Ministro da Justiça diz que «é impossível» prevenir a violência contra povos indígenas

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, atribuiu à “imensidão do território brasileiro” a dificuldade de se combater a violência e as situações de risco contra povos indígenas em conflito com fazendeiros ou madeireiros no país e disse que “é impossível” para o Governo prevenir esses casos.
As afirmações de Cardozo foram feitas hoje, em São Paulo, quando confrontado com a campanha internacional que será lançada amanhã pela ONG Survival International, contra as ameaças relatadas à entidade pela tribo amazônica Awá.
Para o ministro, o conflito com os Awás não é o único. “Infelizmente temos muita violência em relação aos povos indígenas, e numa tal dimensão que é impossível, a qualquer governo, poder prevenir situações da forma como elas se colocam”, disse. “Temos muitos conflitos, mas temos a operação Defesa da Vida [que combate a violência no campo], com Polícias Federal, Rodoviária Federal e Força Nacional, em apoio a vários Estados do Norte do Brasil, só que o território brasileiro é imenso”, continuou.
Sobre a campanha da ONG, Cardozo sugeriu que ela seja “mais de conscientização, mais de mobilização da sociedade”, já que, segundo ele, “o Governo já está mobilizado e consciente dos problemas e fazendo aquilo que é possível”.
Apesar das tentativas da reportagem, o ministro não especificou, contudo, quais as acções pontuais que estarão a ser concertadas em defesa dos Awás.
“Não é só o caso dos Awás, mas também de índios no Mato Grosso; temos o desaparecimento de um cacique no Mato Grosso do Sul... É o Brasil inteiro que tem situações de conflito de terra. E quando se tem um processo de demarcação de terra indígena, as pessoas reagem de forma errada, violenta, só que temos feito o possível para combater isso”, rematou.

publicado no Portal UOL

Enquanto isso, o Mundo vai abrindo espaço à denúncia das ameaças a que os Awá estão expostos. Ontem mesmo, por exemplo, o The Guardian divulgou com bastante destaque um vídeo gravado por investigadores disfarçados que mostra enormes carregamentos ilegais de madeira a serem transportados por frotas de camiões para fora do território dos Awá. O jornal sublinha que a exploração atinge gravemente um povo que é considerado o mais ameaçado do Mundo e que tem visto as suas terras sistematicamente devastadas por projectos industriais e grandes fazendas de criação de gado. O The Guardian destaca ainda o facto da subsistência da tribo ser totalmente dependente da floresta e de esta se encontrar reduzida aos 355 índios espalhados pelas quatro comunidades da região do Maranhão.