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19 de Abril: Dia do ìndio 2012

por Thaís Teisen

Desde 1943 o dia 19 de abril é conhecido como o Dia do Índio. A data instituída no Brasil pelo então presidente Getúlio Vargas, também é comemorada em outros países da América Latina em comemoração à primeira participação dos representantes indígenas nas importantes decisões e reuniões.
A data, no entanto, deve ser mais do que uma simples comemoração ou um dia reservado para o povo indígena, que habitava as terras brasileiras antes mesmo da chegada dos colonizadores portugueses ao Brasil ou de sermos considerados um país. O dia 19 de abril deve ser usado para reflexão, tanto no que diz respeito aos direitos que os índios merecem, mas também para que o exemplo de cuidado ambiental dado por eles seja lembrado por todos nós.
Ao longo dos 512 anos, desde o primeiro contato desse povo com o “homem branco”, muitas coisas mudaram no modo de vida do povo indígena. A começar pelas doenças trazidas pelos colonizadores e que dizimaram inúmeras tribos espalhadas pelo Brasil. Depois veio a quase escravidão a que os índios foram submetidos e outro problema que vem se arrastando até os dias de hoje é a falta de cuidado com a natureza, que é tida como santidade por esse povo que ama a Terra e faz de tudo para mantê-la preservada.
O cenário ocorrido no contexto histórico brasileiro não é exclusivo das terras “tupiniquins”, nome que assim como tantos outros inseridos em nossa cultura tem origem indígena e é usado para caracterizar o Brasil. Mas, ocorreu em boa parte das Américas. Um dos episódios mais famosos e que demonstram perfeitamente essa situação ocorreu em 1855 nos Estados Unidos, quando o Governo insinuou que pretendia comprar uma porção de terras habitada pela tribo Suquamish, no estado de Washington. Na ocasião, o cacique Seattle enviou uma carta aos representantes oficiais do governo, que se lida ainda hoje traz conceitos que se encaixariam perfeitamente em nossa realidade e ainda nos faz pensar sobre o impacto e maneira como tratamos a terra.
O início da carta diz: “Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo”.
Em outro trecho ele ainda prevê como deve ser o futuro do “homem branco” caso os danos causados à terra continuem a se proliferar. “Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus às andorinhas da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência”.
A carta se torna contemporânea e útil para trazer a todos a reflexão sobre os impactos que essa geração pretende deixar no planeta. A luta para combater as mudanças climáticas já começou. Se os resultados e esforços aplicados hoje serão eficientes amanhã, não se sabe e somente o tempo poderá dizer. Porém, admirar o exemplo dado pelos índios e seguir, pelo menos, parte da filosofia e cuidado que eles têm como uma das nossas maiores riquezas que é a natureza é essencial para transformamos o nosso presente e sonharmos como um futuro melhor.

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Em 1940, o 1º Congresso Indigenista Interamericano, reunido em Patzcuaro, no México, aprovou uma recomendação para que os países da América estabelecessem o dia 19 de abril como o Dia do Índio. O objetivo era que esse dia fosse dedicado ao estudo das realidades e problemas do índio nas escolas e instituições de ensino.
No Brasil, o presidente Getúlio Vargas assinou o Decreto-Lei nº 5.540 em 2 de junho de 1943, adotando a recomendação do Congresso Indigenista.
Já no ano seguinte, em 1944, o Brasil celebrou a data com solenidades, atividades educacionais e divulgação das culturas indígenas. Desde então existe a comemoração do "Dia do Índio", às vezes estendida por uma semana, a "Semana do Índio".
O último censo realizado pelo IBGE – o Censo 2010 – registrou 817.963 indígenas, a maioria na Região Norte (305.873 indígenas), seguida da Região Nordeste (208.691), Centro-Oeste (130.494), Sudeste (97.960) e Sul (74.945). O Censo também mostrou que a maioria das pessoas indígenas tem domicílio na área rural (502.783).

Entre 1991 e 2010, população indígena se expandiu de 34,5% para 80,5% dos municípios do país

Segundo o Censo de 1991, em 34,5% dos municípios brasileiros residia pelo menos um indígena autodeclarado. No Censo de 2000, esse percentual cresceu para 63,5% e, de acordo com o Censo 2010, chegou a 80,5% dos municípios brasileiros.
As 817 mil pessoas que se autodeclararam indígenas no Censo 2010 representam 0,4% da população nacional. Não foram alvo da pesquisa os povos indígenas brasileiros considerados “índios isolados”, os quais, pela própria política de contato, não foram entrevistados.
Segundo o Censo 2010, dos 315 mil indígenas que residem nas áreas urbanas, a maior participação (33,7%) foi encontrada na região Nordeste – superando o Sudeste, que era líder de participação indígena urbana nos Censos de 1991 e 2000 – e entre os 502 mil residentes das áreas rurais, a região Norte manteve a maior concentração (48,6%).
Em 1991 e 2000, a categoria “indígena” era investigada no quesito cor ou raça apenas na Amostra. No Censo 2010, o IBGE, pela primeira vez, investigou o contingente populacional indígena dentro do quesito cor ou raça também no questionário básico, totalizando o Universo de domicílios pesquisados. Além disso, o Censo 2010 introduziu critérios adicionais, como o pertencimento étnico, a língua falada no domicílio e a localização geográfica, que são critérios de identificação usados em Censos de outros países. A divulgação das informações específicas do Censo 2010 para as terras indígenas está prevista para julho de 2012.
Enquanto prepara essa divulgação, o IBGE elaborou um documento especial e uma página em homenagem ao Dia do Índio, com análises e dados comparativos dos Censos de 1991, 2000 e 2010 acerca da distribuição espacial da população que se autodeclarou indígena.

O documento pode ser acessado no link www.ibge.gov.br/indigenas/indigena_censo2010.pdf e a página, no link www.ibge.gov.br/indigenas/index.htm

Em 2010, população autodeclarada indígena no Brasil chegava a 817 mil

Segundo o Censo 2010, 817 mil pessoas se autodeclararam indígenas, o que significou um crescimento no período 2000/2010 de 11,4% (84 mil pessoas), bem menos expressivo do que o do período 1991/2000, de aproximadamente 150% (440 mil pessoas).
Mesmo com evidências de que os povos indígenas estivessem experimentando crescimento acelerado em função de altas taxas de fecundidade, os dados censitários de 2000 superaram as expectativas, com um ritmo de crescimento anual de 10,8% no período 1991/2000. Esse fato reflete o aumento do número de pessoas que, em 1991, se identificaram em outras categorias e que, em 2000, passaram a se identificar como indígenas.
Esse fenômeno é conhecido como “etnogênese” ou “reetinização”: povos indígenas reassumindo e recriando as suas tradições indígenas, após terem sido forçados a esconder e a negar suas identidades tribais como estratégia de sobrevivência, seja por pressões políticas, econômicas e religiosas, ou por terem sido despojados de suas terras e estigmatizados em função dos seus costumes tradicionais.
Os resultados do Censo 2010 revelaram, em relação a 2000, um ritmo de crescimento anual de 1,1% para a população indígena. Na área urbana, o incremento foi negativo, correspondendo a uma redução de 68 mil pessoas, a maioria proveniente da região Sudeste. As pessoas que deixaram de se classificar como indígenas na área urbana podem não ter afinidade com seu povo de origem.


No período 2000/2010, o Acre teve um crescimento da população indígena de 7,1% ao ano, seguido de Paraíba, com 6,6% ao ano, e Roraima, com 5,8% ao ano. O maior declínio populacional relativo foi registrado no Rio de Janeiro: -7,8% ao ano, correspondendo a cerca de 20 mil pessoas.
Nas áreas urbanas, o declínio populacional atingiu a totalidade dos estados das regiões Sudeste e Sul e também a região Centro-Oeste, com exceção de Mato Grosso do Sul. Já na área rural o comportamento foi inverso, o crescimento foi 3,7% ao ano, destacando a elevada taxa de crescimento de 4,7% ao ano da região Nordeste.
As perdas populacionais de indígenas nas áreas urbanas foram significativas em 20 unidades da Federação, principalmente em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Nesses estados, o Censo 2000 revelou os maiores incrementos populacionais em relação ao Censo de 1991.

Região Norte concentra população indígena na área rural, Nordeste na área urbana

Na análise da distribuição da população indígena autodeclarada entre as grandes regiões do país, a região Norte se manteve na liderança nos Censos de 1991 (42,2%), 2000 (29,1%) e 2010 (37,4%). A região também se destacou na área rural, com 50,5%, 47,6% e 48,6%, respectivamente. Já no segmento urbano, o Sudeste concentrava 35,4% da população indígena em 1991 e 36,7% em 2000, mas o Nordeste passou a ter o maior contingente de indígenas em domicílios urbanos em 2010, com 33,7%.
Em números absolutos, a maior população indígena do país reside no Amazonas (168,7 mil pessoas, ou 20,6% da população indígena do país) e a menor no Rio Grande do Norte (2,5 mil, ou 0,3%). Apenas seis unidades da Federação registraram, em 2010, mais que 1% de população autodeclarada indígena. Por outro lado, 13 unidades da Federação apresentaram percentuais de população indígena abaixo da média nacional (0,4%).


Em 2010, cinco municípios tinham mais de 10 mil indígenas 

Os 10 municípios com maior contingente de população indígena, segundo o Censo 2010, concentravam 126,6 mil indígenas, o que corresponde a 15,5% da população indígena nacional. Desses, cinco municípios tinham mais de 10 mil indígenas residentes, sendo quatro no Amazonas: São Gabriel da Cachoeira (29,0 mil), São Paulo de Olivença (15,0 mil), Tabatinga (14,9 mil), Santa Isabel do Rio Negro (10,9 mil). Além deles, entre as capitais, apenas São Paulo passou dessa marca, com 13,0 mil indígenas.


Analisando-se a área urbana, São Paulo tinha a maior população indígena (11,9 mil), seguido por São Gabriel da Cachoeira (11,0 mil). Já na área rural, São Gabriel da Cachoeira ficou em primeiro lugar, com 18,0 mil indígenas.
Em termos de proporção da população indígena na população total dos municípios, o maior percentual foi encontrado no município de Uiramutã (RR), 88,1%. Na área urbana, o município de Marcação (PB) se destacou com 66,2% de população indígena; na área rural, foi São Gabriel da Cachoeira, onde 95,5% dos residentes nessa área são indígenas.

Censos aprimoraram formas de identificação de indígenas ao longo dos anos 

O quesito da cor da população vem sendo levantado desde o primeiro recenseamento, feito em 1872. Esse quesito foi incluído, também, nos Censos de 1890, 1940 até 1960 e, de 1980 até 2010. Nos Censos de 1940 e 1950, foi investigada a língua falada para as pessoas que não falavam habitualmente o português no lar, e assim, era possível quantificar os indígenas, que conservavam o uso da língua nativa. Em 1960, a categoria “índio” foi incluída no quesito da cor, mas apenas para os que viviam em aldeamentos ou postos indígenas.
No Censo 1991, o quesito passa a se autodenominar “cor ou raça”, com a introdução da categoria “indígena”, investigada em âmbito nacional, dentro da Amostra, procedimento que foi mantido em 2000. Já em 2010, o quesito passou a ser investigado no Universo. Além disso, no Censo 2010 aprimorou-se a investigação desse contingente populacional, introduzindo o pertencimento étnico, a língua falada no domicílio e a localização geográfica, que são considerados critérios de identificação de população indígenas nos Censos nacionais dos diversos países.
O Censo 2010 permitirá ter um conhecimento da grande diversidade indígena existente no Brasil e um melhor entendimento quanto à composição deste segmento populacional, a saber: os povos indígenas residentes nas terras indígenas; os indígenas urbanizados com pertencimento étnico a povos indígenas específicos e pessoas que se classificaram genericamente como indígenas, mas que não têm identificação com etnias específicas. A divulgação das informações do Censo 2010 referentes à língua falada dos indígenas e resultados para as terras indígenas está prevista para julho de 2012.

via IBGE


 
Em comemoração ao Dia do Índio, o IBGE apresenta um conjunto de informações sobre a quantidade e a distribuição da população indígena no Brasil, nas Grandes Regiões, nas Unidades da Federação e nos Municípios. A situação do domicílio (rural ou urbano) também é considerada.
As informações têm por base a população que se autodeclarou indígena no quesito cor ou raça do Censo Demográfico realizado nas três últimas décadas: 1991, 2000 e 2010.
Em julho, esta página será complementada pela publicação Censo Demográfico 2010: características gerais dos indígenas: resultados do universo, que divulgará dados referentes a Terras Indígenas, etnia e língua falada pelos indígenas.

Cf. também:


Os números dos índios no Brasil

Com os resultados do Censo Demográfico 2010, podemos acompanhar a situação do índio hoje no Brasil através das estatísticas.
Quantas pessoas se declararam indígenas?
Em 2010, o Brasil contava com uma população de 191 milhões de habitantes, dos quais 91 milhões se classificaram como brancos (47,7%), 15 milhões como pretos (7,6%), 82 milhões como pardos (43,1%), 2 milhões como amarelos (1,1%) e 817 mil indígenas (0,4%). Vale ressaltar que a proporção de pessoas que se declararam indígenas em 2010 permanece nos mesmos patamares em relação a 2000, ou seja, representava 0,4%. Isto era o equivalente, em 2000, a 734.127 pessoas.
Como os indígenas se distribuem pelo território?
Acompanhe na tabela abaixo a distribuição da população indígena pelas Grandes Regiões do Brasil em 2000 e 2010:
População indígena residente - Brasil e Grandes Regiões - 2000/2010
Brasil e Grande Região 2000 2010
Brasil 734.127 817.963
Região Norte 213.443 305.873
Região Nordeste 170.389 208.691
Região Sudeste 161.189 97.960
Região Sul 84.747 74.945
Região Centro-Oeste 104.360 130.494
Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010.
Nota: Em 2000, foram considerados os resultados da amostra.
Em relação à situação do domicílio (ou seja, se está em área urbana ou rural), em 2000 eram 383.298 indígenas em áreas urbanas e 350.829 em áreas rurais. Em 2010, o número de indígenas em áreas urbanas caiu para 315.180 e, na área rural, aumentou para 502.783

Dia do Índio

    Um pouco de história

    Fonte: Adaptado de Brasil, 500 anos de povoamento, 2o capítulo: "História indígena: 500 anos de despovoamento" de Ronaldo Vainfas. IBGE, 2000.
    Segundo o artigo do historiador Ronaldo Vainfas na publicação Brasil, 500 anos de povoamento, a história dos povos indígenas no Brasil é, antes de tudo, uma história de "despovoamento", pois se é possível considerar que o total de nativos que habitavam o atual território brasileiro em 1500 estava na casa dos milhões de pessoas, essa população foi drasticamente reduzida ao longo dos anos.
    Vainfas aponta que, no Período Colonial, houve muita discussão sobre a origem dos índios: uns acreditavam que eram descendentes das tribos perdidas de Israel, outros duvidavam até que fossem humanos. A humanidade dos índios só foi proclamada em 1537, pelo papa Paulo III, na Bula Veritas Ipsa.
    Hoje já se conhece mais sobre as origens do povoamento da América. De acordo com Vainfas, supõe-se que os povos ameríndios foram provenientes da Ásia, entre 14 mil e 12 mil anos atrás. Teriam chegado por via terrestre através de um subcontinente chamado Beríngia, localizado na região do Estreito de Bhering, no extremo nordeste da Ásia.

    Nomes e classificações

    A história indígena é uma história de enganos e incompreensões, a começar pelo próprio vocabulário construído no Ocidente para identificar esses povos. A palavra índio deriva do engano de Colombo que julgara ter encontrado as Índias – o "outro mundo", como dizia, na sua viagem de 1492. Assim, a palavra foi utilizada para designar, sem distinção, uma infinidade de grupos indígenas.
    Do ponto de vista de Ronaldo Vainfas, a história indígena é uma história de enganos e incompreensões, a começar pelo próprio vocabulário construído no Ocidente para identificar esses povos. A palavra índio deriva do engano de Colombo que julgara ter encontrado as Índias – o "outro mundo", como dizia, na sua viagem de 1492. Assim, a palavra foi utilizada para designar, sem distinção, uma infinidade de grupos indígenas.
    Posteriormente, para identificar melhor os índios, os colonizadores os classificaram em tupis (ou tupinambás) e tapuias. Eram considerados tupis os povos que, pela semelhança de língua e costumes, predominavam no litoral no século XVI. Os tapuias eram os "outros", isto é, os que não falavam a língua que os jesuítas chamaram de "língua geral" ou "língua mais usada na costa do Brasil", como se expressou Anchieta, o primeiro a compor uma gramática da língua tupi. Portanto, nunca houve um grupo cultural ou linguístico "tapuia". Este é um vocábulo tupi utilizado para designar os povos de outros troncos ou famílias linguísticas.
    Esta classificação foi muito importante para o registro das informações sobre os índios produzidas pelos portugueses, franceses e outros europeus.

    Alianças e resistências

    Ainda segundo Vainfas, os índios reagiram de formas diversas à presença dos colonizadores e à chegada de invasores, como os holandeses e franceses. Alguns forjaram alianças decisivas para o triunfo da colonização portuguesa. Com este apoio, entretanto, as lideranças indígenas tinham seus próprios objetivos: lutar contra seus inimigos tradicionais, que, por sua vez, também se aliavam aos inimigos dos portugueses (franceses e holandeses) por idênticas razões. Por exemplo, os guerreiros temiminós, liderados por Araribóia, se aliaram aos portugueses para derrotar os franceses na baía de Guanabara, nos anos 1560; como os franceses recebiam apoio dos Tamoios, estes acabaram por guerrear com os temiminós. Outro exemplo foi o chefe tupiniquim Tibiriçá, valioso para o avanço português na região de São Vicente e no planalto de Piratininga. Ele combatia rivais da própria "nação" Tupiniquim e os "tapuias" Guaianá, além de escravizar os Carijó para os portugueses.
    Por outro lado, a resistência aos colonizadores se manifestou em inúmeros ataques aos núcleos de povoamento portugueses. Dentre estes, os Aymoré, posteriormente chamados de Botocudos, foram um permanente flagelo para os colonizadores durante o século XVI, na Bahia. Entre os episódios célebres de resistência ou represália, ficaram registrados:
    • o do donatário da Bahia, Francisco Pereira Coutinho, devorado pelos Tupiniquim, em 1547;
    • o do jesuíta Pero Correa, devorado pelos Carijó, nas bandas de São Vicente, em 1554;
    • o do primeiro bispo do Brasil, D.Pedro Fernandes Sardinha, em 1556, devorado pelos Caeté, após naufragar no litoral nordestino.

    Fonte: Adaptado de Brasil, 500 anos de povoamento, 2o capítulo: "História indígena: 500 anos de despovoamento" de Ronaldo Vainfas. IBGE, 2000.

    O Censo vai às terras indígenas

    A equipe da revista Vou te Contar – a revista do Censo Demográfico – acompanhou o trabalho de campo do IBGE em terras indígenas em duas ocasiões diferentes: a primeira, em 2009, para o Censo Experimental (uma espécie de teste ou ensaio para o Censo Demográfico 2010), numa tribo de índios pataxós, na Bahia; a segunda ocasião foi durante a fase de coleta do próprio recenseamento, em 2010, quando visitou as Terras Indígenas Wajãpi, no Amapá.
    Que tal acompanhar nossos repórteres nessas aventuras e ver um pouco do trabalho do IBGE em campo, com seus recenseadores em ação?

    O IBGE realiza o Censo Experimental na comunidade de Aldeia Velha, na Bahia

    As casas de pau a pique, misturadas a algumas poucas casas de alvenaria, alinham-se às margens de uma longa rua de barro. Subindo essa rua, o técnico Gilmar Horas Peixoto bate palmas em frente a um portão: ele está trabalhando como recenseador no Censo Experimental em terras indígenas, realizado durante o mês de setembro em Aldeia Velha, tribo de índios pataxós em Arraial D’Ajuda, distrito de Porto Seguro (BA). Quem atende o chamado é Maria de Lourdes, conhecida pelos pataxós como "dona Onça". Apesar do que seu apelido sugere, dona Onça é simpática e acolhedora – agradável até mesmo quando repreende o recenseador: "Moço, esperei por vocês ontem o dia inteiro, fiz até suco pro senhor".
    Maria de Lourdes é um exemplo da receptividade geral da Aldeia Velha ao Censo Experimental. "Dos 70 domicílios que entrevistei, não tive nenhuma recusa, nenhuma resistência", atesta Gilmar.
    Em Aldeia Velha, antes de qualquer questionário ter sido preenchido, funcionários do IBGE conversaram primeiro com o cacique Urubaya Pataxó, que ajudou a explicar o Censo a toda comunidade. "Nas outras aldeias, pode-se tentar, ainda, uma reunião geral com toda a tribo, em vez de falar apenas com as lideranças locais", sugere Urubaya.
    Os 180 domicílios da Aldeia Velha ajudaram a testar uma novidade do Censo 2010 com relação à temática indígena: em todos os questionários (básico e da amostra), haverá uma pergunta sobre cor e raça, que se desdobrará em outra: "você se considera indígena?".
    Os pataxós também responderam sobre a que etnia pertencem e se falam ou usam o idioma de seu povo, mais duas inovações do questionário.
    Esta não é a primeira vez que o questionário do Censo 2010 passou por testes em terras indígenas. Os dois testes-piloto do Censo 2010, realizados em cidades de Roraima e Goiás, incluíram algumas tribos. Além disso, o IBGE participou, no Paraná, de uma prova conjunta do Mercosul entre Brasil e Paraguai sobre populações indígenas. "Tivemos a oportunidade de observar as características dos indígenas das Regiões Norte, Centro-Oeste e Sul. Precisávamos realizar o teste em grupos típicos do Sudeste ou do Nordeste, e o sul da Bahia nos pareceu o local ideal", explica Nilza Martins Pereira, pesquisadora da Diretoria de Pesquisas do IBGE.
    Leia mais: Pataxós em busca da identidade.
    Fonte: Vou te Contar – a revista do Censo, n.º 13.


    No Amapá: recenseamento em terras Wajãpi

    Das peculiaridades do Amapá, vale mencionar que é o estado brasileiro com maior proporção de áreas ambientais demarcadas e protegidas. A porção oeste do estado é preenchida pelo Corredor da Biodiversidade do Amapá, uma área contínua de unidades de conservação que ocupa mais de dez milhões de hectares – maior do que Portugal – e equivale a 70% da área do estado. Foi lá que nossa jornada começou, mais precisamente nas Terras Indígenas Wajãpi.
    Tivemos a oportunidade de ver o Censo na região desde seus primeiros momentos: a preparação da equipe, os percalços no trajeto, a chegada na aldeia e o PDA (computador de mão, utilizado para registrar os dados da coleta) em ação registrando as coordenadas e abrindo o primeiro questionário junto ao cacique Kua Wajãpi, da aldeia Pinoty (no dialeto wajãpi, pinoty significa "lugar com muitas bacabas", palmeiras típicas do Amapá).
    O primeiro contato dos Wajãpi com não índios (chamados karaikos) é o mais recente de todas as aldeias do Brasil: tem pouco mais de 70 anos. Eles têm fama de índios arredios, de pouca conversa com gente de fora (ou conversa alguma, já que muitos não falam português – o número exato o Censo dirá) e de costumes ainda bastante preservados. Não usam roupa de karaiko, vestem tangas de tecido vermelho vivo; a pele muitas vezes é avermelhada de urucum.
    Braços e pernas podem trazer fios de miçanga colorida; para os líderes, os fios de miçanga são longos, grossos, atravessados no peito. Estavam todos cuidando tranquilamente de seu dia a dia, quando o Censo chegou.
    A equipe do IBGE foi acompanhada de Militino Mendes, um funcionário da Fundação Nacional do Índio - Funai, que operou como um guia e relações-públicas com as aldeias. Ele já trabalha com os Wajãpi há mais de 26 anos e fala um pouco de seu dialeto. Isto facilitou que os índios confiassem e recebessem aquele grupo de karaikos de boné e colete azul-marinho (o uniforme do recenseador).
    Em um dia inteiro, a equipe percorreu três aldeias indígenas fazendo os primeiros contatos, explicando que o Censo seria feito na região nos próximos dias. A primeira delas, mais próxima à estrada – a Pinoty, do cacique Kua – foi logo recenseada, com suas quatro famílias, que em breve serão maiores. Um dos filhos do cacique, que já tem uma esposa, está namorando outra e, tão logo as coisas fiquem acertadas com o pai da noiva, ela virá para a aldeia. Poligamia é comum entre os Wajãpi.
    Militino e o recenseador Clodoaldo Vieira ficam na reserva indígena até entrevistar todas as aldeias (42, de acordo com levantamentos da Funai). Foram preparados para um verdadeiro acampamento, levando redes, mosquiteiros e comida. Algumas noites passaram no meio do mato, para conseguirem chegar às aldeias mais remotas. "Não aguento nem mais pensar em conserva e em comida enlatada", diz Clodoaldo – e estávamos apenas no primeiro dia. É possível que os índios convidem para uma refeição, eventualmente uma caça, quem sabe uma paca? "Não gosto muito de carne de caça, mas se tiver que comer eu como... senão é desfeita com os índios, né?", pondera o recenseador.
    Em outra aldeia, o cacique já avisou que estavam de mudança. Segundo ele, a caça está cada dia mais rara e o rio bom para pesca é longe, então é hora de buscar um terreno melhor, dentro da reserva mesmo. Para efeitos de Censo, o que vale é a data de referência - "Então vamos recensear logo", orientou Militino, para não perder a aldeia de vista e registrar as coordenadas corretamente. Mais tarde, conversando com um casal wajãpi de outra aldeia, o marido explicava que as aldeias costumam se mudar depois de um período de tempo, seja porque morreu o cacique (e então o corpo dele fica enterrado ali, sob sua casa, "morando" na terra que as famílias vão deixar) ou porque os meios de sobrevivência vão escasseando. Para os Wajãpi, é muito importante deixar a natureza se recuperar de tempos em tempos, por isso as aldeias vão se mudando dentro da floresta. Sustentabilidade ainda não faz parte do vocabulário de todos ali, mas dá sinais nos modos wajãpi de ser.

Fonte: Vou te Contar – a revista do Censo, n.º 18.

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