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"Acção no campo"

por Luiz Garcia *

Prevenir assassinatos é obviamente uma obrigação importante de qualquer governo — talvez mais até do que punir assassinos. Muitos crimes, obviamente, não são previsíveis, mas, pelo menos no Brasil, e apesar do nosso tamanhão todo, as disputas por terras têm um potencial histórico de violência.
Este ano, a Comissão Pastoral da Terra ofereceu ao governo federal uma lista de 165 pessoas ameaçadas de morte. Uma década atrás, eram 207, mas a redução não é indício de redução da violência no campo: as 42 que saíram da lista foram assassinadas.
O governo, agora, foi menos pessimista que a Pastoral: a Secretaria de Direitos Humanos cortou 34 nomes da relação dos cidadãos ameaçados, por considerar que não correm mais perigo. É verdade que a ministra de Direitos Humanos, Maria do Rosário, também disse que seria impossível as autoridades protegerem adequadamente todos os 165 da lista inicial. O que pode parecer pouca fé na eficiência das autoridades — ou excesso de medo da eficiência dos ladrões de terras. Há motivo suficiente para esse temor: nos últimos dez anos, 42 líderes rurais, sem-terra e defensores do meio ambiente foram assassinados.
Seja como for, o planejamento da proteção é bastante sofisticado. Todos os 131 cidadãos a serem protegidos tiveram seus casos estudados e receberam um "coeficiente de risco pessoal e familiar". Dependendo do coeficiente de cada um, merecerão maior ou menor atenção de autoridades federais e estaduais.
De qualquer maneira, talvez seja também uma boa ideia dar intensa publicidade à punição dos invasores de terras e assassinos de líderes rurais. Além disso, se o governo sabe quem está ameaçado, com certeza também conhece muitos dos autores das ameaças — e seria bastante útil que a opinião pública também os conheça. Principalmente se são fazendeiros com prestígio local e poder político.
Pode ser precipitação e injustiça imaginar um cenário em que os vilões da disputa de terras sejam exclusivamente ricos proprietários de terras — mas só a publicidade objetiva dos episódios dessa guerra doméstica permitirá ao Brasil urbano conhecer as dimensões do problema e avaliar as ações das autoridades.
Enfim, se as ações agora prometidas tiverem a eficiência que, pelo menos no papel, parecem ter, melhor para o governo e para todo o país.

* publicado na coluna do autor em O Globo - 08.07.2011

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