revolução mal soube do anúncio da Associação 25 de Abril de que não participará na cerimónia.
Soares tencionava ir e já confirmara a sua presença na quarta-feira, no Parlamento. “Mas em solidariedade para com os militares, decidi não ir”, disse Mário Soares ao Público, não querendo acrescentar mais pormenores.

Leio no Público:
O ex-candidato presidencial Manuel Alegre afirmou nesta segunda-feira que também estará ausente da sessão solene comemorativa da revolução na Assembleia da República, na quarta-feira.
A decisão de Manuel Alegre foi transmitida à agência Lusa:(...) “Não vou. A celebração sem aqueles que fizeram o 25 de Abril, para mim, não tem o mesmo significado. Quando se fez o 25 de Abril em 1974, eu estava no exílio. Se hoje se vive em liberdade em Portugal, a eles [militares de Abril] o devemos”, justificou o ex-candidato presidencial.
Para Manuel Alegre, os militares que fizeram o 25 de Abril “têm o direito de assinalar como entendem” o aniversário da revolução. “Eles têm o direito de comemorar ou não o 25 de Abril, porque foram eles que fizeram o 25 de Abril”, frisou Manuel Alegre.

Não há-de, certamente, faltar a censura. Mas vale lembrar que o 25 de Abril veio dar a cada um a liberdade de agir de acordo com as suas ideias e convicções, expressando-as sem constrangimento além da consciência. Concorde-se ou não com a decisão, Soares e Alegre têm o direito de manifestar solidariedade com quem bem entenderem que a merece, tal como têm o direito de não querer participar de um acto em que não se revêem. A democracia que a madrugada dos cravos trouxe serviu para isso mesmo, é bom recordar. As celebrações oficiais e o feriado nacional são símbolos. Farão sentido para quem continue a encontrar neles correspondência com aquilo que pretendem simbolizar, deixará de o fazer para quem já não os reconheça enquanto tal.
Preferir ver Soares e Alegre de cravo ao peito no Parlamento, curvando reverência oca à celebração, engolindo o vazio do acto para não perturbar nem a tradição, nem a efeméride, não pode ser mais contrário ao espírito de liberdade democrática de Abril. Antes pelo contrário, evoca uma perturbadora semelhança com os ámen e credos que se forçavam e impingiam como 'pão nosso de cada dia' na noite anterior.
Por mim, arredo a cadeira para trás e saúdo Soares e Alegre de pé. Não apenas porque a sua ausência do Parlamento é prova provada que Abril ainda respira, mas também porque, nos tempos que correm, são mais os homens capazes de pedir desculpa, do que aqueles que procedem em coerência consigo próprios, com aquilo que dizem e acreditam. Ou, como Caetano Veloso resumiria, capazes de 'pôr os cornos para fora e acima da manada'.

Posted by por AMC on 19:49. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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