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O que muda para as famílias com a descida do 'rating'

O corte do ‘rating' português levado a cabo pela Moody's traça um triste destino ao país. Descrédito do Estado, financiamento inacessível para os bancos, empresas a valer menos, possivelmente até mais austeridade. Um caminho que já se sabia difícil, ficou ainda mais tortuoso. E vai distribuir danos colaterais um pouco por toda a economia. Incluindo, sobre as famílias.

1. Estado sem crédito e empresas públicas mais baratas
Uma das justificações da Moody's para cortar o ‘rating' prende-se com a possível dificuldade do Estado em gerar receitas adicionais. Mas é o próprio corte que ameaça as receitas do Estado. Além da machadada na imagem da República, que aconselha os investidores a fugir da dívida soberana do País, o ‘downgrade' é também uma machadada na imagem das empresas públicas. É que normalmente nenhuma empresa pode ter ‘rating' mais alto do que o atribuído ao Estado, pelo que o ‘downgrade' vai ser extensível a muitas empresas estatais. Além do impacto imediato que é o financiamento mais caro, o Estado vai ter outro problema: as empresas perdem valor em bolsa, fazendo cair o valor do encaixe com eventuais privatizações. Recorde-se que o Governo tem um extenso programa de privatizações na mira. E, depois do corte, o encaixe financeiro com as mesmas vai ser obrigatoriamente menor.

2. Reforço de capitais da banca ameaçado
Os bancos vão ter crédito mais caro e difícil lá fora. Mas há mais: o corte no ‘rating' ameaça o reforço de capitais a que a banca portuguesa está obrigada. Os bancos têm que aumentar o rácio ‘core Tier 1' para 9% este ano e para 10% até final do próximo. Podem fazê-lo de duas maneiras: ou aumentam os fundos ‘core', vendendo activos ou fazendo um aumento de capital; ou então vendem carteiras de crédito, diminuindo os activos ponderados pelo risco. Mas o ‘downgrade' vai aumentar o risco dos activos ponderados. Ou seja, das duas uma: ou os bancos aumentam o capital mais do que o previsto, ou vendem mais carteiras de crédito do que o desejado.

3. Impacto indirecto para Empresas e famílias
Os danos colaterais do corte chegam às empresas e famílias de forma indirecta, mas também chegam. Por um lado, com os bancos a pagarem mais caro para se financiarem lá fora, o crédito bancário para empresas e famílias também vai ficar mais caro, por causa das margens de lucro. E isso nos casos em que se consiga crédito bancário, que além de mais caro, vai também ficar mais restrito. Além disso, para as empresas, há outro problema: os investidores vão fugir do PSI 20, com as empresas cotadas em bolsa a pagarem o preço na cotação das suas acções. Por fim, o ‘downgrade' da Moody's complica a vida do Governo, que para atingir as metas prometidas à ‘troika' poderá vir a ter necessidade de implementar ainda mais austeridade, numa altura em que muitos portugueses já estão com a corda no pescoço.

4. Títulos portugueses ainda não são barrados no BCE
Apesar do Banco Central Europeu (BCE) não aceitar como colaterais títulos de dívida com classificação de "lixo", Portugal ainda não está barrado junto da autoridade monetária. É que o BCE assume sempre o melhor ‘rating', de entre as quatro agências consideradas: Moody's, Fitch, Standard & Poor's (S&P) e a canadiana DRBS. Fitch e S&P têm uma nota de ‘BBB-' para Portugal, apenas um nível acima de "lixo". Se ambas cortarem o ‘rating' português, o País fica dependente da DRBS, que tem um ‘rating' ligeiramente melhor: ‘BBB+'.

publicado no Diário Económico

Posted by por AMC on 15:40. Filed under , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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