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Dilma troça das eólicas - Texto

Dilma reuniu, finalmente e pela primeira vez, o Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas, ao qual, aliás, ela própria preside. Em um ano e quatro meses nunca o fizera. A sessão aconteceu só depois do texto de alteração ao Código Florestal ter já tramitado da Câmara para o Senado e a escassos três meses da realização da Rio+20.
A chama de esperança que poderia ter reacendido no debate político-ambiental brasileiro, bem como o engajamento mais amplo que poderia ter polarizado em torno do posicionamento do país, dentro e fora de fronteiras, ficaram largamente comprometidos pelo tom ligeiro que Dilma resolveu imprimir à sua intervenção na reunião. A abordagem dos temas saiu prejudicada pelo registo irónico e desajustado que adoptou. A experiência da presidente, no exercício de cargos anteriores, na área das energias teria justificado, no mínimo, a esgrima de argumentos melhores e, acima de tudo, mais solidamente fundamentados.
A impressão que fica é a de que Dilma reuniu o Fórum para matar dois coelhos de uma vez só. Por um lado aquietar o colectivo do Fórum pela indiferença a que era votado desde que fora eleita; por outro, aproveitar a ocasião para acantonar a ala ambientalista, que tanto incomodo tem causado ao seu Governo. A dificuldade que tem encontrado para constituir uma base de apoio à votação do Código Ambiental, ou a situação explosiva que se vive neste momento em várias hidrelétricas, do Jirau a Belo Monte, podem ajudar a explicar a postura acossada e trocista de Dilma, durante o Fórum.
As baterias que concentrou na defesa das fontes hidráulicas de energia e o desdém que reservou às alternativas eólica e solar, deixam um recado claro: as principais obras contidas na PAC são e serão determinantes para o Governo Dilma. A ridicularização das fontes de energia alternativa serviu para abrir um fosso na discussão e começar a erguer, em torno das hidrelétricas, uma barreira capaz de proteger Belo Monte do ataque generalizado. Além de tornar evidente que não tenciona recuar, o tom de Dilma não deixa antever grande oportunidade ao diálogo ou à escuta dos vários quadrantes que se opõem, por exemplo, ao gigante Belo Monte, o pilar mestre das grandes obras em jogo.
Em suma, e a avaliar pelos recados deixados durante a primeira reunião ordinária do Fórum Brasileiro de Mudanças Climáticas sob a regência de Dilma, aquilo que releva é a intenção de manter o braço de ferro com todos os que lutam contra a construção de hidrelétricas na Amazônia. Os argumentos, esses, são os de sempre: aumentar a oferta de energia, em nome do plano de desenvolvimento traçado para a região e do projecto de retirar as pessoas da pobreza.
Esquece Dilma que atacar quem defende uma solução contrária, como fez no Fórum, a afasta do modelo exemplar de actuação dialogante e integradora a que aspira e pretende ver coroado sob os auspícios da Rio+20. Pior: seguir cortando a direito, excluindo liminarmente outras propostas que conciliem desenvolvimento e respeito pelo meio ambiente, é demonstrar ao mundo uma intransigência que em nada abona ao ideal de sustentabilidade 

Posted by por AMC on 18:15. Filed under , , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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