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Agências de rating não desistem de 'cortar as pernas' à Grécia

O novo pacote de ajuda financeira à Grécia, num montante estimado de 85 mil milhões de euros, corre o risco de cair num impasse: as agências de rating ameaçam bloquear o novo pacote de ajuda financeira à Grécia, ameaçando com classificação de "incumprimento selectivo".



Os bancos alemães e franceses mostram abertura para participar num rollover da dívida grega (prolongamento do prazo de pagamento) desde que as agências de rating não baixem a avaliação de risco do país. Mas é exactamente isso que duas das três maiores agências ameaçam fazer.
Ontem, a Standard & Poor"s (S&P) veio defender que o cenário que a União Europeia e os credores privados têm em cima da mesa pode ser considerado um "incumprimento selectivo". Esta posição é idêntica à defendida pela Fitch, na semana passada.
O cenário que está a ser discutido "conduzirá provavelmente a uma falta de pagamento de acordo com os nossos critérios", alertou a Standard & Poor"s, em comunicado.
Na semana passada, em carta enviada ao Financial Times, David Riley admitiu que o envolvimento do sector privado, mesmo que voluntário, será visto como incumprimento. "A Fitch é orientada pelo espírito e pela letra dos seus critérios, pelo que, se parecer um default, será classificado como um default", refere a carta.
A posição assumida ontem pela S&P motivou, de imediato, uma reacção da Comissão Europeia. Amadeu Altafaj, o porta-voz do comissário europeu para os Assuntos Económicos e Monetários, veio defender que o que se pretende é exactamente evitar um incumprimento do país, esclarecendo que "ainda não se optou por nenhum modelo de envolvimento dos privados" e que "não há razões para precipitações".
A posição da S&P surge depois da Federação Bancária Francesa ter admitido que estão em cima da mesa duas propostas, uma das quais prevê que as instituições privadas, onde os bancos assumem um papel preponderante, aceitem prolongar a maturidade de 70 por cento da dívida grega que vai vencendo, recebendo, no imediato, apenas 30 por cento. A maior fatia seria colocado em dívida grega a 30 anos, a uma taxa de juro de 5,5 por cento, que poderia aumentar até mais 2,5 por cento em função do crescimento económico. A segunda consistirá no reinvestimento de 90 por cento dos montantes a reembolsar pelo Estado grego em novas obrigações, com a maturidade de cinco anos.
Os bancos franceses aceitam o rollover sob condição de as agências de rating não cortarem a avaliação da dívida grega para default (incumprimento) e de o BCE não vender as obrigações que tem em carteira.
Para a S&P, que em Junho colocou o rating da Grécia em CCC (o penúltimo de quatro patamares de avaliação), estas propostas configuram "um incumprimento selectivo" de pagamentos, porque não se trata de uma troca de dívida no sentido estrito.
Já a proposta alemã, a que a S&P não faz referência, aponta para que os bancos alemães voltem a emprestar um total de 3,2 mil milhões de euros, que vencem até 2014, não se conhecendo as condições concretas desse refinanciamento.
Uma semana depois de os ministros da zona euro terem acordado a libertação da última tranche do actual programa de ajuda à Grécia, sem se comprometerem com uma data para aprovar o novo pacote, a pressão sobre o país volta a aumentar.
Uma classificação de default abre uma nova "frente de guerra" para a Grécia, mas também para os detentores de dívida do país. De forma imediata, o BCE deixa de aceitar títulos de dívida grega como garantia de empréstimos contraídos pelos bancos junto da instituição, uma situação que afecta essencialmente os bancos gregos. Mas também os actuais detentores de dívida grega sofrem uma desvalorização imediata dos títulos que têm em carteira e podem ainda sofrer uma reavaliação de rating, em função do peso das obrigações gregas nas suas contas.

publicado em O Público

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