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De Londres, PM atribui ameaça de ruptura na coesão social à «proximidade do 1º de Maio»

Passos Coelho está de visita a Cameron. A coisa estava a correr bem: um artigo assinado por si  próprio no distinto Financial Times, para preparar terreno [Cf. vídeo], um preâmbulo sugado à História para lembrar que a aliança entre os dois países é a mais antiga de que há memória e lá ia passando a mensagem do comprometimento mútuo com questões de preocupação social, como a criação de emprego [Cf. vídeos aqui e aqui].
Era só mais um bocadinho e quase passavam  despercebidas três diferenças abissais que colocam Portugal num plano diferente: a Inglaterra não está sob um plano de intervenção externa e, apesar de ser membro da UE, não só não aderiu ao Euro, como também não assinou o Tratado Orçamental Europeu.
Quis, porém, o destino que ontem – na sequência de mais uma das várias medidas gravosas que, nas últimas semanas, o Governo vem anunciando às pinguinhas e que omitiu das intenções que colocou sobre a mesa quando, em Janeiro, negociou as alterações ao Código de Trabalho com os parceiros sociais – resolvesse a UGT ameaçar rasgar o Acordo de Concertação Social [Cf. vídeos aqui e aqui]. Para constrangimento do primeiro-ministro, hoje em Londres, os jornalistas não só tinham conhecimento do facto como não o deixaram passar em branco. Confrontado com a ira do único sindicato que, depois de muitos sapos engolidos, lá se deixou convencer a permanecer na mesa das negociações e viabilizou as alterações laborais, Passos Coelho resolveu minimizar a gravidade da ruptura. Respondeu como se tudo não passasse de um surto histérico em tempo de pré-efeméride ditada pelo calendário, atribuindo a reacção da UGT à proximidade do 1º de Maio, uma altura que, segundo ele, pode ser a razão para "um certo" debate doméstico.
O modo risível como interpreta e aborda a ameaça da UGT, mais do que nos deixar a perguntar se Passos Coelho vive no mesmo país que nós, faz-nos temer continuar a viver no mesmo país que ele. Nenhum povo aguenta esta permanente subestimação, esta desvalorização constante da sua voz, este quase gozo paternalista que minimiza e despreza as suas mais doídas manifestações. Como e fossem tonterias sem importância, minudências dignas de pouco caso, birras de gente «piegas». No país de Passos Coelho, por sinal e infelicidade, o mesmo em que nós vivemos, a paciência é hoje um copo para lá de cheio e, a breve trecho, à conta de tanto pingar, há-de haver uma gota que o obrigará a transbordar.

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