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A propósito do ministro da Segurança Social se oferecer para servir de modelo a Timor

 Leio no Expresso:

O ministro português da Solidariedade e Segurança Social, Pedro Mota Soares, assinou hoje com a homóloga timorense, Maria Domingas Alves, um protocolo de cooperação para ajudar Timor-Leste a construir o sistema contributivo de segurança social.

Desde que foi eleito, Mota Soares mais não faz do que queixar-se da «insustentabilidade» do actual modelo de Segurança Social. Cada intervenção sua vai no sentido de o tornar ou ainda mais falido, ou mais injusto, ou mais incapaz e inoperante. As medidas que anuncia ou precisam de uma adenda urgente que lhes rectifique disparates e efeitos perversos, ou agravam a situação das pessoas a que deviam garantir protecção, ou introduzem injustiças e desequilíbrios, ou ferem de morte a Constituição, ou etc. Vive, portanto, Mota Soares como uma barata tonta, em meio a este esquizóide desespero: rejeitando, por um lado, o modelo que herdou, considerando-o impraticável, e, por outro, ensaiando tentativas de reformulação que, de tão desastrosas se afiguram, se vê obrigado a abandonar (perdão!... «adiar») tão depressa quanto a ideia lhe ocorre.
A notícia de que Mota Soares acaba de se oferecer para ajudar Timor a construir um sistema de segurança social raia, no mínimo, o anedótico. Para construir um "sistema", como o tempo em funções já lhe devia ter permitido perceber, é necessário mais que um punhado de medidas avulso. Um modelo, por exemplo e para começar.  E que modelo tenciona Mota Soares exportar para Timor? Aquele que existe e anda apostado em destruir, por entender que não serve, ou esse outro que nem ele próprio sabe bem qual seja, mas que por este ou aquele 'pormenor', este ou aquele 'motivo', termina sempre a admitir ser preferível abandonar?
Tomara Mota Soares decidir-se pelo modelo a impor a Portugal e dar conta do recado cá dentro, quanto mais!!... 
Melhor fora que tivesse pisado o chão de Timor sem a tentação dos vícios do passado, sem a sobranceria de quem chega para levar, convencido de que nada encontrará que valha a pena trazer. Mais do que 'exportar' o que não tem, antes aproveitasse para 'importar' de Timor as lições simples que encontrou à sua espera. Que a idade não se castiga, antes se honra, por exemplo. Podia Mota Soares regressar com os mesmos atavios na cabeça e nas políticas, mas, se ao menos voltasse com o vislumbre de que um país que não respeita os seus velhos tem os dias contados, já não seria mau de todo. Pelo menos haveria esperança de que, um destes dias, se decidisse por um modelo que não agredisse todos quantos deve proteger.

Posted by por AMC on 08:27. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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