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Índígenas iniciam a 2ª marcha contra estrada na Amazônia boliviana

foto de Aizar Raldes
O Conexão actualiza agora a informação que vem publicando sobre a frente de protesto indígena que segue na Amazônia boliviana. Em causa está a construção, pela empresa brasileira OAS, de uma estrada que cortará o Parque Nacional Isiboro Sécure, com um milhão de hectares, onde está situada a reserva natural de Tipnis.
Estudos citados pelos indígenas garantem que, se o projecto for adiante, dentro de 18 anos a estrada terá destruído mais de 600 mil hectares de floresta, ou seja, 65% da vegetação do Tipnis, produzindo um impacto devastador sobre a flora, fauna e vida das populações nativas.
Ontem, cerca de 500 indígenas partiram, finalmente, da cidade de Trinidad, capital da região de Beni, onde se concentravam há 48h, em direcção à capital La Paz, após uma missa na principal igreja da cidade e um comício na Praça de Armas. «Estamos emocionados com o início da marcha», confessou Lazaró Tacoo, um dos líderes do movimento, destacando que «participam irmãos indígenas de vários povos: guaranis, do Conamaq (aimaras) e do povo guarayo». Depois, caminharam juntos até ao povoado de Puerto Varadoros e cumpriram os primeiros 15 km do percurso total de 600 km que, dentro de 6 e 8 semanas, os levará a cidade de La Paz.
A marcha de luta já devia ter arrancado, não fora o boicote imposto pelos apoiantes do presidente Evo Morales, que bloquearam várias estradas para deter o avanço das tribos em protesto.

Boicotes e pressões para travar a marcha

Na Quarta-feira, o presidente da Confederação de Povos Indígenas do Oriente da Bolívia (Cidob), Adolfo Chávez, explicou que a caminhada iria sofrer um atraso por causa dos bloqueios e também porque o líder dos nativos do Tipnis, Fernando Vargas, aguardava a despistagem de uma suspeita de dengue. No compasso de espera pela recuperação de Vargas, os indígenas aproveitaram para aguardar a chegada de outros grupos ao Território Indígena Parque Nacional Isiboro Sécure (Tipnis). Ainda assim, Chávez não hesita em denunciar a pressão e acusa Morales de incentivar os seus partidários a barrar estradas e acessos, na tentativa de evitar a reedição da marcha que, em Outubro passado,
comprometeu aos olhos do Mundo a imagem de indigenista convicto e empenhado ambientalista que sempre pretendeu transmitir.
Perante a impossibilidade de chegar ao povoado de Chaparina, de onde tinham previsto partir nesta Quarta-feira, rumo a La Paz, o grupo decidiu que a marcha sairia de Trinidad, da mesma forma que a primeira, realizada entre Agosto e Outubro do ano passado.  A diferença é que em vez de 350 Km, o percurso terá agora quase 600 Km.

Governo de Morales volta a tremer

O Governo, claro, nega as denúncias. Numa colectiva de imprensa realizada no mesmo dia, o ministro da Presidência, Juan Ramón Quintana, afirmou estar a trabalhar para retirar os bloqueios na Amazônia. Quintana disse também que a marcha é um protesto social "legítimo", devendo como tal movimentar-se com liberdade. No entanto, nas últimas semanas, o próprio Morales criticou a marcha por diversas vezes, qualificando o protesto como «político» e alegando que apenas os líderes indígenas rejeitam a consulta popular sobre a construção de uma estrada, que  – defende – levará desenvolvimento à região e aos habitantes de todo o país.
Na sequência da marcha anterior dos povos indígenas, realizada pelo mesmo motivo em Outubro passado, o presidente Evo Morales viu-se obrigado a vetar a estrada que dividirá o Tipnis. Porém, semanas mais tarde, o seu Governo organizou uma passeata de apoio ao projecto, para dar suporte à consulta indígena que agora promove. O objectivo, defende o Governo, é determinar democraticamente se os nativos e outros povos das zonas vizinhas, além dos produtores de folha de coca no local, querem ou não a obra. Pelo meio, porém, vêm-se acumulando as denúncias de que Morales tem distribuído presentes e favores entre os habitantes do Parque Nacional, de modo a influenciar o seu voto.

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