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"Quem pesa mais, paga mais"

por Peter Singer

Estamos a ficar mais gordos. Na Austrália, nos Estados Unidos e em muitos outros países tornou-se comum ver pessoas tão gordas que bamboleiam em vez de andar. O aumento da obesidade é mais abrupto no mundo desenvolvido, mas está também a ocorrer nos países pobres e de rendimento médio.
O peso de uma pessoa só a ele ou a ela diz respeito? Devemos simplesmente tornar-nos mais tolerantes quanto à diversidade de formas corporais? Não me parece. A obesidade é um assunto ético, porque um aumento de peso em alguns impõe custos nos outros.
Estou a escrever isto num aeroporto. Uma franzina mulher asiática registou-se num voo com, calculo, cerca de 40 quilogramas (88 libras) de malas e caixas. Ela vai pagar a mais por exceder o peso permitido. Um homem que pese pelo menos 40 quilos a mais do que ela, mas cuja bagagem esteja dentro do limite, não paga nada. E no entanto, em termos do consumo de combustível do avião, não há diferença se o peso extra é relativo a bagagem ou a gordura corporal.
Tony Webber, um antigo economista-chefe para a transportadora aérea australiana Qantas, notou que, desde 2000, o peso médio dos passageiros adultos nos seus aviões aumentou dois quilos. Para um avião grande e moderno como o Airbus A380, isso significa que tem de ser consumido um acréscimo de combustível no valor de 472 dólares para um voo de Sydney para Londres. Se a transportadora aérea voar nessa rota em ambas as direcções três vezes por dia, no espaço de um ano gastará mais um milhão de dólares em combustível, ou, em margens correntes, cerca de 13% do lucro da transportadora em operar essa rota.
Webber sugere que as transportadoras aéreas definam um peso padrão para os passageiros, por exemplo, 75 quilos. Se um passageiro pesar 100 quilos, deverá ser-lhe cobrada uma sobretaxa para cobrir os custos extra de combustível. Para um passageiro que tenha 25 quilos a mais, a sobretaxa num bilhete de ida e volta entre Londres e Sidney seria de 29 dólares. Um passageiro que pesasse só 50 quilos teria um desconto do mesmo valor.
Um outro modo de atingir o mesmo objectivo seria definir um peso padrão para os passageiros e bagagem, e depois pedir às pessoas para subirem para a balança com a sua bagagem. Isso teria a vantagem de evitar o embaraço para aqueles que não desejam revelar o seu peso.
Amigos com quem discuto esta proposta costumam dizer que muitas pessoas obesas não conseguem evitar ter peso a mais – apenas têm um metabolismo diferente do resto de nós. Mas o ponto da sobretaxa para excesso de peso não é o de punir um pecado, independentemente de ser cobrado sobre a bagagem ou sobre os corpos. È um modo de recuperar das pessoas o verdadeiro custo de transportá-las para o seu destino, em vez de o impor aos outros passageiros. Voar é diferente de, digamos, cuidados de saúde. Não é um direito humano.
Um aumento na utilização do combustível para avião não é apenas uma questão de custo financeiro; também implica um custo ambiental, à medida que mais emissões de gases que contribuem para o efeito de estufa exacerbam o aquecimento global. É um exemplo menor de como o tamanho dos nossos concidadãos nos afecta a todos. Quando as pessoas ficam maiores e mais pesadas, menos delas cabem num autocarro ou num comboio, aumentando os custos dos transportes públicos. Os hospitais têm agora que encomendar camas e mesas de operação mais fortes, construir sanitários de tamanhos maiores e mesmo instalar frigoríficos de tamanhos maiores nas suas morgues – aumentando desta forma os seus custos.
Na verdade, a obesidade impõe um custo muito mais significativo em termos dos cuidados de saúde em sentido lato. No ano passado, a Society of Actuaries (Sociedade de Actuários, organização profissional americana – NdT) estimou que nos Estados Unidos e no Canadá, as pessoas obesas e com peso a mais eram responsáveis por 127 mil milhões de dólares em despesas adicionais com cuidados de saúde. Isso adiciona centenas de dólares aos custos anuais com cuidados de saúde dos contribuintes e dos que pagam seguros de saúde privados. O mesmo estudo indicou que os custos da baixa produtividade, associados aos que ainda trabalham e aos que não podem trabalhar de todo por causa da obesidade, totalizavam 115 mil milhões de dólares.Estes factos são suficientes para justificar políticas públicas que desencorajem o ganho de peso. Taxar alimentos que sejam desproporcionalmente implicados na obesidade – especialmente alimentos sem valor nutricional, como as bebidas açucaradas – ajudaria. Os proveitos gerados poderiam então ser usados para contrabalançar os custos extra que as pessoas com peso a mais impõem nos outros, e o maior custo destes alimentos poderia desencorajar o seu consumo por pessoas que estejam em risco de obesidade, que só é ultrapassada pelo uso do tabaco como maior causa evitável de morte.
Muitos de nós estão justamente preocupados sobre se o nosso planeta pode suportar uma população humana que ultrapassou os sete mil milhões. Mas devíamos pensar no tamanho da população humana não apenas em termos de números, mas também em termos da sua massa. Se valorizamos simultaneamente o bem-estar humano sustentável e o ambiente natural do nosso planeta, o meu peso – e o vosso – diz respeito a toda a gente.

Posted by por AMC on 12:19. Filed under , , . You can follow any responses to this entry through the RSS 2.0. Feel free to leave a response

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